A pandemia atingiu de forma contundente empresas e indivíduos em vários aspectos, entre eles o financeiro. A pesquisa “Estresse Financeiro do Brasileiro”, realizada pela Onze, empresa de previdência privada digital, com 1.535 pessoas com emprego formal, revela que a maioria delas (71%) considera que problemas financeiros são a principal fonte de preocupação. Em seguida, vêm os temas saúde, família, trabalho, violência e política.
O levantamento mostra que, entre as pessoas que apontam a situação financeira como maior problema, 45% tem insônia devido aos problemas; 35% perdem o foco durante o trabalho; 25% resolvem pendências pessoais durante o trabalho; 25% ficam mal humorados e se desentendem com a família e 14% ficam de mau humor e impacientes com os colegas ao longo do dia.
“Dinheiro, principalmente quando mal administrado, tira as pessoas do foco principal de suas vidas. É isso que observamos e que não queremos mais que aconteça. O melhor jeito para evitar essa situação é falar sobre dinheiro”, afirma o CEO da Onze, Antonio Rocha.
Dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), mostram que o percentual de famílias que relataram ter dívidas alcançou 67,5% em agosto de 2020, a maior proporção da série histórica.
“Problemas de saúde financeira trazem transtornos significativos para a performance no dia a dia. Um funcionário insatisfeito com o que ganha pode acabar trocando a empresa por outra às vezes por uma diferença de valor muito pequena. A organização acaba então perdendo esse funcionário por uma questão de saúde financeira”, relata Rocha.
É um costume dizer que o brasileiro não faz poupança. No entanto, há razões de natureza prática que justificam essa postura. É isso que afirma Reinaldo Domingos, presidente da ABEFIN (Associação Brasileira de Educadores Financeiros).
“Um poder de compra menor gera menos capacidade de poupança e o que temos visto é que as reposições salariais frutos de dissídios coletivos normalmente não repõem o poder de compra dos trabalhadores. O custo dos produtos sobe mais que a reposição e essa disparidade causa uma redução da capacidade de compra das pessoas”, defende.
Para Domingos, as empresas priorizam treinamentos técnicos e não focam na promoção de programas de educação financeira para seus colaboradores. A ideia também é defendida pelo executivo da Onze que afirma que junto aos planos de previdência oferecidos por sua empresa também é ofertado como parte do serviço um programa de saúde financeira.
“Nós temos três pontos nesse programa. O primeiro é um check-up regular para todos os funcionários das organizações para identificar quais são os problemas de ordem financeira que os afetam. O segundo são consultas com nossos assessores financeiros, como uma espécie de ‘telemedicina’ financeira. O último ponto é que disponibilizamos uma plataforma de conteúdos com vídeos falando sobre finanças pessoais. Fazemos uma curadoria de conteúdo do que já existe e disponibilizamos essas informações”, explica.
O papel do RH
pesquisa de 2018 realizada pela Unicamp, ABEFIN e o Instituto Axxus, revelou que 96% dos profissionais de RH entrevistados acreditam que colaboradores com mais dificuldades financeiras são menos produtivos. Além disso, 87% das empresas afirmaram desconhecer a realidade financeira dos funcionários.
O estudo revelou que apenas 16% dos colaboradores são capacitados financeiramente, ou seja, conseguem pagar suas contas com a remuneração mensal e planejam seus gastos com antecedência. Por outro lado, 84% dos entrevistados enfrentam dificuldades para lidar com o dinheiro, sofrem prejuízos ou não entendem de finanças.
Outra informação revelada pelo levantamento indica que mais da metade das empresas (56%) já realizaram ações voltadas à educação financeira e mesmo essas sendo pontuais, 94% perceberam melhorias nos resultados e que os colaboradores superaram as dificuldades financeiras.
“O que precisa acontecer é que o funcionário procure o RH da sua empresa e diga que precisa de educação financeira”, diz Domingos. Para isso, é preciso que o colaborador tenha abertura para poder comunicar suas necessidades sem ser constrangido. (por Raul Galhardi)