O mercado de trabalho global passará por profundas transformações até 2030, pautadas, sobretudo, pela Inteligência Artificial, segundo o estudo “Futuro do Trabalho”, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). Publicado desde 2016, o relatório bienal, em sua 5ª edição, analisou 55 economias para identificar macrotendências e propor estratégias para empregadores diante das mudanças tecnológicas, econômicas e demográficas.
A pesquisa foi conduzida entre maio e setembro de 2024, utilizando a plataforma Qualtrics. Foram coletadas respostas de mais de 1.000 empregadores globais relevantes, abrangendo 55 economias. As perguntas, distribuídas em 12 idiomas, abordaram a adoção de novas tecnologias, transformações no mercado de trabalho e estratégias para a qualificação de mão de obra. Além disso, o estudo foi complementado com informações de plataformas especializadas do WEF e da FDC.
Um novo perfil do trabalhador
“Nossa visão não é nem um pouco catastrofista”, faz questão de declarar Hugo Tadeu, Diretor do Centro de Pesquisa de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral, em coletiva sobre o levantamento. De acordo com o estudo, o perfil do trabalhador está evoluindo significativamente em resposta às novas demandas do mercado, com profissões e posições em declínio, contudo, com a criação de diversas carreiras impulsionadas pela economia verde e pela digitalização das companhias. Nove entre 10 empresas se preocupam em oferecer formação para as novas demandas e há uma priorização pelo desenvolvimento de habilidades tecnológicas, como inteligência artificial (IA), Big Data e segurança cibernética. Cerca de 65% dos trabalhadores consideram a requalificação essencial para manter a relevância no mercado, enquanto 78% buscam treinamentos oferecidos por empregadores.
Flexibilidade no trabalho é uma prioridade, segundo a pesquisa, com 76% dos trabalhadores preferindo opções remotas ou híbridas. Além disso, 63% dos trabalhadores valorizam ambientes de trabalho diversificados e inclusivos.
Tendências para o mercado de trabalho
As principais transformações incluem mudanças tecnológicas, fragmentação geoeconômica, transição verde e mudanças demográficas. A amplificação do acesso digital é apontada como essencial, com destaque para:
– IA e processamento de informações (86%);
– Robótica e automação (58%);
– Energia renovável (41%).
A IA generativa tem crescimento expressivo, impulsionando setores como serviços financeiros, consultoria e educação. No entanto, sem regulações adequadas, essas tecnologias podem aumentar o desemprego e a desigualdade, ressalta Tadeu, ainda que o mercado esteja se mobilizando para resolver a questão.
A perspectiva econômica global também é de otimismo cauteloso, com preocupações sobre desaceleração econômica e tensões geoeconômicas.
Impacto demográfico
Países de alta renda enfrentam envelhecimento populacional, enquanto países de baixa renda têm crescimento da mão de obra jovem. Até 2050, espera-se que 59% da população em idade ativa esteja em países de baixa renda. Esse fenômeno exige soluções para equilíbrio no mercado global de trabalho, entende Tadeu.
Projeções de empregos
Espera-se que 22% dos empregos atuais sejam impactados, com a criação de 170 milhões de novos postos e a substituição de 92 milhões até 2030. Há profissões em crescimento e declínio:
Crescimento acelerado:
– Especialistas em Big Data, IA, Machine Learning e cibersegurança;
– Engenheiros de energia renovável e veículos elétricos;
– Analistas e cientistas de dados;
– Designers de UX/UI.
Declínio acelerado:
– Operadores de telemarketing;
– Caixas bancários;
– Assistentes administrativos e de registro;
– Trabalhadores de impressão.
A forma como os trabalhadores dessas posições serão realocados depende da visão do mercado empresarial. Há uma postura protecionista em relação a trabalhadores do mercado financeiro, por exemplo, que o especialista da FDC considera inadequada. “O ideal é que esses trabalhadores possam ter requalificação e oportunidades em outras áreas”, pondera Tadeu. “O empregador deve formar mão de obra qualificada para as novas tecnologias para que a gente as utilize a contento”, pontua.
Principais habilidades exigidas
Até 2030, 39% das habilidades precisarão ser transformadas. As mais demandadas incluem:
– Pensamento analítico (69%);
– Resiliência e flexibilidade (67%);
– Liderança e influência social (61%);
– Alfabetização tecnológica (51%).
Mercado de trabalho brasileiro
No Brasil, 37% das habilidades dos trabalhadores mudarão até 2030. Há desafios relacionados à formação básica e à requalificação. Quase 90% das empresas planejam aprimorar suas equipes, priorizando IA, Big Data e pensamento crítico.
Por fim, o relatório gerado em parceria do Fórum Econômico Mundial com a FDC, sinaliza que o futuro do trabalho exige colaboração entre governos e empresas para promover inclusão, sustentabilidade e qualificação. Países que investirem em tecnologias e treinamento estarão melhor preparados para enfrentar os desafios e aproveitar oportunidades.
(Participaram da análise, além de Hugo Tadeu, Bruna Diniz , Pesquisadora e graduanda em Relações Internacionais e Kauã Kenner: Pesquisador e graduando em Administração.)