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Inconsistência de currículo é a ponta do iceberg

de Alexandre Pegoraro em 6 de julho de 2020

Embora tenha acontecido na esfera pública, o problema da falta de exatidão das informações declaradas no CV que já era grave, foi amplificado também na inciativa privada em razão do isolamento social.

A exigência do home office e a contratação online primeiramente provocaram o temor dos gestores quanto à queda do engajamento e produtividade dos colaboradores, o que, na maioria dos casos se provou infundado.

Com este obstáculo superado, o maior desafio passou a ser o risco na contratação para a garantia do comportamento ético em todos os níveis da organização.

Se por um lado as crises geram muitas demissões, por outro elas também geram a necessidade de preenchimento imediato de vagas. No caso atual, há a particularidade: como o contato entre as pessoas precisa ser mínimo, e muitas empresas estão contratando sem sequer ver o colaborador pessoalmente, como ser mais assertivo neste cenário sem aumentar os riscos?

De acordo com levantamento da PwC de 2018, intitulado “Tirando a fraude das sombras – Pesquisa Global sobre Fraudes e Crimes Econômicos”, no Brasil, a metade das empresas declarou que já foi vítima de fraude. E 65% dos entrevistados acreditam que a oportunidade é o principal fator que contribuiu para fraude.

Se casos de corrupção e desvio de conduta já ocorriam mesmo dentro do ambiente empresarial, como evitar que longe dos olhos e ouvidos dos colegas de trabalho as práticas antiéticas se proliferem? A oportunidade faz o ladrão e é muito importante, neste sentido, conhecer o histórico da pessoa para evitar surpresas negativas no futuro.

O primeiro passo começa com o processo seletivo que, sendo digital ou presencial, deve contar com uma análise criteriosa do perfil do candidato. É preciso saber se ele realmente fala a verdade em sua apresentação, o que requer a análise dos documentos e a averiguação até do próprio currículo, vide o recente caso de Carlos Decotelli.

O problema é que ir fundo em uma avaliação criteriosa demanda tempo, mão de obra e recursos, fatores que claramente são preciosos e não podem ser desperdiçados ainda mais em uma conjuntura adversa como a atual. As ferramentas tecnológicas, nesse sentido, vêm a solucionar esta questão.

De acordo com o Gartner, até 2023, os gastos organizacionais com tecnologias de gerenciamento de riscos para apoiar a devida diligência e monitoramento aumentarão em 50%.

Com o uso de mineração de dados e crawling, é possível apontar com precisão o envolvimento de determinada pessoa ou empresa, seus sócios ou familiares, em casos de fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, crimes ambientais ou emprego de mão de obra escrava e infantil.

Além disso, pode-se descobrir se a pessoa está politicamente exposta, ou não. Uma investigação de mais de 1.300 fontes, por meio do CPF, em poucos minutos.

As informações são procuradas junto a processos em todos os tribunais brasileiros, Ministérios Públicos do Trabalho, COAF, OFAC, FATCA, OIT, assim como em cadastros negativos de crédito como Serasa e SPC, para detectar a existência de cheques sem fundos e protestos, por exemplo.

O segundo passo é prover treinamentos e conscientização do quadro de colaboradores, além de canais abertos de comunicação. Nesse sentido, vem a preocupação em demonstrar a cultura da empresa a todos, seu código de conduta e ética, algo que deve ser alvo de constante vigilância dos departamentos de RH e compliance.

Adaptações exigem novas atitudes. A pandemia consolidou a mobilidade do home office como uma alternativa que veio para ficar e que, sem dúvida, traz inúmeros benefícios para a qualidade de vida.

Por outro lado, a distância entre contratantes e contratados também amplia as oportunidades para problemas que podem ser apenas de imagem com uma demissão obrigatória cinco dias após a contratação, mas também mais sérios como manter um profissional mal intencionado tendo acesso a informações e ambientes estratégicos por muito tempo trazendo prejuízos de toda espécie à organizações.

Felizmente, a tecnologia oferece condições para a perfeita adaptação. Mas ela só pode ajudar se for apoiada pela atitude. E aí depende de cada um.

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Alexandre Pegoraro

Alexandre Pegoraro é CEO da Kronoos, startup que oferece uma plataforma de compliance capaz de garantir a segurança necessária em qualquer tipo de parceria estratégica.