Ainda me lembro da primeira vez que fiz essa pergunta. Estava ministrando uma aula sobre competências num MBA e lancei: se vocês tivessem que apostar quanto do êxito de um profissional está baseado em competências técnicas/cognitivas e quanto nas competências humanas (que alguns chamam de soft skills), o que vocês diriam? Algo perto da unanimidade apontou para uma faixa entre 60% e 80% na direção das competências humanas. Tive a oportunidade de fazer essa mesma pergunta dezenas de outras vezes em dezenas de pós- graduações, graduações e cursos executivos através da Ynner, empresa da qual sou sócio. As respostas apontam sempre nesta direção: uma predominância notável do impacto das competências humanas no sucesso de uma carreira.
Mas essa primeira pergunta é apenas um preâmbulo para a verdadeira provocação que quero fazer. Que também vem com um ponto de interrogação diante de si: o que faz a maioria das pessoas quando decide que é chegada a hora de se desenvolver para fortalecer ou acelerar a própria carreira? A resposta também obtive dos participantes das minha aulas, cursos e combinam também com as minhas observações constantes durante esses 23 anos que trabalho com desenvolvimento. Geralmente, os profissionais recorrem a instrumentos de aprendizados que são predominantemente desenhados para desenvolver competências técnicas e cognitivas como: pós-graduações, MBAs e cursos ligados a temas chamados “hard” que, diga-se, também têm a sua importância. A,final respondem por algo entre 20% e 40% do sucesso de um profissional.
Note que isso é um contrassenso que fica estampado na “cara” de todos que são conduzidos a essa reflexão. Semi boquiabertos e com o olhar parado, balançando a cabeça de formas engraçadas, as pessoas se dão conta que acreditam que o êxito em suas carreiras depende fortemente de competências humanas, enquanto elas focam a maior parte do seu esforço de desenvolvimento em competências técnicas e cognitivas.
Na prática, isso significa que alguém que faz um MBA de 600 horas, para manter a coerência com as próprias crenças deveria dedicar algo entre 800 a 1000 horas a atividades como coaching, mentoria, psicoterapia (isso mesmo, por que não?!), retiros de meditação, cursos e leituras de temas chamados soft.
A minha tranquilidade total para apontar esse caminho, vem não apenas das interações nos cursos e alguns bons estudos, mas ao que constato há muitos anos ao participar do maior congresso de Treinamento & Desenvolvimento do mundo na ATD International Conference & EXPO. No encerramento desses eventos aponto as principais tendências e recorrentemente a questão das competências humanas recebe enorme destaque em todo o mundo.
Então, encerro essa nossa reflexão sugerindo que, nesse começo de ano, ao pensar no desenvolvimento de competências que possam fazer a diferença para sua carreira, você esteja atento a temas como: comunicação, relacionamento interpessoal, inteligência emocional, colaboração, trabalho em equipe, capacidade de gerar engajamento, adaptabilidade e flexibilidade, criatividade, mentalidade de crescimento e etc. Ah! E se puder me fazer um favor, reveja o uso do termo Soft Skill porque traz uma conotação que enfraquece a percepção de importância desse conjunto de capacidades. A mim, me parece mais adequado: Competências Humanas – ou People Competences, se você for inclinado aos anglicismos, que às vezes parecem, mesmo, mais charmosos.