Adicione uma boa dose de pessoas diversas e engajadas em um ambiente livre para criar. Misture com processos estruturados na medida certa – definidos, mas flexíveis o bastante para não amarrar as ideias. Por fim, tempere com tecnologia de ponta e disposição para fazer diferente, mexa tudo delicadamente para incorporar à rotina e voilà: está pronto o mais puro suco da cultura de inovação. Nessa receita, o ingrediente principal são as pessoas, um dos principais pilares da inovação na área de RH, mas não o único. O segredo dessa receita está nessa combinação estratégica entre gente e gestão, tecnologia e processos, algo que, se bem-feito, é capaz de transformar boas ideias em resultados reais dentro das organizações.
Sejamos sinceros, quando pensamos em inovação em gestão de pessoas, logo vem à mente imagens de dashboards reluzentes, ferramentas digitais e plataformas que conectam equipes inteiras. Entretanto, antes de cogitar a implantação de tecnologias complexas ou processos elaborados, é preciso olhar para quem realmente faz a inovação acontecer: as pessoas. São elas um dos pilares mais estratégicos da inovação e merecedoras de todo o protagonismo que o RH pode proporcionar.
Para Vivian Broge, vice-presidente de Relações Humanas e Marketing da TOTVS, as mudanças – sejam elas disruptivas ou incrementais – são produto direto da criatividade humana. “Práticas inovadoras não são apenas aquelas que envolvem tecnologia. A inovação surge a partir de um espaço seguro para fomentar novas ideias e soluções criativas para diferentes desafios. Então, para mim, a inovação nasce das pessoas”, reflete.

Pessoas no centro: o que realmente significa inovar?
Essa visão reforça um ponto óbvio, mas central nesse debate: tecnologia e processos fazem muito pouco pela inovação sem a contribuição dos colaboradores. Como ela bem lembra, é a combinação desses três pilares que realmente potencializa a inovação no RH. “A tecnologia sozinha não gera inovação. É preciso inseri-la no dia a dia da empresa, na cultura, para que os resultados sejam substanciais”, pontua Vivian. Um exemplo claro disso é o uso de inteligência artificial para triagem de currículos: a ferramenta pode acelerar a seleção de candidatos e, mas sem o olhar estratégico dos recrutadores para interpretar os dados e tomar decisões alinhadas à cultura da empresa, o processo se tornar mecânico – e limitado.
“No RH, abrir espaço para inovação é melhorar a experiência das pessoas e tornar o trabalho da área mais eficiente e estratégico”, crava Vivian Broge, reforçando que as pessoas sempre estarão no centro de qualquer transformação. Mas um bom caldo precisa da mistura certa de ingredientes para alcançar o sabor desejado. Para ela, as pessoas vêm primeiro, mas logo em seguida entram mindset, tecnologia e processos. O equilíbrio entre esses pilares é fundamental, pois, juntos, criam o ambiente ideal para que a inovação aconteça de fato.
Na prática, isso significa cultivar um ambiente aberto ao diálogo, que incentive a sugestão de novas ideias e a experimentação. Ao mesmo tempo, é preciso estruturar processos que garantam o que é fix – ou seja, os aspectos menos negociáveis para a execução da estratégia do negócio –, sem sufocar a criatividade no dia a dia. E depois entra a tecnologia como ferramenta para potencializar tudo isso. “Ter a tecnologia ‘a seu dispor’ e utilizá-la de forma estratégica é essencial para resolver dores do RH e da empresa como um todo”, pontua Vivian.
Inovação sem conexão estratégica é desperdício
Mas, se as pessoas são tão fundamentais para inovar, por que tantas empresas ainda insistem em seguir apenas tendências tecnológicas? Talvez porque seja mais fácil lidar com aplicativos e plataformas – produtos “prontos” – do que com pessoas. Afinal, a inovação no seu sentido mais verdadeiro exige investimentos complexos, como autonomia e colaboração. Porém, como a tecnologia não inova sozinha, de nada adianta focar somente nos aparatos tecnológicos sem um RH que impulsione as pessoas e dê a sustentação necessária à inovação.
Para o pesquisador Fabio Josgrilberg, do Centro de Inovação Corporativa e do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (NEOP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a iniciativa humana está e sempre estará no centro desse processo. “A inovação nasce das necessidades das pessoas, seja para solucionar um problema, responder a mudanças ou explorar oportunidades ainda não mapeadas”, analisa.
