Como conectar um executivo de negócios de Hong Kong ao mesmo treinamento proposto a um colega de trabalho em São Paulo? E como preparar colaboradores espalhados pelo Brasil afora para que o cliente do Sul do país seja tratado da mesma forma como um do Norte, isso tudo sob a perspectiva da otimização de tempo e recursos? Esse foi um dos desafios lançados ao departamento de treinamentos da TAM. E a resposta da empresa para esse dilema é composta por três palavras: ensino a distância, ou simplesmente o acrônimo EAD.
Como a empresa trabalha com um universo de mais de 30 mil funcionários no Brasil e em bases internacionais, nos ramos de linhas aéreas, viagens, carga e aviação executiva, ela precisa também usar tecnologias a distância para divulgar conhecimento. “Para a TAM, que tem funcionários espalhados pelo mundo, o e-learning funciona muito bem em alguns casos. É uma grande ferramenta de atuação rápida e de qualidade”, garante Melissa Casagrande, gerente de treinamento da companhia aérea.
EAD em números
Assim como a TAM, muitas outras empresas estão adotando o EAD como uma solução para seus treinamentos e cursos. Os números do Censo EAD.BR 2012, da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) indicam essa tendência. De acordo com o estudo, houve um aumento de 24% no volume de investimentos na educação corporativa a distância no Brasil de 2011 para 2012; e a curva parece ser de ascensão, já que o nível de investimento neste ano será na casa dos 30%.
Em 2012, houve a oferta de 1.856 cursos nessa modalidade autorizados, sendo, desses, 6% de caráter corporativo. Percebe-se, pelo levantamento, que as universidades corporativas tendem a usar o sistema de cursos livres, afinal, dos 7.520 cursos de EAD livres ministrados no Brasil em 2012, 32% eram de caráter corporativo; dentre as disciplinas mais comuns estão administração, gestão e direito.
Além dos fatores financeiros e de tempo já mencionados, o uso dessa metodologia também é estimulado por se tratar de um mecanismo de democratização da educação. “O EAD é um fator integrativo, cria a possibilidade de todos participarem, seja aquele que tem problema de horário, de locomoção e até aquele que não se integra muito na sociedade e não gostaria de participar de uma sala de aula”, destaca Beatriz Roma Marthos, da Abed, responsável pelo censo.
Ela explica que como muitas universidades não formam o aluno para o mercado de trabalho, esse é um investimento que as companhias acabam assumindo para ter um profissional talentoso. Acontece que o alto índice de turnover somado à alta rotatividade do conhecimento levou as corporações a optarem por uma metodologia boa com custos acessíveis. “Hoje, com a globalização, um profissional que não faz uma atualização fica defasado no curto espaço de tempo de seis meses. O EAD vai suprir essa lacuna”, conclui.
Reciclagem
Atualização do conhecimento é sempre um assunto em pauta no mundo corporativo. A UniAlgar, universidade corporativa do Grupo Algar, que o diga. Em seus 15 anos de trajetória, ela registra mais de 183 mil participações nos cursos a distância. Em 1998, a instituição adotou a educação a distância como modalidade de aprendizagem para facilitar aos associados (como são chamados os colaboradores) o acesso ao conhecimento, uma vez que trabalham em diversos estados, além da diversidade dos negócios de telecomunicações, tecnologia da informação, agronegócio, serviços e turismo.
“Todos os programas ofertados são estruturados conforme a necessidade dos talentos e das estratégias de crescimento e expansão das nossas empresas. Dessa forma, a educação a distância é vista como uma maneira de desenvolver cada vez mais as pessoas para, assim, tornarem a organização muito mais arrojada e competitiva”, esclarece Elizabeth Amaral, diretora superintendente da UniAlgar.
Para levar conhecimento aos colaboradores na modalidade e-learning, as empresas, em geral, optam por plataformas sem custos. “As universidades corporativas tendem a escolher os sistemas Moodle ou TelEduc, que são gratuitos. Isso porque o RH é um departamento que precisa otimizar o investimento”, explica Beatriz, da Abed.
Mas, com criatividade, os treinamentos corporativos podem alçar novos voos. Foi o que aconteceu na TAM num treinamento para a área comercial da companhia. “Como todos os nossos executivos da área comercial têm um celular à disposição, fizemos uma treinamento em mídia móbile”, conta Melissa. A estratégia era passar aos executivos as metas que deveriam ser alcançadas no ano e os números das conquistas até o momento do início da ação. A executiva explica que o diretor comercial da companhia gravou uma mensagem falando sobre o tema. “Tocava o telefone e era o diretor falando com eles ‘Oi, aqui é o Klaus. Queria conversar com você um minuto sobre a nossa meta de trabalho…’. Em pouco tempo, passamos uma mensagem efetiva para o público-alvo sem que precisássemos deslocar pessoas para um treinamento sobre o tema”, explica.
Ao gosto do aluno
Albino, da CCEE: atingir um público maior e oferecer mais conteúdo |
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) também apostou no mix que a educação a distância oferece. A organização criou o Portal de Aprendizado com cursos on-line gratuitos para profissionais de todas as empresas associadas. A grade conta com abordagem de ensino, denominada Rota de Aprendizagem, que sugere cursos a ser seguida pelo aluno. O profissional pode aprofundar os conceitos e processos de cada módulo das regras de comercialização, com prioridade para aqueles que têm maior ligação com a categoria em que ele atua. Os cursos são feitos pela web e o aluno pode montar a própria programação. Para avançar, é preciso passar por provas de avaliação. A cada curso finalizado com sucesso, o profissional recebe um certificado da CCEE, que pode ser impresso pelo próprio aluno no portal. “As empresas do setor elétrico estão geograficamente distribuídas por todo o país. O portal nos permite atender à crescente demanda dos associados por treinamento e suporte. A tecnologia amplia o alcance dos treinamentos oferecidos e reduz custos, principalmente para aqueles que estão fora de São Paulo. Pela ferramenta, podemos atingir um público muito maior, simultaneamente, e ainda ofertar muito mais conteúdo”, explica Jean Albino, gerente de regras e capacitação da CCEE.
Seja treinamentos para executivos ou cursos para suprir lacunas do ensino básico ou do ensino técnico, o EAD parece ser a resposta mais rápida para a educação corporativa. Segundo dados do censo, dos cursos ministrados em 2012, 89 foram conduzidos em microempresa, 879 em pequenas empresas, 406 em médias empresas e 1.523 em empresas de grande porte.
Preconceito
Apesar do crescimento da opção do ensino a distância, Beatriz, da Abed, destaca que ainda há certo preconceito no universo profissional com relação a esses cursos. Ela menciona que existem editais de concursos que indicam que o ponto de desempate entre um candidato e outro é se fizeram curso a distância ou presencial.
Para aqueles que ainda têm esse preconceito, Melissa, da TAM, confere a dica: “Dentro de treinamento, temos uma área de qualidade e inovação que fica de olho em melhorias do treinamento; buscamos sempre novas formas de nos comunicarmos com o nosso cliente interno. O treinamento tem de causar o interesse. Se ele vir a mesma coisa de sempre ele não vai ter a gana de participar”, conclui.