Entrevista

Como integrar gerações no modelo híbrido de trabalho

Um dos principais desafios é a dificuldade das gerações mais antigas em aceitar a liberdade de trabalho e confiança no novo colaborador

de Jussara Goyano em 23 de fevereiro de 2022
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Com formações que vão de Engenharia a um MBA em Finanças, Tiago Alves empreendeu dentro e fora de organizações no Brasil, na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos. Há 6 anos consolidou sua carreira à frente da Regus e Spaces no Brasil – o grupo opera em mais de 120 países e aloca mais de 8 milhões de pessoas trabalhando de forma híbrida, em coworkings ou escritórios.

O executivo, que palestra sobre o futuro do trabalho, clash de gerações, sociedade 5.0, inovação e transformação digital em empresas, além de desmistificar o mundo dos escritórios flexíveis e de coworking na mídia e eventos C-level, mostrando que essas são ferramentas para todos os tipos de empresas – e que a retenção de talentos depende delas –, acaba de lançar o livro “Nem home nem office”, pela editora Gente.

A publicação aborda os pilares do trabalho híbrido e o que é necessário saber na hora de implementar esta nova cultura empresarial, preferência de 48% das empresas em 2022, segundo levantamento da Robert Half. À Plataforma Melhor RH ele fala com exclusividade sobre a interação entre gerações nos novos modelos de trabalho.

“Um líder que ainda não conseguiu se adaptar à essa nova estrutura dificilmente irá conduzir sua equipe para essa transformação”, entende Alves, da Regus e Spaces

Quais são os principais desafios nas interações geracionais no modelo híbrido? 

Um dos principais desafios que as empresas enfrentam com esse modelo ainda é a dificuldade das gerações mais antigas em aceitar a liberdade de trabalho e confiança no novo colaborador. Trata-se de uma geração que foi criada no modelo de comando e controle, onde itens como horário e presença muitas vezes eram mais importantes do que a performance. Por conta disso, muitas das vezes, os gestores (que vêm de uma cultura mais controladora), não conseguem se adaptar facilmente a essa nova política, e acabam sobrecarregando os seus liderados, com diversas reuniões por dia ou relatórios, só para terem a convicção de que aquele colaborador está trabalhando, ou uma falsa sensação de controle.  

Existe, também, o desafio da tecnologia. Ao mesmo tempo que os hábitos de trabalho das novas gerações tendem a ser mais íntimos do uso da tecnologia, facilitando as atividades, essa prática dificulta o trabalho de gerações mais antigas. 

Existe algum padrão/ queixa específica de determinada geração sobre modelos híbrido ou presencial de trabalho? 

Interessante que a Geração X, ou mesmo as gerações mais antigas, querem um retorno presencial cada vez mais constante. Afinal de contas, é uma geração que foi acostumada que trabalho é realizado em escritório. Já as gerações mais novas, como a geração Y ou Z, vai no sentido oposto.  

Os mais novos, da geração Z, preferem um trabalho 100% remoto, enquanto a geração Y busca exatamente o balanço perfeito entre alguns dias no escritório e alguns dias em casa. No final das contas, é exatamente essa grande mescla de gerações e de pontos de vista que faz com que o trabalho híbrido seja implementado nas grandes empresas. 

Qual o papel das lideranças nessa integração geracional nos novos modelos de trabalho? 

O papel do líder nesse momento de mudança é, principalmente, de garantir que todos tenham a mesma experiência positiva nessa transição, seja o colaborador da geração Baby boomer ou Millennial. Para isso, a empresa precisa rever a sua cultura e propósito, já considerando as expectativas criadas por cada geração em relação ao ambiente profissional.  

Vale ressaltar que um líder que ainda não conseguiu se adaptar à essa nova estrutura dificilmente irá conduzir sua equipe para essa transformação. Dessa forma, a companhia deve estar atenta à essas mudanças e investir, cada vez mais, em treinamentos e atualizações para seu time de gestores a fim de garantir que todos estejam na mesma página e sintonia quando essa transição ocorrer.  

Qual a importância das tecnologias nessa integração? 

A chegada de novos sistemas de gestão, cada vez mais completos, não só agrega valor à empresa, como também diminui a carga de cobrança desnecessária imposta nos gestores e nos colaboradores como um todo. Hoje, já vemos diversos formatos e estruturas de trabalho digitais que junto com outras metodologias ágeis, como o Scrum e Kanban, colaboram na facilidade de comunicação entre as equipes e tornam a integração e gestão de sistemas ainda mais simples. E isso é o quesito número um, para quem quer implementar o modelo de trabalho híbrido na sua empresa. Não basta apenas dividir os dias de trabalho entre casa e escritório. É preciso ter a garantia de que seu time esteja seguro e atualizado das tarefas em andamento e objetivos, independentemente de onde estiverem.

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