A primeira edição do Fórum Melhor RH Agro – O desafio de ser mais com menos, promovido pela Plataforma Melhor RH na última terça-feira, apresentou um agronegócio alinhado às atuais exigências empresariais de governança sólida, sustentabilidade e marcas empregadoras fortes – tudo que se reflete diretamente na atração, desenvolvimento e retenção de talentos no setor. A pandemia acelerou mudanças nos modelos de trabalho, gestão e obrigou à modernização do setor tendo em vista esse cenário. O agro hoje é pop, tech e, acima de tudo, social e ambientalmente responsável.
Os painéis 6 e 7 do evento foram emblemáticos nesse sentido.
Em “Hora de colher sustentabilidade – A virada de chave na gestão ESG”, com a participação de Flávia Lisboa Porto, Diretora de RH na Yara Brasil, Maria Beatriz Palatinus Milliet, Sustainability Executive Manager da Coopersucar; Mariluci Pinheiro Rossi, Diretora de Administração e RH da UsinaCoruripe, O ESG como fator de saúde no Agronegócio foi o tema central.
Flávia apresenta dados estatísticos alarmantes que reverberam a importância em colocar esse tema nos holofotes da busca por soluções. Ela está na empresa há 5 anos e diz que seu maior propósito é fazer um trabalho real de impacto para a sociedade. “Hoje, infelizmente nós temos um número perto de 24 mil pessoas que ainda morrem de fome no planeta por dia. Esse número não é por semana, não é por mês, é por dia. A gente está falando de uma pessoa a cada 4 segundos. Portanto, ter um olhar sustentável no agronegócio significa que a médio e longo prazo não só para as nossas gerações, mas para as que virão, exista um planeta para habitar, exista alimento para consumir”, compartilha sua indignação.
Mariluci concorda que a importância de se conectar e estar em uma empresa que gera valor para si está cada vez mais em evidência. Aponta ainda que a procura por um emprego está hoje tem relação com muitos detalhes. Não apenas mais a salário e benefícios. Os valores da empresa precisam estar em conexão com que o colaborador também acredita. “Quando a gente vai falar do tema sustentabilidade, sempre vem uma palavra na minha cabeça que é a questão do equilíbrio. O que é a sustentabilidade? É a gente encontrar o equilíbrio entre o que nós temos de recursos à disposição e a nossa utilização de maneira com que a gente consiga prover para as gerações futuras”, expõem a executiva. Segundo Mariluci o agronegócio já se utiliza de algumas ferramentas e de alguns processos que trabalham a sustentabilidade antes do tema ser tão debatido.
Maria Beatriz entra no debate falando sobre a sustentabilidade em cadeia. Para ela, o Brasil é o país que alimenta o mundo, que tem o potencial de energia limpa do mundo e é o país mais ambiental do mundo com um quinto da biodiversidade reunido em seu território. A executiva reflete como a transformação da sustentabilidade para o ESG muda o mundo e permite ainda fazer negócio. “Temos que pensar em toda a cadeia e como as companhias e setor são importantes para todo um desenvolvimento de geração de renda, geração de alimento, geração de energia”, comenta Beatriz.
Dessa fala, Flávia puxa uma reflexão sobre os desafios e oportunidades. “Não existe negócio sem impacto, seja impacto positivo, seja impacto negativo”, diz ela e completa que esse impacto afeta as pessoas de forma diferente. E as pessoas que estão na posição de tomadas de decisões impactando a vida das comunidades não vem de outro planeta, mas sim dessa mesma comunidade. Fazem parte, são pertencentes a todo o processo. Daí também a importância de entender como as organizações podem deixar o planeta melhor.
Mariluci levanta uma questão comparativa com a linha histórica em que a sustentabilidade era tratada quase como filantropia. Por muito tempo teve esse conceito, mas de um tempo para cá assumiu um papel estratégico para a manutenção do negócio. “Um dos nossos desafios é realmente fazer essa manutenção e fazer com que as pessoas acompanhem essa evolução e essa tecnologia que acontece nesse negócio”, reflete a executiva.
Para ela houve uma grande virada de chave no setor. “Nós melhoramos nossa técnica de irrigação, de adubação, a gente começou a pensar no momento de produtividade através de crescimento vertical e tudo isso em linha com a manutenção e com a sustentabilidade não só do meio ambiente, mas também do negócio”, complementa.
Maria Beatriz pega esse gancho e amarra ao conceito de impacto que norteou o começo do debate. Para ela, o próprio tipo de agricultura e sua evolução dos últimos anos é gigantesca e exige olhar com atenção e quando o setor fala de impacto, a primeira sensação é que ele seja negativo. Há muitos desafios e pontos principais, mas sem dúvida houve uma grande melhoria tecnológica, mudança de processo produzindo mais com menos, com qualidade trabalhista e segurança infinitamente maior e é importante olhar sob essas perspectivas.
Economia circular, agricultura regenerativa, cotação de cultura são termos em pauta hoje, mas que muitas empresas do agro já se debruçavam há tempos. A lição que fica desse debate é que a sustentabilidade é um processo que precisa ser iniciado com o primeiro passo. Ao começar um trabalho hoje, o efeito aparece ao longo do tempo. Não é uma coisa que se vira a página e acontece. Por isso é necessário um trabalho transversal para que todas as áreas fiquem engajadas no mesmo propósito de trazer benefícios para um planeta feito de pessoas.
