Nos últimos anos, palavras como humanização, empatia, segurança psicológica e reconhecimento têm se tornado cada vez mais presentes nos discursos empresariais fundamentais para criar um ambiente de trabalho acolhedor e motivador. A humanização envolve entender e valorizar as necessidades dos colaboradores, estabelecendo um clima respeitoso e acolhedor. Já a empatia nos leva a nos colocar no lugar dos outros, buscando entender suas dificuldades e oferecer ajuda. Muitas organizações ainda enfrentam o desafio de transformar esses conceitos em práticas reais, que promovam uma cultura de bem-estar e equilíbrio no ambiente de trabalho. O assunto foi discutido no 3º Fórum Melhor RH Felicidade Corporativa, promovido pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH.
A segurança psicológica é fundamental para que os colaboradores se sintam confortáveis em compartilhar suas opiniões, sugerir ideias e até mesmo cometer erros, sem o receio de serem punidos ou julgados. Essa atmosfera acolhedora estimula a criatividade e impulsiona o desenvolvimento pessoal.
Além disso, o reconhecimento é uma prática poderosa na motivação dos funcionários, pois valoriza o esforço e os resultados alcançados por eles. Quando um colaborador é reconhecido, ele se sente parte integrante da empresa, o que gera uma maior satisfação com o trabalho realizado.
Durante o painel “O novo tempo do trabalho: Como promover uma cultura de equilíbrio e mostrar na prática que o cuidado não é apenas discurso”, Alain Rosolino, Head de Pessoas e Organização da Enel Brasil, Daniel Arouca, diretor de Recursos Humanos da Colgate-Palmolive, e Maurício Chiesa Carvalho, gerente de Recursos Humanos e Responsabilidade Social da Tamarana Tecnologia e Soluções Ambientais, compartilharam seus insights sobre as ações práticas para buscar a flexibilização de rotinas e relações. Eles também abordaram o que tem dado certo nos processos de mudança, as iniciativas que os times reconhecem como verdadeiras e como tornar essas mudanças parte do cotidiano.
Liderança é essencial para o um novo tempo
Para promover um ambiente de trabalho saudável e equilibrado, é fundamental que tanto a liderança quanto a organização como um todo estejam comprometidos. Nesse sentido, é importante estabelecer políticas e programas que valorizem a humanização, a empatia, a segurança psicológica e o reconhecimento, garantindo que sejam implementados de forma consistente e contínua.
Construir uma cultura de bem-estar e equilíbrio no local de trabalho demanda tempo, esforço e uma abordagem abrangente. No entanto, os benefícios são inúmeros e impactam diretamente o crescimento e o sucesso da organização a longo prazo.
Daniel Arouca destaca a importância do papel das lideranças nesse processo. Segundo ele, as lideranças têm um papel fundamental na promoção de uma cultura de bem-estar, servindo como modelos e influenciadores positivos para os colaboradores. “Para uma cultura de satisfação, é preciso que tenha uma atmosfera positiva e líderes que sejam os verdadeiros transformadores”.
No entanto, Arouca acredita que tanto o RH quanto o corpo diretivo acabam perdendo credibilidade com as ações que promovem o bem-estar apenas como uma estratégia de marketing ou visando vantagens competitivas. Ele ressalta que é essencial que as ações sejam genuínas, baseadas em princípios sólidos e estejam realmente alinhadas com os valores da organização. “É preciso haver equilíbrio entre o discurso e as ações, e para propagar a mensagem é preciso de ações que corroboram com o discurso”, enfatiza Arouca.
Maurício também compartilha essa opinião, mencionando a “gourmetização” do Recursos Humanos e a processualização adotada pela área. Para ele, quanto mais burocracia, menos humanização. “Nunca tivemos tantos estudos sobre felicidade e propósitos das organizações, mas temos mais adoecimento”.
