Saúde mental

Janeiro Branco evidencia panorama da saúde mental nas empresas

Enquanto 87% das empresas brasileiras tiveram afastamentos, companhias que promovem o bem-estar observam melhora no engajamento em 35%

de Jussara Goyano em 12 de janeiro de 2024

Lei nº 14.556, sancionada em abril do ano passado, instituiu a campanha Janeiro Branco, com objetivo de conscientizar sobre cuidados com a saúde mental. A iniciativa é um dos reflexos de números galopantes sobre o tema no País. Em 2018, segundo levantamento global de bem-estar do Instituto Ipsos, quase 20% dos brasileiros consideravam problemas de saúde mental como a principal preocupação. Em 2023, esse percentual subiu para 52% (de um total de 1000 entrevistados no Brasil).

No trabalho, tema também preocupa, segundo os dados mais recentes: no final de 2023, um estudo da Conexa, ecossistema digital de saúde, revelou haver afastamentos por problemas psicológicos em 87% das organizações. A pesquisa ouviu 1589 trabalhadores, entre gestores e profissionais de recursos humanos de 767 empresas brasileiras. Por ordem de grandeza, ansiedade é ocorrência que mais afasta (51%), de acordo com os pesquisados, seguido por depressão (17%), estresse (16%) e síndrome de Burnout (14%). 

Érica Maia, da Conexa: saúde mental promove ambiente saudável e colaborativo

Programas de saúde mental nas empresas, contudo, combatem esses problemas, e também são vistos com bons olhos pelos colaboradores. Além disso, são estratégicos e essenciais para as companhias, entende Erica Maia, médica psiquiatra e Gerente de Saúde Mental da Conexa, que atende o setor corporativo com diversas soluções nesse sentido. O Janeiro Branco seria o momento de repensar ou implementar planos nessa direção, mas, acima de tudo, evidenciar os resultados positivos dos cuidados com o bem-estar psicológico nas organizações.

“Investir em programas de saúde mental não deve ser visto apenas como um benefício para a empresa; é uma estratégia de negócios para que haja um ambiente colaborativo, saudável, com mais produtividade e retorno financeiro para as corporações”, ressalta a executiva.

Outras empresas voltadas à saúde corporativa também corroboram esse olhar. Um estudo realizado pela Alice, plano empresarial de saúde, em conjunto com  BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Caju, Grupo Fleury, Gupy, O Futuro das Coisas e Zazos também aponta caminhos, que passam por melhores estratégias de saúde holística, envolvendo saúde física, mental e cuidados com a nutrição.

A pesquisa, intitulada Pulso RH ouviu 1.000 pessoas de diversas organizações em todo o país e constatou que 30% dos entrevistados sentiram sintomas de burnout, mesmo sem o diagnóstico oficial da condição. Também 40% dos trabalhadores afirmam que seus empregadores não se preocupam com o bem-estar e saúde mental dos colaboradores. Entre aqueles cujas empresas promovem esses cuidados, 48% afirmam que a empresa promove o bem-estar mental, mas os aspectos físico e nutricional são deixados de lado.

“Atualmente, é crucial que as empresas adotem uma abordagem holística em relação à saúde de seus colaboradores”, afirma Sarita Vollnhofer, CHRO da Alice, lembrando que saúde física e mental estão intrinsecamente ligadas.

Sarita Vollnhofer, da Alice: abordagem holística de saúde

“Mesmo não sendo uma obrigação das instituições, engajar os colaboradores a buscarem práticas saudáveis, criar uma cultura que estimule a equipe a utilizar os benefícios oferecidos e praticar exercícios físicos têm reflexos positivos no bem-estar e na retenção de talentos. Empresas têm o poder de serem catalisadores de transformação na saúde das pessoas que trabalham nelas”, acredita a executiva.

Um achado importante da pesquisa é a correlação entre bem-estar e engajamento – este último é 35% maior nas empresas que se preocupam com o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores. Nessas organizações, 77% dos profissionais dizem compartilhar mais dos valores da empresa quando percebem esse cuidado. Quando não há essa preocupação, esse percentual chega a apenas 58%.  

