Tecnologia

Como o ChatGPT afeta o departamento de RH

Ferramenta chega para auxiliar na busca e na produção de conteúdos relacionados a processos importantes da gestão de pessoas. Entenda

de Jussara Goyano em 28 de fevereiro de 2023
Perig76/ Freepik.com

Como encontrar os melhores termos para fazer um comunicado delicado ao time? Como ser mais assertivo nos conteúdos que vão fazer parte do onboarding, da intranet e outros pontos de contato importantes entre empresa e colaborador, e que contribuem para a construção da cultura e das relações organizacionais? Qual a melhor descrição para determinada vaga para a seleção de pessoas?

São questões corriqueiras, mas relevantes, com as quais profissionais, da liderança ao operacional, nos setores de recursos humanos e comunicação interna se deparam diariamente. E com a ajuda de tecnologia podem ser respondidas mais rapidamente e de forma mais precisa.

Um novo protagonista na solução desses dilemas tem sido alvo de veneração e de dúvidas, ao mesmo tempo: o ChatGPT, chatbot lançado em OpenAI, que teve a participação de Elon Musk (Tesla, Twitter) como sócio em sua criação. Há quem tema (ou deseje) que essa nova aplicação, que funciona com inteligência artificial, faça sozinha todo o trabalho desses departamentos.

Contudo, não é bem assim que funciona a alardeada ferramenta, já amplamente utilizada para inúmeras tarefas em diversos setores das empresas. O ChatGPT foi criado com objetivo de atuar um passo a frente de assistentes virtuais, como Alexa ou Google Assistente, sendo também uma alternativa para o uso de buscadores oficiais na Internet e outros chatbots menos modernos.

O diferencial está na entrega dos conteúdos buscados, que vêm formatados com um ar “autoral”, como se tivessem sido compilados por alguém, além de um processamento diferenciado das informações. No entanto, é necessário avaliar essas produções – poemas, letras de músicas, textos simples, respostas em atendimento ao cliente – antes de utilizá-las para qualquer finalidade.

Baseado em machine learning, o algoritmo da plataforma, determinado por certos padrões de linguagem, é capaz de buscar informações solicitadas, contextualizá-las e criar textos originais, blindados até mesmo contra sistemas anti-plágio. Contudo, este não checa sozinho as fontes e baseia-se apenas em informações presentes em sua plataforma, sem acesso a atualizações na web, em tempo real.

Sua grande contribuição é a praticidade de uso no dia a dia da produção textual, como um dicionário, um corretor ortografico digital, tal qual uma calculadora funciona para quem lida com números. Devido às suas limitações, no entanto, “não dá pra não ter um olhar humano e crítico no que a ferramenta traz”, entende Paula Esteves, co-CEO da Cia. de Talentos, consultoria na área de recursos humanos.

Paula, da Cia de Talentos: uso do ChatGPT em dinâmicas já é uma realidade
(Foto: Divulgação)

Ela faz o trabalho que faríamos entrando em cada resultado de busca sobre o tema solicitado em um buscador comum da Internet, absorvendo as informações, mas nesse caso as pessoas avaliam as fontes segundo critérios para além do SEO (Search Optmizer Enginer – otimizador de busca) e têm acesso a dados atualizados. O ChatGPT pode, inclusive, trazer fake news em sua pesquisa ou dados que muitas vezes não são relevantes para o objetivo do operador ou são enviesados, sendo necessário confirmá-los ou editá-los.

“O dferencial do humano, que é o pensamento crítico, a emoção, essa capacidade de curadoria vai ser cada vez mais utilizada, enquanto faremos cada vez menos o trabalho operacional”, prevê Paula que já usa o ChatGPT em seus projetos. Segundo a executiva, esse tipo de plataforma pede que os profissionais que a operam ocupem um lugar de destaque na gestão de informação e conhecimento: o da estratégia.

Participante oculto

Como exemplo de utilização do ChatGPT em recursos humanos, a executiva menciona uma análise do perfil de candidatos, com uma dinâmica que incluía a ferramenta, como se fosse um participante a mais nos grupos de profissionais avaliados. “Eles usavam pra buscar conteúdo pra aprimorar uma apresentação, pra ter mais dados. Mas sempre o grupo trazendo um olhar crítico sobre o tema, pensamento estratégico”, conta Paula.

Outra forma de usar o recurso nas seleções, segundo Paula, é ter o seu apoio para criar desafios nas dinâmicas. Também é possível construir um banco de perguntas para serem feitas nas entrevistas, encontrar as melhores palavras-chaves para uma vaga ou posição. “Ele também pode construir planos de carreiras, adaptando ao mercado e ao nicho”, enumera Paula.

Fora isso, ela conta que a ferramenta pode ser utilizada para aprimorar trilhas de treinamento corporativo, uma vez que a IA “aprende” com os conteúdos pesquisados, entregando resultados cada vez mais em linha com a curadoria necessária e a empresa pode comunicar com mais assertividade o que precisa ser absorvido pelo colaborador.

Só não dá para deixar de fora a novidade, destaca a executiva. A adesão a esse tipo de ferramenta, entende a CEO, será crescente e para as mais diversas finalidades. Estudo realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.Br), mostra que 22% das empresas pequenas e 37% das grandes já adotaram a inteligência artificial no seu dia a dia, com a implementação de softwares de RH e gestão.

O ChatGPT seria mais uma das plataformas disponíveis para esse mercado, inclusive com forte potencial para ajudar a tratar de temas delicados nas companhias. Outra pesquisa realizada em 2020 pela Oracle e pela Workplace Intelligence mostrou que 64% dos colaboradores brasileiros preferem interagir com um chatbot para tratar do assunto “saúde mental”, por exemplo. Fora do país esse público chega a 68% dos participantes do levantamento.




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