Para ele, é importante que as lideranças estejam dispostas a ouvir e entender as necessidades e preocupações dos colaboradores, buscando soluções que promovam um ambiente de trabalho agradável e motivador. Além disso, destaca a importância de incentivar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Alain destaca que para haver um ambiente de trabalho seguro, os líderes precisam contribuir. Ele ressalta que o bem-estar e a motivação dos colaboradores são fundamentais para a produtividade e a qualidade dos resultados alcançados. Além disso, Alain enfatiza que a processualização das ações e dos procedimentos internos também desempenha um papel crucial nesse contexto. “O bem-estar promove motivação e essas duas dimensões juntas alimentam a produtividade nas empresas”, analisa Alain.
Implantação de programas conta pontos
A implementação de programas e iniciativas que promovam o cuidado emocional e o desenvolvimento pessoal dos colaboradores é essencial para empresas que desejam estabelecer um ambiente de trabalho saudável, motivador e produtivo. Essas ações são fundamentais para fortalecer o bem-estar mental dos funcionários, reduzir o nível de estresse e aumentar a satisfação no trabalho.
De acordo com um estudo publicado em 2020 no periódico científico “Journal of Occupational Health Psychology”, foram examinados a relação entre o cuidado emocional no ambiente de trabalho e o bem-estar dos funcionários. Os resultados mostraram que as empresas que implementaram programas de apoio emocional, como sessões de aconselhamento, treinamentos de habilidades emocionais e práticas de autocuidado, experimentaram melhorias significativas no bem-estar emocional e na satisfação no trabalho dos colaboradores. Além disso, essas empresas também relataram uma redução no absenteísmo e no índice de rotatividade de funcionários.
Daniel destaca que as empresas precisam criar incentivos para manter os níveis de bem-estar dos colaboradores ao longo do tempo. Isso envolve a criação de um ambiente de trabalho que motive e recompense os funcionários pelo seu desempenho e contribuições.
Uma forma de incentivar o bem-estar dos colaboradores é por meio de programas de reconhecimento e recompensas. Isso pode incluir prêmios, bônus, promoções e outras formas de reconhecimento pelos bons resultados obtidos. Além disso, oferecer benefícios e vantagens extras, como planos de saúde abrangentes, horários flexíveis e políticas de licença parental generosas, também é uma maneira eficaz de promover o bem-estar e a satisfação dos funcionários.
Alain destacou que no pós-pandemia as preocupações com as jornadas de trabalho tornaram-se mais intensas e relevantes do que nunca. Com o aumento do trabalho remoto e a consequente quebra das barreiras entre vida pessoal e profissional, muitos trabalhadores têm enfrentado dificuldades para estabelecer limites saudáveis e equilibrar suas responsabilidades laborais com as pessoais. “Implantamos uma política de trabalho que os colaboradores possam manter variadas as horas de trabalho durante a semana”.
Para Alain, é crucial que as empresas se atentem a essas preocupações e adotem medidas efetivas para promover um ambiente de trabalho saudável e equilibrado. Isso inclui estabelecer políticas de flexibilidade horária, permitir pausas durante o dia, incentivar o uso de ferramentas de gestão do tempo e conscientizar os funcionários sobre a importância de cuidar da saúde física e mental.
Os speaker também destacaram que a comunicação tem papel fundamental na promoção e divulgação de práticas que promovam o bem-estar nas companhias. Através da comunicação eficiente, é possível disseminar informações sobre o cuidado com a saúde mental dos colaboradores, a importância da busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e a implementação de políticas de inclusão e diversidade nas organizações. “
Além disso, a comunicação tem o poder de conscientizar e sensibilizar a todos sobre a importância do respeito mútuo, da empatia e da promoção de um ambiente de trabalho saudável e acolhedor. Por meio de campanhas de comunicação interna e externa, as empresas podem transmitir seus valores e princípios, incentivando a adoção de práticas benéficas para o bem-estar coletivo.
Os participantes do painel ressaltaram que a comunicação deve ser constante e transparente, permitindo que todos os membros da organização estejam a par das ações e iniciativas promovidas pela empresa para promover o bem-estar. Através de canais de comunicação abertos, como intranets, redes sociais corporativas e newsletters, os colaboradores podem estar atualizados e envolvidos nas ações que visam o seu bem-estar.
Responsabilidade individual?