Embora a tecnologia otimize processos e possibilite novas soluções, são as pessoas que enxergam novas aplicações e impulsionam mudanças reais. E é aqui que entra o RH em seu papel mais estratégico. Mais do que ter objetivos claros, a inovação precisa de propósito para, de fato, resolver os desafios do dia a dia e gerar valor para os colaboradores e o próprio negócio. Para Fabio, isso passa por identificar e priorizar oportunidades com maior potencial de transformação, garantindo que as iniciativas inovadoras sejam viáveis e tragam benefícios tangíveis. “A inovação precisa ser um meio para melhorar a experiência dos colaboradores e otimizar processos, e não apenas um discurso para demonstrar modernização”, reflete o também diretor de Novos Negócios e Parcerias da Bernhoeft.

Processos estruturados: aliados ou obstáculos?
Entretanto, retomando a receita inicial, também entra no caldeirão um ingrediente aparentemente menos saboroso: os processos. À primeira vista, eles podem parecer burocráticos demais, mas são essenciais para estruturar o pensamento inovador. Como já vimos em matérias anteriores, a experimentação demanda método – e inovação sem método é só um amontoado de boas ideias sem qualquer direção. A grande questão é como construir fluxos estruturados que não limitem a criatividade, mas que também não deixem boas ideias se perderem pelo caminho. “Criatividade e disciplina precisam andar juntas. Boas ideias, sem um processo para testá-las, validá-las e implementá-las, dificilmente geram impacto”, reforça.
Vivian Broge, da TOTVS, concorda com Fabio e complementa: “processos estruturados podem facilitar muito a inovação, pois viabilizam a implantação de novas ideias, estabelecem métricas e envolvem as pessoas certas”. Porém, quando são rígidos demais, podem sufocar a criatividade e tornar a aceitação de novas ideias mais lenta e burocrática. O desafio do RH, portanto, é encontrar o equilíbrio entre liberdade e estrutura, garantindo que os pilares da inovação se complementem em vez de se anularem.
Tecnologia estratégica para um RH inovador
Com pessoas e processos alinhados, a tecnologia entra como uma facilitadora poderosa dentro do RH. Mas, para que gere impacto real, precisa estar conectada à estratégia da empresa e às necessidades das pessoas. Caso contrário, ela se torna apenas mais uma “trend”. Quem faz o alerta é Guilherme Dias, diretor de Marketing (CMO) da Gupy. “Quando a inovação não se conecta com a estratégia da empresa e as dores das pessoas, corre o risco de se tornar apenas um modismo”, alerta. Como ele bem reforça, a tecnologia é só um meio – e não o fim. “A Inteligência Artificial, por exemplo, é incrível na análise de dados e automação de tarefas. Mas, sem pessoas capacitadas e motivadas, qualquer inovação perde sentido”, explica.
Isso significa que o RH precisa ter clareza sobre o que quer alcançar antes de sair investindo em novas ferramentas. Até porque, se a tecnologia não estiver alinhada aos objetivos do negócio e às necessidades das pessoas, dificilmente trará mudanças significativas à organização. “O que gera transformação é a combinação inteligente e bem calibrada entre gente e tecnologia. A IA não toma decisões por nós, não cria soluções empáticas nem lidera mudanças culturais”, destaca Guilherme. No fim das contas, tudo gira em torno das pessoas – e são elas que realmente fazem a diferença no fim do dia. “A inovação só acontece quando temos as pessoas certas, com as competências certas, atuando com clareza e energia.”
Indicadores da inovação
Para que a inovação no RH seja mais do que um discurso bonito, é essencial trabalhar os pilares que sustentam essa transformação. O primeiro passo é identificar quais indicadores refletem diretamente os desafios e as metas corporativas. Só depois faz sentido falar em data-driven e explorar tecnologias como People Analytics e inteligência artificial. “Monitorar processos seletivos, engajamento e desenvolvimento dos colaboradores não é um fim em si mesmo, mas sim uma forma de garantir que as decisões sobre talentos estejam impulsionando a empresa na direção certa.”
