Conseguir uma vaga de estágio é, sem dúvida, um marco na vida de qualquer jovem. Afinal, essa é a chance de adquirir a tão desejada experiência – o maior entrave para que esse público se torne mais competitivo no mercado
formal. No entanto, mais do que uma porta de entrada para o mundo corporativo, para muitos, esse é o primeiro contato com a realidade da profissão escolhida – fator que pode alterar a percepção desses estudantes em relação a sua própria capacitação – é o que aponta um estudo realizado pela Companhia de Estágios, assessoria e consultoria especializada em vagas de estágio e trainee.
Números da recrutadora revelam que jovens em atividade demonstram maior preocupação em melhorar o currículo do que aqueles que ainda estão em busca de uma vaga do tipo: em geral, quem estagia considera-se menos confiante para concorrer no mercado celetista do que aqueles que ainda estão na fila do emprego. De acordo com especialistas, isso não demonstra despreparo ou pessimismo, mas sim, que o estágio proporciona uma conscientização maior sobre o nível de exigência do mercado de trabalho contemporâneo.
Choque de Realidade
Se sentir confiante para disputar uma vaga é o desejo de qualquer jovem aspirante ao emprego e, para muitos, o diploma é o caminho certo para tal. No entanto, na opinião daqueles que já estão em campo, é preciso um pouco mais. Segundo a pesquisa O perfil dos candidatos a vagas de estágio em 2018, que ouviu 5.410 estudantes de todas as regiões do país, estagiários em atividade (10,5% dos participantes) desejam melhorar o currículo (16%) ou adquirir
mais experiência profissional (32%) antes de se autodeclararem prontos para competir com profissionais mais experientes. Por outro lado, um terço daqueles que ainda estão fora do mercado, buscando uma vaga do tipo (57,5% dos participantes), acreditam que sua formação acadêmica já é suficiente para ingressar no mercado celetista.
Segundo Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios, essa diferença comportamental se deve, principalmente, ao choque de realidade que os jovens enfrentam ao ingressar no mercado de trabalho. “Geralmente, o jovem que está fora do mercado, apenas estudando, tem uma percepção muito didática da sua área e quando inicia um estágio ele se dá conta de que a realidade é mais desafiadora. Esse contraste fica ainda mais evidente quando o estudante passa a conviver com trabalhadores mais experientes, que já têm uma bagagem profissional. É no estágio
que ele percebe que se quiser, futuramente, concorrer com esses colegas de igual para igual, precisará investir
em especialização.”
O diploma dá conta?
Outro ponto do estudo evidencia por que estagiários têm uma visão mais aguçada sobre as exigências do mercado: eles se candidatam mais aos postos celetistas. Enquanto 28% deles afirmam ter participado de processos seletivos para vagas formais nos últimos dois anos, apenas 11,5% dos jovens sem ocupação concorreram (para vagas formais) no mesmo período. E é justamente essa “inatividade”, de acordo com Mavichian, que acaba afetando a percepção do
candidato inexperiente. “Ficar tanto tempo à margem do mercado prejudica o entendimento do estudante sobre seu nível de preparo, sobretudo em tempos de crise, nos quais as empresas, diante da alta procura, afunilam ainda mais seus processos de seleção. Se o jovem ficou ‘parado’, ou seja, sequer participou de alguma entrevista recentemente, corre o risco de ficar alienado à demanda dos empregadores, acreditando que seu diploma ‘já dá conta’, quando na
atual conjuntura pode não ser o suficiente”, afirma o diretor.
O estudo identificou, inclusive, que 32,5% dos jovens que estagiam apontam a maior exigência dos empregadores
e alta competitividade dos processos seletivos como os piores efeitos da crise do emprego.
O segundo idioma
A saída para esses estudantes? Apostar na especialização. De acordo com o estudo, 14,5% dos estagiários afirmam que, se tratando da carreira, sua maior preocupação no momento é fazer cursos extracurriculares para fortalecer o currículo – esse mesmo anseio atinge pouco mais de 10% dos candidatos a estágio. E, quando perguntados sobre qual aspecto profissional eles mais gostariam de aprimorar, o domínio de outro idioma tem grande destaque: mais da metade gostaria de ser fluente em outra língua.
De acordo com Rafael Pinheiro, gerente da área de recursos humanos da Companhia de Estágios, o desejo por essa habilidade em especial reforça a ideia de que, após estagiar, o estudante tem maior consciência dos requisitos para ocupar determinados cargos. “Atuando na empresa, o jovem percebe, com mais facilidade, que os melhores cargos e salários são destinados para pessoas altamente capacitadas que, geralmente, falam mais de um idioma. Porém, o estudo também contemplou outras características importantes, igualmente desejadas pelos jovens, como maior
desenvoltura interpessoal e maior preparo para lidar com tecnologias.”
Segundo o especialista, o jovem que ainda está na fila do estágio – ou até em busca do emprego formal – não deve se intimidar com tais dados, mas sim seguir o exemplo dos colegas que já atuam. “Sem dúvida, a autoconfiança é fundamental na hora de encarar o processo seletivo, mas é essencial que o jovem, por melhor que seja sua formação, não se acomode, mas siga investindo em especializações. A competitividade está alta e, naturalmente, as empresas vão optar pelos candidatos que oferecem algum diferencial”, alerta Pinheiro.
Matéria publicada na versão impressa da Revista Melhor RH, edição de Julho-2018