Carreira e Educação

Os mesmos vícios

de Redação em 12 de setembro de 2014
Eduardo Carmello / Crédito:Gustavo Morita
Carmello, da Enthusiasmos: mudar a forma de apresentar o conhecimento / Crédito: Gustavo Morita

O Brasil atualmente ocupa a penúltima posição, à frente somente do México em ranking recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia a educação em 36 países considerando critérios como o desempenho dos alunos no Pisa, a média de anos que os alunos passam na escola e a porcentagem da população que está cursando ensino superior.

As conhecidas deficiências dos ensinos fundamental, médio e superior do Brasil resultam em profissionais pouco qualificados, o que impõe às empresas a necessidade de treinar e qualificar empregados. Mas como as empresas estão se saindo nessa missão educacional? Segundo Eduardo Carmello, diretor da Entheusiasmos, empresa especializada em formação de liderança, de modo geral as empresas estão cometendo os mesmos erros das escolas tradicionais.

Aula chata
“Uma das queixas dos alunos do ensino fundamental brasileiro é de que a escola é chata. Isso se deve, em parte, a metodologias de ensino em que os professores despejam conteúdos sobre os alunos em um processo contínuo de transmissão de conhecimento praticado há séculos e que hoje esbarra no fato de que há mil formas mais lúdicas e interativas de aprender, que são mais interessantes para os estudantes”, diz Carmello. “Nas empresas, vivemos o mesmo problema: as áreas de recursos humanos contratam cursos e treinamentos que despejam sobre os empregados ‘conhecimentos’ na forma de conteúdos sistematizados por consultores em apresentações, apostilas e até livros. A educação corporativa repete os mesmos vícios da educação formal e, por isso, tem gerado resultados desalentadores”, acrescenta. Para Carmello, muitos empregados já não aguentam mais cursos pasteurizados, ministrados por meio de palestras, sem que eles tenham sido consultados sobre a importância da informação que estão recebendo.

De acordo com a avaliação do diretor da Entheusiasmos, muitos executivos de empresas querem ter maior controle sobre seus processos de aprendizado e qualificação, o que exigiria que as áreas de recursos humanos, que contratam esses serviços, escutem mais os profissionais para os quais o curso se destina. “É incrível, em plena era digital, com a consolidação das redes sociais, dos vídeos e dos jogos eletrônicos, que os cursos de formação e qualificação nas empresas ainda sejam ministrados como nas escolas tradicionais, com um quadro branco substituindo uma lousa, associado à figura de um consultor ou professor que vai jogando conteúdos e conteúdos sem saber exatamente com quem está falando”, critica Carmello, acrescentando que é um grande equívoco tratar todos os colaboradores, até mesmo os que estão em cargos de liderança, da mesma forma.

A solução ideal, explica Carmello, é tornar o executivo parte ativa na sua formação, convidando-o a explicitar de que tipo de curso necessita e como deseja realizar esse aprendizado. Para o consultor, aqueles cursos longos, que tiram os executivos do trabalho e despejam conteúdo igual para todo mundo, estão destinados ao fracasso.

“Quando o próprio executivo define o que necessita aprender e como ele quer esse aprendizado, que pode ser por meio de aulas de duas horas, em vez de longas apresentações, a eficácia do treinamento e da qualificação muda radicalmente. Há profissionais que gostam de conteúdos mais práticos, mais diretos, realizados até no próprio local de trabalho. Há outros que precisam de dados mais teóricos, além de um debate mais amplo com o orientador. O fato que poucas empresas já perceberam é que as pessoas aprendem de modo diferente e, se queremos que o aprendizado tenha sucesso, é preciso respeitar essas diferenças”, alerta Carmello.

Aplicativo
Para Carmello, se as escolas e as empresas não estão conseguindo se entender com alunos e profissionais, o futuro reserva um estranhamento ainda maior. “Em breve, vamos ver alunos e profissionais desenvolvendo aplicativos que vão ajudá-los a aprender melhor”, diz. E ele dá um exemplo: “Imagine um aplicativo que ajuda um profissional de marketing a receber os mais atualizados vídeos e artigos sobre marketing digital diretamente no seu celular. Para esse tipo de aluno, os conteúdos tradicionais, ministrados na forma convencional, não vão ter eficácia alguma, serão chatos e dispersivos”, conta. “A grande questão que essa realidade nos coloca é: os professores, consultores e orientadores do aprendizado corporativo estão preparados para essa mudança radical na forma de aprendizado?”, questiona.

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