Gestão

Recall de lideranças

de Manuel Martins* em 21 de junho de 2010

Quando uma corporação da envergadura da Toyota convoca um recall de 2,3 milhões de veículos nos Estados Unidos, uma luz amarela se acende para organizações de todo o mundo. É o alerta de que nem toda solidez é suficiente para impedir a ocorrência de uma grave crise.

A história nos mostra que mesmo empresas centenárias não estão imunes a reveses. Não há um sistema infalível e à prova de erros, tanto que muitos nomes fortes sucumbiram diante da inabilidade de suas lideranças em lidar com as dificuldades. Por mais maduras que sejam, as organizações podem ter problemas, enfrentar crises e se ressentir de decisões
equivocadas, fatos que invariavelmente afetam a imagem corporativa e arranham a credibilidade e a confiança de acionistas, clientes, consumidores e demais stakeholders.

Há exemplos, no entanto, de companhias que souberam encarar os percalços com sabedoria. Não apenas admitiram as falhas e tomaram as providências cabíveis, como se debruçaram sobre a situação e buscaram aprender com o processo. Um caso típico, que marcou época no século 20, é o do Tylenol, quando a liderança da Johnson & Johnson fez uma megaoperação para prestar esclarecimentos à opinião pública e recolher o produto em todo o território norte-americano, ainda que a questão fosse localizada. Houve desgaste e as ações da empresa despencaram, mas a atitude dos líderes, os valores corporativos levados à risca e a política de transparência possibilitaram a volta por cima e, hoje, a Johnson & Johnson e o Tylenol continuam firmes e fortes já em pleno século 21.

O caminho da superação requer líderes predispostos a aprender com os erros, além de sistemas de gestão e práticas que validem o exercício do aprendizado. Uma lição básica é a de que o sucesso de hoje não garante o êxito do amanhã. A outra diz respeito à necessidade de formar e desenvolver as lideranças em bases permanentes. Um grupo de líderes solidamente desenvolvido tem condições de imprimir mais eficiência e presteza ao processo de recuperação da empresa. Quanto melhor a qualidade da liderança, menores serão os efeitos da crise e maiores as chances de que o problema não venha a se repetir no futuro.

A cada dia, os jornais estampam novos casos de recall de automóveis no mundo. No Brasil, as convocações atingiram, em 2009, quase 1,2 milhão de carros, volume quatro vezes maior do que o registrado em 2007, segundo dados dos órgãos de defesa do consumidor do país. Seria esse o preço a ser pago em nome da competitividade global; da visão de curto prazo; e da pressão por redução de custos e por maior produtividade?

Fator crítico para a evolução e a sustentabilidade dos negócios, a liderança forte exige esforço constante e diuturno de formação e desenvolvimento. Os líderes servem de exemplo e inspiração. Eles influenciam as demais pessoas e dão respaldo para que a organização possa navegar com assertividade, tanto sob ventos favoráveis quanto em tempos de tormenta. Não há como fazer recall de lideranças. Quando a crise se instala, ou elas estão presentes e preparadas para fazer a sua parte, ou a empresa se esfacela, padecendo de morte súbita ou agonizando enquanto a concorrência ocupa o espaço.

*Manuel Martins é diretor executivo da consultoria MESA RBL, Ulrich

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