As mudanças socioeconômicas que enfrentamos em nível global nos dois últimos anos, especialmente, resultaram em importantes desafios e transformações no ambiente de trabalho e na vida das pessoas. Estudos apontam que um dos grandes efeitos da pandemia de Covid-19 entre os colaboradores foi a alta carga de esgotamento mental, que resultou na prática denominada de “grande renúncia” (the great resignation), na qual profissionais de praticamente todos os setores passaram a se demitir voluntariamente a fim de migrar para outras áreas de atuação em busca de mais equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Há, ainda, os que optaram por pausar suas carreiras, a fim de ressignificar seus objetivos e rotinas ou mesmo buscar um novo propósito.
De acordo com o Índice para uma Vida Melhor (Better Life Index), o Brasil progrediu bastante na última década em termos de melhoria da qualidade de vida da população. Mas apresenta desempenho inferior à média em relação aos demais países pesquisados em renda, empregos, educação, saúde, conexões sociais e satisfação com a vida. Quando solicitados a avaliar sua satisfação geral com a vida em uma escala de 0 a 10, os brasileiros deram uma nota média de 6,1, inferior à média da OCDE de 6,7.
Esses fatores abalam o bom funcionamento dos negócios, o que invariavelmente resulta em profissionais desengajados e prejudica o desenvolvimento do colaborador. Desse modo, o aspecto humano tornou-se ainda mais relevante para que os times consigam se adaptar a novas rotinas e desafios inerentes ao mundo do trabalho.
Cultura de aprendizagem
O cenário de alta competitividade do mercado e a necessidade cada vez maior de engajar e reter talentos fez com que muitas empresas buscassem criar relações mais humanas, com investimentos em seus colaboradores, tendo a cultura de aprendizagem como peça-chave. De acordo com o relatório “Como a força de trabalho aprende”, da plataforma de upskilling Degreed, os profissionais que acreditam que a cultura de aprendizagem da empresa em que trabalham seja positiva têm 199% mais chances de serem promovidos e 235% mais chances de migrarem para outras áreas da organização.
Isso evidencia que, entre as inúmeras mudanças que o mundo dos negócios impõe, o fator humano é o que prevalece. Por isso, o apoio à aprendizagem tornou-se fundamental para que os cargos sejam mais atraentes aos olhos dos profissionais e para manter o crescimento das próprias organizações. Algumas, inclusive, já apostam em programas de treinamento, remuneração e benefícios flexíveis para que o time se desenvolva com mais engajamento e motivação.
Como exemplo, algumas empresas oferecem um período sabático de aprendizagem remunerado. Trata-se de uma oportunidade que o profissional tem de dedicar o tempo de um mês a um ano para estudar ou se desenvolver em outra área, sem perder o cargo ou o salário. A prática é um diferencial para o colaborador e uma vantagem para empresa, pois ajuda na retenção de força de trabalho especializada, e economiza os altos custos e riscos de uma nova contratação.
Sabático Social: voluntariado remunerado
Há 10 anos, a área de Responsabilidade Social Corporativa da SAP implementou o Sabático Social, programa imersivo de quatro semanas, no qual o funcionário tira uma folga remunerada de suas funções habituais para dedicar o seu capital intelectual a uma organização sem fins lucrativos de outro país. O objetivo é que esses profissionais voluntários desenvolvam em um mês um projeto que melhore processos e negócios dessas organizações ajudando-as a gerar impactos econômicos, sociais e ambientais em suas comunidades. Até o momento, mais de 1,3 mil funcionários participaram em 51 países, em parceria com quase 500 organizações e empresas sociais, impactando 6 milhões de vidas.
Essas transformações geram impacto significativo na vida pessoal e no engajamento dos funcionários e podem estimular a inovação e alavancar a performance das companhias. É o tipo de experiência tão transformadora que também contribui para o desenvolvimento de habilidades como liderança, capacidade de trabalho em ambientes multiculturais; além de disseminar conhecimentos, promover a diversidade e servir como catalisador de causas sociais, o que traz mais propósito para o negócio e para a vida do colaborador.
Hoje, um dos principais diferenciais da organização é o capital humano, que demanda movimentos internos de investimento em seu desenvolvimento profissional. Empresas que colocam o colaborador em um papel de autonomia conseguem inspirá-los a fazer o seu melhor. Qualquer empresa que abraça de forma genuína o propósito humano precisa dar aos seus funcionários a oportunidade de experimentar na prática o que isso realmente significa.