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A relação com o tempo

A história nos lembra que os primeiros seres humanos venceram o tempo para dominar a natureza. Depois, o tempo foi dominado pelo homem ao seu bel prazer e, agora, o homem parece dominado por suas próprias criações. E tudo isso para estar sempre um passo a frente, pensando no futuro, afogado em compromissos, reuniões e pendências.

Mas, afinal, qual a relação que temos com o tempo? Talvez a de guerra, estabelecida desde que nos declaramos produtivos, ou uma fuga para não admitir impotência?

Dentre aparentes desvantagens, há um grande benefício que é a oportunidade que o tempo nos empresta para refletirmos sobre para o que viemos. Nesse embrulho com tantas emoções, pode emergir uma vontade incontrolável de esquecer o tempo, as demandas externas e se voltar à qualidade dessa utilização, abandonando o sutil reconhecimento do estar sempre ocupado por uma jornada de fato produtiva.

O processo de escolha de como usar o tempo pode desenhar a intensidade. Há quem vá além das 24 horas. Quando estamos na companhia de quem amamos ou realizando uma atividade prazerosa, não percebemos o tempo passar. Nesses momentos sintonizamos o estado de flow, ou seja, sua natureza em perfeita comunhão.

É claro que vivemos fases de entregas e necessidades distintas, e assim dispomos da energia necessária a cada uma. Muitas pessoas, como em um jogo, não avançam as fases, e continuam investindo em um ciclo que não muda.

Há o sentimento do inacabado — quando, por mais que façamos, é como se ainda houvesse muito por fazer. Nos tornando reféns de um universo paralelo, onde nada é suficiente.

Mas, como definir qual o nosso momento atual, administrando tantas turbulências e ruídos e ainda nos ater ao tempo que parece estar sempre jogando contra?

Rever o conceito multitarefa pode ser uma alternativa. Vale lembrar que não somos programas, embora sejamos altamente programáveis. Observar-se na necessidade de ser informado, consultado e envolvido em tudo, também é um exercício na liberação do seu espaço, dando vasão para a real contribuição.

O tempo de qualidade passa a ser construído e degustado de forma nova, com sabores ainda desconhecidos pela maioria, revelando talentos e potencialidades surpreendentes.

A essência de sermos humanos nos permite potência, nos diferencia de animais, justamente por nos preocuparmos com o além de sobreviver e acumular. Faz-se necessário integrar-nos aos recursos para deixar algo relevante, uma marca individual. E não me refiro a grandes feitos, é constatado que há muitos feitos de grande contribuição sem o título.

Mais do que a produtividade comercializada como um método implacável, organizar o tempo deve ser um relacionamento com nossos talentos, sonhos e necessidades. Busquemos a produtividade sustentável, que garante espaço adequado para o que de fato importa, e para o que é possível controlar.

Mesmo sem saber por onde começar, já considere um início; afinal, para vermos o arco-íris, precisamos reconhecer a tempestade.

Decisões são construídas e ao deixarmos a consciência fluir, reequilibramos o ecossistema, firmando paz com o mais ativo dos capitais: o tempo. O tempo de cada um.

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Iara Souza

Iara Souza é especialista em Desenvolvimento Humano.