Mas acompanhar métricas não basta. Para que o RH se torne um verdadeiro motor dessas transformações, a inovação precisa ser fomentada de forma estratégica em todas as áreas da empresa, garantindo que o impacto seja sistêmico e sustentável. E isso exige, além de KPIs bem definidos, um ambiente que valorize o aprendizado contínuo. Como destaca Guilherme, se o erro for encarado como um problema, a experimentação perde força até se esvaziar. “Quando o RH se posiciona dessa forma, ele deixa de ser apenas uma área de suporte e se torna um pilar essencial para o crescimento do negócio”, afirma.

Mindset inovador é a cola entre os três pilares
Agora, uma coisa é certa: tudo isso só vai funcionar se as pessoas realmente se sentirem à vontade para compartilhar suas ideias. Guilherme Dias explica que o “mindset inovador” é o elo que conecta tecnologia, pessoas e processos no RH – os três pilares essenciais da inovação. “Sem o mindset correto, tecnologia e processos não garantem resultados esperados. A inovação depende de um ambiente que permita erros como parte do aprendizado, com lideranças que incentivem a equipe a testar abordagens novas de forma estruturada”, reforça. E quando essa mentalidade faz parte da cultura, ela não só impulsiona melhorias nos processos, como também amplifica o impacto da tecnologia. Para ele, é esse ciclo contínuo – e não algo isolado – que impacta a experiência das pessoas e os resultados dos negócios.
No fim das contas, esse mindset inovador é um dos fatores que mais pesam dentro de uma cultura de inovação. Imagine uma empresa que investe pesado em tecnologia, mas onde os colaboradores não se enxergam como parte desse processo. Se a inovação parece algo restrito à liderança ou ao time de tecnologia, dificilmente sairá do papel. Não à toa, o RH precisa equilibrar os pilares gente, processos e tecnologia para destravar essa mentalidade e garantir que a inovação aconteça de forma consistente.
Mais do que incentivar a busca por novas soluções, é preciso estruturar o caminho para que essas ideias saiam do campo das possibilidades e gerem impacto real. Fabio Josgrilberg detalha essa jornada. O mindset inovador impulsiona a experimentação, enquanto processos bem definidos garantem que essas ideias sejam testadas e implementadas com solidez. A tecnologia, por sua vez, acelera esse ciclo, permitindo que a inovação vá além do que antes parecia impossível. “Quando esses três elementos estão alinhados, a inovação deixa de ser apenas um conceito e se torna parte da cultura organizacional, gerando mudanças reais e sustentáveis”, finaliza.
O erro como etapa natural da inovação
Se o mindset é tão fundamental para inovar, precisamos falar sobre a importância de aceitar o erro como uma etapa natural desse processo. Vivian Broge alerta que muitas empresas ainda falham ao não criar um ambiente realmente aberto à experimentação. “Sair da zona de conforto e propor mudanças nunca é fácil. É um processo desafiador, até incômodo. Por isso existem muitas empresas que não estão abertas ao novo”, observa. Segundo ela, cabe ao RH fomentar um espaço seguro, onde as pessoas se sintam protagonistas para testar novas estratégias, sem medo de errar. “O ideal é fomentar um ambiente com abertura para novas estratégias, criando uma cultura de inovação para todas as pessoas”, complementa.

Mas como evitar que o RH caia na armadilha de inovar só por inovar? Segundo ela, quando se trata de inovação, a palavra-chave é estratégia. É importante realizar um diagnóstico que mapeie as reais necessidades do RH”, orienta. Isso significa que RH e lideranças devem caminhar juntos desde o início, estabelecendo objetivos claros que façam sentido não só para o negócio, mas especialmente para as pessoas. “Assim é possível estudar de que forma a inovação pode contribuir de fato para o dia a dia da operação.”
E é justamente essa conexão com a realidade organizacional que torna a inovação mais sustentável e com propósito. Quando os pilares tecnologia e processos passam a ser aplicados de forma estratégica na gestão de pessoas, o RH assume o importante papel de provocador de mudanças, fortalecendo continuamente a cultura de inovação. “Conforme o RH se torna mais estratégico dentro das empresas, a inovação – seja em processos, tecnologias ou práticas – passa a ser fundamental”, conclui Vivian. Mas a inovação também não acontece por decreto. O Ph.D. Fabio Josgrilberg alerta: “O maior erro é acreditar que apenas treinar equipes sobre inovação será suficiente para gerar mudanças”.
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