Sete em cada dez brasileiros têm um animal de estimação, e a maioria os considera parte da família, segundo dados da Petlove. Essa ligação emocional, fortalecida durante a pandemia, tem transformado o modo como as empresas enxergam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. O bem-estar dos colaboradores agora inclui o cuidado com os pets, que se tornaram parte essencial do cotidiano doméstico e emocional.
Nesse novo cenário, o benefício pet corporativo desponta como tendência crescente entre políticas de Recursos Humanos voltadas à qualidade de vida. O modelo se adapta às demandas contemporâneas, em que o trabalho híbrido e a valorização da saúde mental estão no centro das estratégias de engajamento. Ele vai além do simples “pet day” e inclui planos de saúde, licenças especiais e aplicativos de monitoramento.
Para especialistas, o avanço desse benefício reflete uma mudança cultural profunda nas empresas. A preocupação com os animais é vista como um símbolo de empatia organizacional e conexão emocional com os colaboradores. Pesquisas como a da MDS, apontam que reconhecer o cuidado com os pets impacta diretamente o clima organizacional. Além de ser um passo estratégico para construir ambientes de trabalho mais humanos, saudáveis e produtivos.
Adoção e saúde emocional na Dog Week

Na BeFly, ecossistema de turismo, o clima é de entusiasmo quando chega a Dog Week, segundo Renata Esteves, diretora de Gente & Gestão. A iniciativa transforma o escritório em um espaço de afeto e conexão, permitindo que colaboradores levem seus cães para o trabalho. Durante três dias, atividades de integração, palestras e feiras de adoção reforçam o compromisso da empresa com a saúde emocional e o bem-estar coletivo.
Renata afirma que “o pet no escritório é um símbolo de acolhimento, afeto e confiança”. Para ela, o benefício pet vai muito além do encantamento: ele expressa uma cultura corporativa que valoriza vínculos humanos e autenticidade. “Onde tem pet, tem alegria”, resume Renata, destacando como o convívio com os animais melhora o clima organizacional e estimula o engajamento.
A Dog Week também tem um viés social importante, de acordo com a executiva. A cada edição, a BeFly promove feiras de adoção de cães e gatos em parceria com ONGs, incentivando a responsabilidade e o impacto positivo na comunidade. “A energia que os pets trazem para o ambiente é contagiante”, comenta Priscila Moreno, do time de Benefícios. A ação traduz o propósito da empresa: cuidar de pessoas, fortalecer conexões e inspirar empatia.
Pet day como política permanente

A fintech Celero é um exemplo de empresa que transformou a convivência com pets em política oficial. O programa “Cãopanheiros de trabalho” permite que colaboradores levem seus cães ao escritório todos os dias. O que começou de forma espontânea, inspirado na cultura familiar da empresa, foi estruturado em 2025 com a mudança para a nova sede em São Paulo.
Com o crescimento da equipe, a Celero criou regras simples para garantir harmonia e bem-estar de todos, humanos e caninos. Há um limite de dois animais por dia, bem como cuidados de higiene e um grupo interno chamado “Logística Pet”, que organiza as visitas. O resultado é um espaço leve e colaborativo, no qual os pets se tornam verdadeiros embaixadores de alegria e integração.
Segundo João Betenheuzer, cofundador da Celero, “o objetivo é criar um ambiente genuinamente humano. Cuidar dos pets é viver nossos valores na prática”. Para ele, o programa vai muito além da alegria: traduz uma visão de empresa que acolhe integralmente seus colaboradores. O executivo reconhece que o clima mais descontraído aumentou o engajamento e que, “às vezes, bastam alguns latidos para fortalecer a cultura organizacional”.
Fortalecimento de cultura com dias pet-friendly

A Roche Brasil instituiu o Dog Day em seu calendário interno. Em sua quarta edição, que ocorreu no mês de agosto, o evento permite que os colaboradores levem seus cães ao escritório e compartilhem momentos de convivência, leveza e aprendizado.
A iniciativa integra a agenda de saúde emocional da empresa e reforça o compromisso com um ambiente de trabalho mais humano e empático. “Estimular a presença dos cães no local de trabalho tem impacto direto no bem-estar dos colaboradores”, explica Vivian Queiroz de Oliveira, gerente de Saúde, Segurança, Meio-Ambiente e Engenharia. A programação inclui palestras, recreação, rodas de conversa e ações solidárias, como doação de ração e cobertores a abrigos de animais. Tudo é pensado para conectar propósito, afeto e conscientização social.
Durante o Dog Day, as regras são claras e o cuidado é prioridade. As inscrições exigem comprovação de vacinação, vermifugação e comportamento social adequado dos animais. “A presença dos cães transforma o ambiente, gera sorrisos espontâneos e desperta sensações de pertencimento”, conta Renata Nakamura, compliance officer da Roche. O resultado é um escritório mais leve, colaborativo e cheio de energia positiva.
Do bem-estar animal ao employer branding
Pesquisas da American Psychological Association e do International Journal of Environmental Research and Public Health confirmam que a convivência com animais reduz estresse e ansiedade. Segundo esses estudos, a liberação de hormônios como serotonina e oxitocina reforça vínculos e melhora o humor. No ambiente de trabalho, esse efeito se traduz em maior produtividade, empatia e satisfação geral das equipes.
De acordo com o estudo da MDS, empresas que reconhecem esse potencial utilizam o benefício pet como uma ferramenta de marca empregadora. Os dados apontam que 6% das companhias brasileiras já firmaram parcerias com clínicas veterinárias, e 10% oferecem descontos em produtos e serviços. Entre millennials, 41% afirmam preferir empresas pet-friendly, o que demonstra o valor simbólico e emocional dessa prática.
