Quando comecei na McKinsey em 2008, era difícil priorizar o bem-estar de uma forma significativa. Eu viajava constantemente entre cidades e não havia uma maneira clara de me concentrar em minha saúde física e mental de forma consistente. Este não era apenas um problema meu – era um problema para milhares de pessoas como eu, que estavam trabalhando muito e lutando para promover um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal.
Hoje, como CEO da maior plataforma global de bem-estar corporativo do mundo, minha missão é ajudar as organizações a priorizar o bem-estar dos funcionários, não importa onde eles estejam, por meio de um conjunto robusto de benefícios centrado na boa forma física, nutrição e saúde mental. Nos mais de dez anos desde o nosso lançamento, temos trabalhado de perto com milhares de empresas incríveis e tenho estudado como o bem-estar evoluiu e se tornou prioridade para estas organizações e seus funcionários.
A maior mudança, em minha opinião, é que o conceito acima mencionado, de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, está morto. É um termo criado há mais de 50 anos que se tornou completamente ultrapassado, porque pressupõe que trabalho e vida são coisas separadas. Hoje, sabemos que isso não é verdade. Não podemos ignorar o impacto do trabalho, e sua expansão para fora das paredes do espaço físico do escritório, em nossas vidas pessoais. Isto criou um novo conjunto de desafios – e oportunidades – para os líderes de RH que podem diferenciar suas organizações, investindo no bem-estar das pessoas.
Ao virarmos a página do calendário, aqui estão quatro previsões para o bem-estar no trabalho em 2023:
1. O bem-estar dos funcionários se tornará um dos principais indicadores de produtividade
É bastante simples: trabalhadores engajados geram mais lucro. Um relatório recente da Gallup constatou que as empresas com funcionários engajados têm um lucro 23% maior na comparação com aquelas com trabalhadores infelizes. O relatório também constatou que o absenteísmo é 27% menor para os funcionários que se exercitam regularmente, em comparação com os colegas que não o fazem. Além disso, os funcionários com hábitos alimentares saudáveis têm 25% mais probabilidade de obter um melhor desempenho no trabalho; e os funcionários que fazem exercícios três vezes por semana têm 15% mais probabilidade de ter um melhor desempenho no trabalho.
Todos esses dados colocam o bem-estar como um indicador de produtividade. A saúde de sua equipe está diretamente relacionada à saúde de seu negócio. Da mesma forma que os líderes olham para métricas como receita para determinar o quão bem uma empresa está se saindo, o investimento de uma empresa com os benefícios do bem-estar se tornará um desses indicadores. Na medida em que mais líderes começarem a reconhecer isto, começaremos a ver as decisões comerciais serem influenciadas pelo bem-estar.
2. O ESG ganhará um W (wellness), pois o bem-estar se tornará mais importante para investidores, acionistas e clientes
A missão e valores de uma companhia podem ter um impacto positivo ou negativo na sua receita. Em 2023, há um argumento claro a ser apresentado de que o bem-estar deve ser elevado ao lado de questões ambientais, sociais e de governança ao decidir se e como fazer negócios com uma organização. As empresas que promovem o “ESWG” são aquelas que adotam uma abordagem proativa para desenvolver a resiliência e a saúde física e mental dos colaboradores, além de suas prioridades em ESG.
Este ano, o bem-estar dos funcionários começará a ser percebido de forma semelhante, pois estamos em uma crise de bem-estar. As pessoas estão exaustas, e isso se reflete em seu trabalho. Em novembro nós lançamos o Panorama do bem-estar corporativo, onde ouvimos mais de 9 mil colaboradores, de vários segmentos de negócios, nos principais mercados do mundo, e foi concluído que o estresse dos colaboradores está em alta histórica. 60% dos colaboradores afirmaram que estão desconectados emocionalmente do trabalho, e 19% estão infelizes.
A responsabilidade recai sobre os empregadores para enfrentar este desafio de frente. No cenário atual, se você não estiver priorizando o bem-estar de seus funcionários, o mundo vai perceber. Isto significa que as partes interessadas, desde investidores, até parceiros e clientes, levarão em conta como você trata seu pessoal antes de fazer negócios com você. Ninguém quer apoiar uma empresa que está sobrecarregando suas pessoas até a exaustão.
3. Mais funcionários perceberão os benefícios relacionados ao bem-estar como tão importantes quanto o salário
Outro dado que chamou atenção no nosso estudo é que 83% dos colaboradores consideram o bem-estar tão importante quanto o salário. É uma estatística poderosa e convincente que ressalta exatamente quais são os desejos dos talentos na busca por um novo trabalho. A maioria das pessoas em todo o mundo não está mais disposta a colocar seu bem-estar físico ou mental em risco por um salário – e esse número vai crescer. Isso significa que os líderes de RH precisam trabalhar mais para garantir que os talentos tenham seus principais interesses atendidos.
4. A transparência salarial trará muitos benefícios
Em 2023, a centralidade no funcionário é primordial. A transparência salarial, uma tendência já muito forte nos Estados Unidos, deve gerar uma mudança na expectativa daqueles que buscam uma nova oportunidade. Os empregadores precisarão demonstrar um claro compromisso, não apenas em oferecer um salário adequado, como também com o bem-estar de seu pessoal – para não apenas atrair e reter os melhores talentos, mas maximizar os resultados de suas equipes atuais. Isto pode tomar a forma de algo tangível, como um score de bem-estar, que surja no futuro na medida em que as organizações sejam pontuadas com base em seus benefícios e ofertas de bem-estar.
Embora tenhamos começado 2023 com um clima econômico incerto, o fato é que o bem-estar é uma clara prioridade para os talentos, tornando-o uma parte permanente e à prova de recessão das estratégias de aquisição e retenção.
Eu levaria isso um passo adiante e argumentaria que uma recessão iminente é exatamente o momento certo para investir em benefícios para o bem-estar dos colaboradores. A razão é que a perda de funcionários talentosos só aumenta os desafios econômicos de uma empresa ao enfrentar uma recessão: após demissões, o pessoal remanescente sofre um declínio de 41% na satisfação no trabalho – é o que mostra um estudo da Universidade de Estocolmo e da Universidade de Canterbury. As empresas que focam no apoio a seu pessoal – investindo em suas equipes com o mesmo nível de comprometimento que investem em software – estarão melhor posicionadas para resistir a qualquer tempestade iminente.