Na noite de 11 de março, o Teatro CIEE, em São Paulo, foi palco de um encontro enriquecedor entre grandes nomes do setor de Recursos Humanos no Brasil. O bate-papo sobre inovação em RH, que antecedeu a entrega da premiação Melhor RH Innovation aos projetos e marcas mais inovadores em gestão de pessoas, reuniu Vivian Broge (Vice-Presidente de Recursos Humanos na TOTVS), Fernando Viriato de Medeiros (Vice-Presidente Sênior de Talento e Cultura na Accor) e Bruno Szarf (VP Global de Gente e Cultura na Stefanini Group). A conversa foi mediada por Gerson Ferreira, sócio e Estrategista de Cultura & Comportamento Humano na Innoway. Todos são jurados da iniciativa, promovida pela Plataforma Melhor RH e pelo CECOM – Centro de Estudos da Comunicação.
A discussão antecipou parte do conteúdo que será oferecido no Fórum Melhor RH Innovation, evento online e gratuito que acontece em 14 e 15 de abril. Os depoimentos giraram em torno da inovação no RH e sua relação com a cultura organizacional e com a estratégia do negócio.
O fim da estabilidade organizacional
Ao longo do debate, Ferreira fez várias provocações e trouxe, inicialmente, uma reflexão sobre a resistência humana à incerteza e como isso impacta a inovação: “O ser humano, desde a pré-história, desenvolveu seu cérebro para lidar com certezas. Queremos ter certeza no amor, na área financeira e, nas empresas, não é diferente. Então, lidar com a incerteza é algo desafiador”.
Ele também enfatizou que a inovação exige um rompimento com a estabilidade organizacional: “Quando falamos de inovação, estamos falando de riscos, sejam pequenos ou grandes. Mas ao mesmo tempo, muitas empresas e seus RHs buscam equilíbrio e harmonia no ambiente. Como equilibrar eficiência operacional e ousadia?”, provocou.
Além disso, o executivo apontou que, apesar das boas intenções das lideranças de RH, muitas vezes há uma discrepância entre o discurso e a prática: “Vejo que, no mercado corporativo, há uma dificuldade real. O executivo de RH pode ter uma ótima intenção de promover a inovação, mas, na hora da entrega de resultados, a pressão por números e eficiência operacional fala mais alto. Como criar um espaço onde as pessoas sintam liberdade para testar novas ideias sem medo de falhar?”, indagou. para que os demais participantes destacassem seus exemplos.
Identidade e imaginação
Vivian destacou que, na TOTVS, a inovação é parte da identidade da empresa: “Dentro da TOTVS, a primeira coisa a se dizer é que inovação é parte do que a gente é. Então, não é de uma área, não é de uma liderança, é de todos e todas”. Para ela, um dos desafios contemporâneos do RH é estimular a imaginação e a criatividade dos colaboradores para lidar com cenários futuros. “No momento que a gente está vivendo de IA, que a gente vai ter ajuda de tecnologia para resolver uma série de tarefas repetitivas, mais do que nunca, a tarefa de toda boa liderança será trabalhar a imaginação”. A executiva citou um exemplo de um exercício interno da TOTVS, onde o time de RH foi incentivado a levantar perguntas para as quais não tinham respostas e imaginar possíveis soluções para esses desafios.
Ela também pontuou a importância da relação entre inovação e erro: “Para você fomentar a inovação, você tem que fomentar a tentativa de erro. Se, na primeira tentativa de alguém que não der certo, sofrer uma tremenda reprimenda, a gente fica vacinado. A chance de isso acontecer de novo vai diminuindo”.
Vivian abordou, ainda, o papel das lideranças na promoção de ambientes inovadores. Para ela, “se a liderança é inovadora, ela cria um contexto para que sua equipe se sinta confortável com a incerteza”.
Criar e impactar
Já Viriato trouxe a perspectiva da hotelaria e ressaltou que criatividade sem impacto tangível não gera valor. Na Accor, um grande desafio é disseminar boas práticas entre suas diversas unidades franqueadas. “A velocidade com que os outros nos copiam também é super importante, porque vai fazer com que a inovação se espraie para o conjunto das outras unidades”. Ele também destacou a importância do trabalho em equipe: “De nada adianta você ter uma surpresa muito legal num restaurante, com uma comida maravilhosa, se você vai tomar banho e a água está fria. A experiência do cliente é a experiência da equipe”.
O executivo destacou, também, que a inovação depende do engajamento e da mobilização das pessoas e que um diferencial está em como empresas criam um ambiente onde colaboradores comuns geram resultados extraordinários. “A grande questão é como você faz pessoas comuns gerarem resultados incomuns. Eu acho que está aí o diferencial”. Ele reforçou que a próxima grande revolução não será tecnológica, mas sobre conexões humanas: “A próxima inovação são as relações humanas, não a tecnologia”.
Pode errar
Szarf, por sua vez, trouxe um ponto provocativo: “O RH normalmente procura harmonizar o ambiente, que o ambiente seja saudável, que seja ótimo pra todo mundo. Mas inovar é o contrário. Inovar tira a segurança, tira a certeza, porque eu não sei o que vai acontecer”. Ele ressaltou que a transformação cultural passa por exercitar a inovação constantemente e criar um ambiente onde errar seja permitido. “É muito mais gostoso eu chegar no mesmo horário, segurando o mesmo café, sentar na mesma mesa, fazer o meu trabalho e receber o feedback. É muito mais complexo você chegar no seu trabalho e não ter a sua mesa, porque agora a gente inventou que não tem mais sua mesa”.
O executivo também enfatizou que muitas vezes a inovação pode causar um estranhamento inicial entre os próprios colaboradores. “Quando mudamos processos, a adaptação pode gerar desconforto. Como criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para inovar, mesmo em meio à incerteza?”, indagou, sobre o grande desafio que se desenha nas companhias. Como exemplo, citou o caso de um estagiário que se sentiu frustrado ao ouvir que deveria “pensar fora da caixa”, mas teve cinco ideias rejeitadas. “Ou seja, estão me botando dentro da caixa. Eu não estou entendendo qual caixa eu tenho que estar”.
A troca de ideias que antecedeu a premiação reforçou a importância do papel do RH como catalisador da inovação. Longe de ser apenas um setor administrativo, o RH moderno precisa promover um ambiente de aprendizado contínuo, adaptação às mudanças e um equilíbrio entre a eficiência operacional e a criatividade. Afinal, como resume Szarf, “Inovação é sobre se acostumar com a incerteza”.
Para quem quiser conhecer a programação e se inscrever no Fórum Melhor RH Innovation, basta acessar o link https://bit.ly/FMRHINN e seguir as instruções.
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