Um futuro dicotômico; um presente e um passado que os acompanham com o mesmo predicado. Penso na máxima: como querer resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa? Não bastasse a falta de engajamento por um ensino melhor, a pandemia chegou para escancarar e agravar o que antes já era alarmante.
Segundo o Ministério da Educação, em 2021 apenas 57% dos jovens do Ensino Médio apresentaram performance básica em Língua Portuguesa e 27% em Matemática. Para piorar, a taxa de abandono escolar mais que duplicou e a de reprovação quase dobrou, apesar de um sistema falho de avaliação que promove a aprovação, quase compulsória.
Durante a pandemia, nosso sistema educacional público, já “sofrível”, não foi capaz de proporcionar à nossa juventude o mínimo de preparo e apoio ao longo deste período difícil. Ao fechar os olhos para o preparo dos jovens entre 15 e 18 anos, abriu-se um abismo ainda maior entre eles e a qualificação profissional necessária exigida pelo mercado de trabalho brasileiro.As empresas já percebem o problema e passarão a senti-lo em proporções cada vez maiores.
As soluções práticas – a contratação de mão-de-obra qualificada – podem encontrar dificuldades em orquestrar questões como essa e o cumprimento de diretrizes de políticas de ESG. O resultado seria catastrófico e contrário a todo o esforço das corporações dos últimos anos, em legitimar e fazer acontecer, de fato, os avanços sociais e econômicos fundamentais para uma sociedade mais igualitária. Mas, afinal, o que podemos fazer para melhorar este cenário?
Acredito que problemas complexos nunca têm soluções mágicas ou simplistas. E, diante de mais de 20 anos de atuação neste mercado, sei que educação e preparação são questões diárias, de bases sólidas construídas, que garantam a sustentabilidade de tudo que vem pela frente.
Não vejo outra solução que não seja investir naquilo que ficou tão evidente estar faltando. Seria preciso – e precioso – que nosso Ministério da Educação e as Secretarias de Estado tivessem, de forma emergencial, promovessem programas básicos de reforço em português, matemática e cálculo, entre outros pontos, para esta juventude já formada, que agora está com diploma do Ensino Médio nas mãos, mas sem formação consistente. Um eventual “novo semestre” a todos, que pudesse, de forma intensiva, recuperar um pouco do que foi perdido nos últimos dois anos – para não dizer mais.
Não podemos deixar uma geração inteira perdida ‘apenas’ porque já se formaram. O impacto a médio e longo prazos será terrível, pois a trajetória de um jovem, que começa agora no mercado de trabalho, ainda tem um longo caminho a percorrer.
Enquanto isso não ocorre – se é que vai acontecer – precisamos, enquanto sociedade civil, nos unir e conseguir dar enorme luz e fomento a todos os programas de formação e apoio a jovens pós-ensino médio, que busquem suprir esta lacuna. Sem o básico bem feito, não há como se falar em mão- de- obra qualificada.
A acentuada falta de qualificação na base, pode fazer todo um país retroceder nos importantes e batalhados avanços no que tange a oportunidades, diversidade, inclusão socioeconômica, dentre tantas outras lutas. Não são só os jovens que perdem. Perdem todos. Perde uma nação.