No painel “Minha felicidade, minha responsabilidade – O autoconhecimento (e outros instrumentos) para encontrar a satisfação”, com Wellington Silvério, Diretor de Recursos Humanos para a América Latina da John Deere, Ana Leticia Feller, Diretora de Gestão Empresarial da Companhia Paranaense de Energia – Copel, e Vivian de Souza Vieira Machado, Head de Cultura e Engajamento da DIA Brasil, fica claro o papel da automotivação e a responsabilidade própria nesse cenário.
Para Ana Leticia, “é sempre muito perigoso a gente definir a um único ator a questão da felicidade. Seja a minha felicidade individual ou a que a gente fala muito que é a felicidade corporativa. Que é aquilo a gente busca internamente definir como algo importante para a organização”, diz a executiva. E completa que na visão dela, cabe à organização como um todo garantir e dar ferramentas para que seja possível oferecer um ambiente sadio e que traga felicidade para as pessoas. Para ela, a liderança tem um papel muito importante no processo para que as pessoas possam se sentir seguras na busca por essa felicidade individual e interna, mas também é uma responsabilidade da própria pessoa que precisam conectar os seus princípios com o propósito da organização.
Ou seja, a executiva coloca os 3 olhares como pilares para a busca da felicidade corporativa, o olhar do indivíduo, do colaborador que precisa ter a autorresponsabilidade pela sua felicidade, em conexão com o olhar da organização que proporcione ambiente favorável à busca da felicidade e uma terceira visão que é a do líder, que entrelaça as outras duas.
Silvério contribui com essas visões e levanta a importância de zelar por um ambiente saudável, combatendo o ambiente tóxico, falando do ponto de vista da corporação. Ao falar do papel do líder, ele enfatiza como a liderança precisa ser cada vez mais colaborativa. Para ele, aquela mentalidade comando versus controle não cabe mais no universo atual do trabalho. “Hoje o papel do líder é servidor e para ser um líder servidor, nós precisamos relembrar aqui um tema importante que é o da empatia. Um líder com a capacidade de colocar-se no lugar do outro e com isso também contribuir para um ambiente de trabalho sano, do ponto de vista emocional, um ambiente onde a segurança psicológica seja o que direciona as relações”, avalia o executivo.
E ele ainda complementa o raciocínio, também menciona que a auto responsabilidade do colaborador pela própria felicidade é essencial e com isso, assumir o protagonismo pela própria carreira, pela vida e por consequência, na promoção de momentos felizes. “Na minha crença, felicidade não é um estado. Você não vai viver eternamente na felicidade. A felicidade são momentos e a nossa responsabilidade como seres humanos, como organização e como líderes é promover a maior quantidade possível de momentos felizes no ambiente organizacional”, comenta Silvério.
“Felizes e inspiradores, se possível também. Acho que isso muda muita coisa. A gente sai do patamar comando e controle e a gente passa a de fato criar a nossa felicidade, isso é a parte de nosso protagonismo”, contribui Vivian e ainda convida os participantes do painel a falar um pouco sobre as ações que suas companhias fazem para promover a felicidade corporativa.
Ana Leticia Feller conta que na Copel há incentivo para que a liderança exerça a escuta ativa de sua equipe, de empatia e de construção de confiança entre líder e liderado. A empresa enfatiza que o líder tem que ser um agente de desenvolvimento dos colaboradores. Além disso, ela conta que revisitaram o Programa de Qualidade de Vida trabalhando um ponto essencial que cresceu muito no pós pandemia, mas que a empresa já tinha no radar que é a questão da saúde psico emocional.
Silvério também conta sobre os projetos da John Deere com muitas ações integradas, desde Yoga tanto no trabalho quanto de forma virtual, até psicólogos dentro de cada uma das unidades por toda a América Latina para um acolhimento no trato do dia a dia. “Como organização, uma ação que temos feito é reconhecer as emoções no ambiente de trabalho”, enfatiza ele. E isso faz toda a diferença.
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(Com reportagem do Portal da Comunicação)
Os dois dias do 3º Fórum Felicidade Corporativa estão disponíveis no You Tube da Melhor RH, totalmente gratuito, acesse aqui e aqui.