Terapia salva vidas

“Quando nos deparamos com depressão e ansiedade, primeiro fator difícil é a aceitação, principalmente quando somos de uma geração para a qual isso era dito ser fraqueza – quebrar estereótipos não é fácil. Após aceitação interna, vem o receio da aceitação e da compreensão de seu empregador, amigos, familiares etc. E neste posto tive muita sorte”, conta Daniele Polloni D Angelo, advogada do Banco BMG.

Daniele D Angelo, do BMG: vida salva pela terapia

A executiva teve acesso on-line ao Psicologia Viva, programa de atendimento psicológico contratado da Conexa, que a empresa disponibiliza de forma gratuita. “Pegar guia no convênio, achar psicólogo que tivesse agenda, que fosse perto, era muito complicado, o que me fez desistir do tratamento”, compara Danielle, com benefícios tradicionais de saúde utilizados anteriormente. A atenção de oferecer uma abordagem bastante acessível pelo BMG fez toda a diferença a ela. 

“A terapia hoje é parte essencial da minha vida, gostaria muito que todos tivessem acesso, pois realmente muda e salva vidas. A minha foi salva.”

Rafael Jurado Neto, do BMG: vida mais plena

“Após superar a primeira batalha, muitos desafios permanecem, mas terapia se transformou nas sementes da esperança de superação”, conta, por sua vez, Rafael Jurado Neto, Cientista de Dados Sênior do BMG.  Neto passou por processo idêntico a Danielle, ao tratar um câncer no olho.

“A terapia não apenas me proporciona estratégias para lidar com o impacto emocional da doença, mas também fortalece a minha resiliência, impulsionando-me a avançar. Nesse processo, descubro ferramentas valiosas para enfrentar as adversidades e construir uma base sólida para uma vida plena.”

“O Bmg oferece um leque de benefícios que tem como principal objetivo garantir o atendimento para todos os colaboradores e seus dependentes”, conta Vanessa Rodrigues Fermino, Analista de Recursos Humanos do BMG. O cuidado com a saúde mental é um dos pontos fortes do banco, explica a executiva.

Vanessa Fermino, do BMG: saúde mental é ponto forte do banco

“Falamos sobre o tema em nossa rede social interna, Workplace, e em nossa página no Instagram, exclusiva para funcionários chamada Vem de Você“, enumera Vanessa. “Temos uma página dentro do Workplace chamada Viva Bem BMG, onde divulgamos todas as ações de saúde e muito conteúdo sobre saúde mental”, relata a Analista de RH sobre o forte trabalho de conscientização da empresa.


Sobre a solução Psicologia Viva, o intuito da contratação foi oferecer quatro consultas mensais sem custo aos colaboradores. “E isso vale também para os dependentes diretos (cônjuge e filhos)”, acrescenta Vanessa.

Julia Martins, da Afya: sessões fundamentais

Na Afya, o mesmo benefício também auxilia os colaboradores, por meio de telepsicologia. Julia Martins, Psicóloga e Procuradora Institucional e Professora do curso de Psicologia na Uniredentor Afya (RJ), faz uso das sessões de 15 em 15 dias e vê bons resultados.

“As sessões estão sendo fundamentais para me ajudar a lidar com os desafios do dia a dia, aprimoramento do autoconhecimento e regulação emocional”, relata a executiva.

Cyro Moraes, publicitário, Gerente Audiovisual na Afya e Embaixador do Amigos Inclusivos, grupo de afinidade com foco em discussões para pessoas com deficiência e anticapacitismo, entende que o benefício estendido a familiares é fundamental. Também avalia o impacto da psicoterapia em sua vida.

Cyro Moraes, da Afya: ajuda nas relações familiares

“No geral tem promovido mudanças muito positivas em minha vida”, pondera o executivo. A extensão desse acesso aos dependentes legais “ajuda demais nas relações familiares, como suporte para todos aprenderem a lidar de maneira mais eficaz com conflitos e desentendimentos, promovendo um ambiente mais harmonioso em casa”, avalia, também, Moraes. 

Michelle Dentes, da Afya: medida preventiva e humanizada

“A Afya está comprometida com a saúde mental e bem-estar de todos os seus colaboradores. Um dos nossos objetivos com essa e outras ações é que a saúde mental seja tratada na companhia não apenas como uma medida emergencial, mas de forma preventiva e humanizada”, conta Michelle Wizenberg Dentes, diretora de Desenvolvimento, Remuneração e Bem-Estar da Afya. 

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