Bem-estar corporativo

Dia Mundial da Saúde Mental: além do burnout, burn on já é uma realidade corporativa

Saiba quais são os sinais sutis e as formas de acompanhar profissionais que sofrem com nova síndrome (e evitar fatores que levam ao problema nas empresas)

de Redação em 10 de outubro de 2024
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A priorização da saúde mental no local de trabalho foi o lema deste ano no Dia Mundial da Saúde Mental, celebração anual em todo 10 de outubro, instituída pelas Organização das Nações Unidas (ONU). A entidade destaca que uma em cada oito pessoas tem problemas psicológicos. sobretudo pelas condições opressoras vivenciadas no trabalho. Isso em um cenário global com 60% das pessoas maiores de 15 anos trabalhando, passando a maior parte do seu tempo no ambiente laboral. Nesse contexto, o Burnout, que já é reconhecido como um problema de saúde ocupacional, comprometendo física e psicologicamente os profissionais, ganhou um acompanhante, o burn on.

Diferente do burnout, que se manifesta de forma mais evidente, o burn on é uma condição insidiosa, marcada por estresse crônico e exaustão constante, sem necessariamente levar ao colapso total do indivíduo, que continua funcional em sua rotina na organização.

As causas são multifatoriais, abrangendo pressões sociais, demandas pessoais e um ambiente de trabalho adverso, além de um comprometimento individual demasiado com metas e responsabilidades corporativas. O impacto dessa síndrome transcende o âmbito profissional, afetando a vida pessoal e contribuindo para um esgotamento generalizado.

O conceito de burn on foi introduzido pelos psicólogos alemães Timo Schiele e Bert te Wildt em seu livro “Burn On: Sempre à beira do Burnout: O sofrimento não reconhecido e o que ajuda contra ele” (título em livre tradução da obra publicada apenas em Alemão). Eles explicam que a identificação da síndrome pode ser um desafio, pois os sintomas costumam ser sutis, incluindo fadiga persistente, desmotivação, ansiedade, dificuldades de concentração e até problemas de saúde física.

Forçar sem necessidade

Um panorama preocupante evidenciado pela Pesquisa Check-up de Bem-estar 2023, realizada pela Vidalink, especializada em Bem-estar Corporativo, que revela que 63% dos profissionais sentem ansiedade ou angústia na maior parte dos dias. Uma pressão que contribui para ambas as síndromes.

Segundo Luis González, CEO e cofundador da empresa, a síndrome de burn on acende um alerta para organizações que perpetuam uma “cultura hustle”, caracterizada por uma busca incessante por produtividade, muitas vezes em detrimento do bem-estar dos colaboradores. A falta de políticas que permitam a recuperação, como licenças médicas adequadas, agrava essa situação.

Por outro lado, sabe-se que esse pano de fundo para uma maior produtividade não se sustenta. Segundo o estudo State of Sales and Marketing 2024, realizado pela Pipedrive, horas extras não são proporcionais a melhores resultados, com 10% menos propensão ao alcance de metas entre os colaboradores que mais trabalham.

Sinais sutis

González enfatiza que a liderança deve estar atenta a sinais sutis de esgotamento físico e mental nos colaboradores. A chamada “depressão mascarada” torna o burn on menos evidente do que o Burnout, mas igualmente preocupante, pois pode culminar em sérios problemas de saúde. Ele observa que essa síndrome é especialmente prevalente em profissões com alta responsabilidade e horários irregulares, como as de profissionais de saúde, que frequentemente enfrentam desafios em equilibrar suas vidas pessoais e profissionais.

Os primeiros indícios de burn on incluem dores musculares, bruxismo, sentimentos de vergonha e culpa, além de um ciclo de autocobrança e perda de esperança. Além das comorbidades psicológicas, como depressão e ansiedade, aqueles afetados podem desenvolver condições psicossomáticas, como hipertensão e outros problemas de saúde.

Tratamento e Intervenção

A síndrome de burn on representa um estágio intermediário que pode ser revertido com tratamento adequado e precoce. Abordagens terapêuticas, como psicoterapia, atividades físicas e técnicas de relaxamento, são fundamentais. Além disso, o ambiente de trabalho desempenha um papel crucial, e as empresas podem contribuir promovendo o bem-estar e oferecendo suporte psicológico.

Reconhecer e abordar a síndrome de burn on é essencial para evitar o agravamento da condição e proteger a saúde mental e física dos colaboradores. Com uma estratégia adequada e apoio institucional, é possível superar os desafios impostos por essa nova síndrome e garantir uma vida equilibrada. São elas, propostas pela Vidalink:

  • reavaliação da produtividade e a definição de limites saudáveis;
  • a promoção de espaços para que os colaboradores possam compartilhar suas dificuldades;
  • o reconhecimento da contribuição individual para o propósito da empresa;
  • o fomento a um clima organizacional que favoreça interações saudáveis;
  • o alinhamento da liderança com uma abordagem centrada no bem-estar; e a facilitação de acesso a benefícios que promovam o cuidado integral com a saúde mental.


O pior dos cenários

O Zenklub, uma empresa da Conexa, também especializada em saúde mental corporativa, alerta para os perigos da negligência com transtornos mentais em geral, o que inclui a preocupação com burn on e burnout. Um estudo que realizou, aplicando o teste PHQ-9, para mensurar a depressão, junto a análises clínicas, mostrou que quase 50% dos participantes já pensaram em se ferir ou em tirar a própria vida. De janeiro a julho deste ano, 22 mil pessoas acessaram a plataforma para realizar essa avaliação, seja por iniciativa própria ou recomendação médica. O risco máximo desses problemas de saúde mental negligenciados seria o suicídio.

Rui Brandão, vice-presidente de Saúde Mental da Conexa, comentou sobre as condições desafiadoras do ambiente corporativo atual, que se torna cada vez mais competitivo e exigente. Ele observou que essa pressão pode afetar gravemente a saúde emocional dos colaboradores, principalmente daqueles que não recebem suporte adequado. E atenção âs mulhere, que enfrentam um desafio ainda maior, segundo o executivo, pois muitas vezes acumulam funções no lar, o que intensifica o impacto do estresse relacionado ao trabalho.

A pesquisa também revelou que 46% desses casos identificados pertencem à faixa etária de 20 a 29 anos, uma fase da vida em que muitos estão se inserindo no mercado de trabalho. Adicionalmente, 69% dos participantes do estudo eram mulheres, indicando uma preocupação específica com esse grupo.

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