Pessoas e meio ambiente
Já no painel “O RH do futuro é verde – A missão da gestão de pessoas na preservação ambiental“, a questão ambiental no centro das decisões transversais de negócios do setor foi o tema central. Participaram do debate Fabiano Rangel, Head Desenvolvimento Organizacional e Institucional da Leão Alimentos e Bebidasç Jennifer Zuliani, Partner da Unidade de Pessoas e Governança da ESG Tech Consulting e Mariana Schuchowski, CEO e Fundadora da Verde Floresta | Sustentabilidade e Negócios de Impacto.
Rangel levanta uma provocação para as outras participantes, pedindo para as executivas falarem sobre a participação das mulheres no mercado Agro e também solicita que elas destaquem quais são os principais desafios do ponto de vista do ESG dentro do próprio desenvolvimento das organizações.
Mariana começa contando sobre o trabalho da organização Rede Mulher Florestal, uma associação que nasceu há cerca de 5 anos com o objetivo de motivar a participação da mulher em um mercado tradicionalmente machista. Além disso, ela destaca que o ESG vem com uma “roupagem nova” para temas em que o mundo já fala há muito tempo, mais de 20 ou 30 anos, tais como responsabilidade social, sustentabilidade corporativa e impactos ambientais. Essas diferentes abordagens sempre quiseram trazer uma melhor relação dessas empresas com seus impactos negativos, e foi sendo enfatizando que cada empresa depende de pessoas, recursos naturais e serviços da biodiversidade.
Nesse sentido, Rangel destaca: “toda organização, sem perder de vista, é composta de pessoas que estão no dia a dia tomando decisões. E pela perspectiva que chama para o olhar da interdependência, para eu existir, dependo diretamente do outro. Para o outro existir, depende diretamente de mim e assim, consequentemente, a gente vai construindo diferentes relações”. Para ele, quando é possível desenvolver esse olhar sistêmico dentro da organização do campo à mesa, se percebe que toda cadeia produtiva, na sua agregação de valor, vai depender mais ou menos de recursos ou serviços naturais ou ecossistêmicos. Por isso o executivo alerta que entender essa realidade é fundamental.
Mariana concorda e enfatiza: “Essas decisões (de pessoas) podem ser mais ou menos sustentáveis. Elas podem ter um olhar mais cuidadoso em relação, por exemplo, à forma como o meu provedor de matéria prima x, y ou z, faz essa extração, produção ou logística lá no campo. Portanto, há uma série de coisas que precisam ser incluídas nesse espaço de visão sistêmica”, comenta ela.
Jennifer alerta que o letramento sobre o tema é realmente um grande desafio, já que, em diversos casos, projetos atendem um tópico importante nesse sentido, mas não é feita toda uma estratégia de comunicação interna que impacte na transformação dos valores culturais para a celebração efetiva de seus resultados. Para ela, esse é um processo, uma jornada, que precisa partir de dentro para fora e não o contrário.
Outros temas
Pandemia e comunicação
- No primeiro painel (Como cultivar propósito), as estratégias para alinhar valores dos colaboradores aos da empresa foram tema de debate. Segundo os participantes – Edilson Anjos, Diretor de Gente e Gestão da Piracanjuba; Flávia Ramos, Vice-Presidente na Bayer para a área de Cultura e Talentos na América Latina; e Renato Acciarto, Comunicação Corporativa, Relações Governamentais e Sustentabilidade -, o legado dos últimos anos e os desafios do setor moldam, hoje, a construção da cultura nas organizações.
- Já no oitavo painel (Fazer mais por menos), Rafael Barreto, Gerente de RH da Ouro Fino; Renato Acciarto, Comunicação Corporativa, Relações Governamentais e Sustentabilidade, e Wellington Silvério, Diretor de Recursos Humanos para América Latina da John Deere mostram como o próprio negócio no setor influenciam o propósito, aliados à performance e otimização de recursos.
(Veja o conteúdo destes painéis aqui)
O campo é delas e de toda a diversidade
- No segundo painel (Lugar de mulher é no campo?), Ana Apolaro, VP RH LATAM da ADM do Brasil; Cristine Castro, Diretora de RH Brasil – Business Brasil da Syngenta Proteção de Cultivos; e Tatiane Petry, Gerente Executiva de Agronegócios C.O. da BRF, expuseram cases de inclusão de suas empresas e carreiras, mostrando que a presença feminina em empresas do agro é uma realidade crescente.
- O quinto painel (Os frutos da inclusão) mostrou os benefícios da diversidade de maneira geral e o estágio de algumas empresas do setor com relação ao tema, com a participação de Cláudia Duarte Vergara, Gerente de Desenvolvimento de Pessoas e Comunicação Interna da Irani; Cássia Monteiro, Gerente de Comunicação Interna da Kavak, e Simone H. Beier, Diretora de RH da Cargill.
(Acompanhe as discussões)
A grande seca
- No terceiro painel (Cadê o colaborador que estava aqui?), a escassez de mão de obra no campo e o desafio de atrair novas gerações para o setor foram abordados por Elcio Trajano Jr., Diretor de RH, Comunicação e Sustentabilidade da Eldorado Brasil Celulose; Nereu Bavaresco, Diretor de Gente e Gestão da Amaggi, e Tiago Mavichian, Fundador e CEO da Companhia de Estágios.
(Acesse o conteúdo deste painel aqui)
Treinar para reter e crescer
- O movimento necessário para treinar e desenvolver equipes no setor para evoluir constantemente e com sustentabilidade foi tema do painel Semeando conhecimento, com a participação de Edna Rocha, Executiva de Recursos Humanos na Sonepar, e Felipe Neufeld, Diretor de Gente e Gestão da Agrogalaxy.
(Acesse o conteúdo deste painel aqui)
Assista ao evento completo aqui.
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