Pesquisa

28% das mulheres acreditam que a carga de trabalho afeta sua saúde mental

Pesquisa mostra como os colaboradores enxergam cultura organizacional e saúde mental nas companhias em que trabalham

de Redação em 3 de outubro de 2024
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Uma pesquisa realizada pela Newa, consultoria de impacto social, em parceria com a Opinion Box, empresa especializada em tecnologia de pesquisa de mercado, e a AGC, consultoria +em cultura, diversidade, equidade e comunicação nas empresas, revela como colaboradores enxergam a cultura organizacional e as ações relativas à saúde mental de maneiras distintas. O estudo tem como objetivo desmistificar essas temáticas e auxiliar as organizações na criação de um ambiente seguro e estruturado. Além disso, a pesquisa mostra que as percepções sobre a saúde mental variam entre as pessoas que se autodeclaram brancas, pretas e pardas e entre gêneros. O levantamento foi realizado entre 5 e 13 de agosto de 2024, com a participação de 321 pessoas de todo o Brasil, com idade a partir de 18 anos, apresentando uma margem de erro de 5,5 pontos percentuais.

De acordo com Carine Roos, fundadora e CEO da Newa, “os dados mostram que, enquanto os homens tendem a enxergar a cultura organizacional de forma mais positiva no que diz respeito à saúde mental, muitos ainda se veem presos aos estereótipos que associam buscar apoio emocional à fraqueza. O machismo estrutural reforça a ideia de que homens devem ser sempre fortes, não demonstrar vulnerabilidade e evitar falar sobre suas emoções, o que dificulta o acesso ao cuidado”. Segundo o executivo, “romper com esses estereótipos e incluir os homens de forma mais ativa nessas discussões é essencial para construir ambientes corporativos mais saudáveis e equilibrados para todas as pessoas”.

Apoio à saúde mental e equilíbrio entre vida pessoal e profissional

A pesquisa também revela que 25,9% dos profissionais sentem que a cultura de suas organizações não oferece apoio em relação à saúde mental. Carine destaca que “no dia a dia vemos o que esse estudo comprova: uma série de desafios fundamentais que as mulheres enfrentam no ambiente corporativo. Para mulheres negras, esses obstáculos são ainda mais complexos, envolvendo a sobreposição de discriminação de gênero e raça. Elas frequentemente sofrem com a falta de reconhecimento e valorização, não sendo vistas ou respeitadas em sua totalidade como profissionais e indivíduos. A falta de apoio por parte de líderes agrava essa situação, criando um ambiente em que suas necessidades emocionais e profissionais são frequentemente ignoradas.”

Ainda segundo a especialista, essa realidade resulta em uma pressão desproporcional, especialmente sobre as mães negras, que carregam o peso de expectativas profissionais e pessoais sem o suporte adequado. “Elas enfrentam a escassez de oportunidades de promoção e têm acesso limitado a recursos adequados de saúde mental, tornando ainda mais difícil conciliar suas várias responsabilidades”, complementa Carine.

O estudo também revela uma disparidade significativa na percepção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Enquanto 31,9% dos homens acreditam que esse equilíbrio é respeitado em suas organizações, apenas 24,2% das mulheres compartilham dessa visão. Carine atribui essa diferença à ‘tripla jornada’, na qual as mulheres são forçadas a dividir seu tempo e energia entre as demandas profissionais e as múltiplas responsabilidades de cuidado em casa. “31,7% das mulheres entrevistadas se consideram as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas, enquanto apenas 25% dos homens afirmam contribuir ocasionalmente com essas atividades. Esse desequilíbrio não apenas aumenta a carga mental sobre as mulheres, como reflete a desigualdade de gênero nas expectativas sociais e corporativas sobre quem deve assumir as responsabilidades de cuidado.”

Percepções versus gênero

Os dados também indicam uma preocupação significativa entre os homens: 31,3% afirmaram que nunca buscaram nem considerariam procurar ajuda psicológica para lidar com questões relacionadas ao trabalho. Além disso, 78,1% relataram que nunca tiraram licença médica por motivos de saúde mental, alegando nunca ter sentido necessidade. Carine comenta: “A resistência em buscar apoio psicológico e a negação da necessidade de licença médica mostram a urgência de desconstruir estigmas e criar um ambiente mais acolhedor, onde o cuidado com a mente seja valorizado da mesma forma que o cuidado com o corpo.”

A pesquisa também mostra que as mulheres percebem mais obstáculos no ambiente de trabalho do que os homens. Enquanto 26,7% delas afirmaram que existem diferenças significativas nos desafios enfrentados por homens e mulheres, apenas 15,6% dos homens concordaram com essa percepção. Essa disparidade é atribuída a fatores como machismo e racismo institucionais, discriminação, desigualdade salarial e a falta de flexibilidade e benefícios pensados para atender às necessidades específicas das mulheres.

Carine analisa esses dados e aponta que o público feminino negro enfrenta uma sobreposição da discriminação de gênero e raça, além de uma preferência por homens brancos em posições de liderança. “A falta de oportunidades de promoção e o favorecimento de homens brancos também são recorrentes, assim como a ausência de informações e de acesso a suporte adequado para a saúde mental. Esses obstáculos reforçam a necessidade urgente de mudanças estruturais no ambiente corporativo para promover uma verdadeira equidade”, enfatiza.

Carga de trabalho contribui

Ao investigar como a carga de trabalho afeta a saúde mental, 28% das mulheres relataram um impacto negativo, em comparação com apenas 16,9% dos homens. Entre pessoas pretas e pardas, 13,5% afirmaram que a jornada de trabalho afeta sua saúde mental de maneira muito negativa, em contraste com 11,4% entre pessoas brancas. Esses dados indicam que o impacto da carga de trabalho é uma questão que envolve não apenas gênero, mas também raça, refletindo desigualdades estruturais que influenciam diretamente o bem-estar no ambiente corporativo.

Comunicação interna e trabalho híbrido em xeque

Sobre a comunicação interna das empresas em relação à saúde mental, 35% dos homens a classificaram como “boa”, enquanto 29,2% das mulheres se mostraram insatisfeitas, descrevendo-a como “regular”. Quanto ao modelo de trabalho, 34,8% dos participantes trabalham pelo menos um dia da semana em casa. Dentre esses, 57,14% são brancos e apenas 36,61% são negros. “Essa discrepância indica que pessoas negras têm menos acesso a políticas de home office, o que pode estar relacionado ao fato de que estão mais concentradas em funções operacionais que exigem presença física”, ressalta Carine.

Além disso, 83,04% das pessoas que trabalham remotamente avaliam o formato como positivo ou muito positivo, sublinhando a importância dessas políticas para o bem-estar dos trabalhadores. Entre os que aprovam o home office, 49,1% são mulheres e 33,9% são homens, destacando como a flexibilidade no trabalho é crucial para as mulheres, que muitas vezes assumem a maior parte das responsabilidades de cuidado. Esses dados reforçam a relevância de políticas de flexibilidade no trabalho, não apenas para melhorar a qualidade de vida das mulheres, mas também para garantir maior inclusão de pessoas negras em cargos estratégicos, superando barreiras de discriminação que frequentemente limitam seu acesso a oportunidades de trabalho remoto.

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