Diversidade

Mulheres na tecnologia: desafios nas contratações e o papel da capacitação

De acordo com um estudo da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), apenas 20% dos profissionais da área são mulheres no Brasil

de Jussara Goyano em 7 de março de 2025
Freepik.com

A presença feminina no setor de tecnologia ainda é limitada. De acordo com um estudo da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), apenas 20% dos profissionais da área são mulheres no Brasil. Globalmente, essa disparidade se mantém, com números apontados pelo World Economic Forum indicando que somente 28% da força de trabalho em tecnologia é composta por mulheres. A baixa representatividade é reflexo de desafios que começam na base, como a falta de estímulo para carreiras em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), e seguem até o topo das empresas, onde as mulheres enfrentam barreiras para alcançar cargos de liderança. Além disso, o setor lida com dificuldades na contratação de mão de obra feminina qualificada, o que reforça a necessidade de políticas voltadas para a capacitação e desenvolvimento de mulheres na área.

A Sólides, empresa referência em tecnologia para gestão de pessoas, é um dos exemplos de organização que busca transformar essa realidade. Fundada por um homem e uma mulher, a empresa carrega a equidade em sua essência e mantém, de forma orgânica, um equilíbrio entre os gêneros em seu quadro de funcionários. “A Sólides já nasceu com uma divisão igualitária e isso se mantém naturalmente. Hoje, temos sempre cerca de 50% de mulheres na equipe, com pequenas variações ao longo do tempo. Isso é raro no setor de tecnologia”, afirma Mônica Hauck CEO e cofundadora da empresa.

A companhia aposta em uma cultura que prioriza a equidade e a criação de um ambiente onde todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades de crescer e se desenvolver. “O mais importante é eliminar os vieses e proporcionar um espaço onde o desenvolvimento não seja limitado por gênero. Uma empresa que entende a vida das pessoas de forma integral e cria condições para que conciliem trabalho e vida pessoal favorece a todos, mas especialmente as mulheres”, explica a CEO.

A resistência a contratar mulheres na tecnologia muitas vezes está ligada a estereótipos e preconceitos infundados sobre desempenho e produtividade. Um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres no setor é a percepção equivocada de que elas entregam menos, especialmente quando se tornam mães. Na Sólides, essa ideia já foi desmentida por dados internos. “Existe um preconceito de que mulheres performam menos porque têm filhos, mas nós provamos com números que isso não é verdade. Quando analisamos a produtividade, vimos que as mulheres com filhos, inclusive, tiveram um leve desempenho superior em relação aos demais colaboradores”, revela a CEO. Ela destaca que é fundamental dar visibilidade a esses dados para desconstruir estigmas e viabilizar um ambiente mais justo e inclusivo.

Outro ponto essencial para ampliar a presença feminina na tecnologia, especialmente em pequenas e médias empresas, é o investimento na educação e formação profissional. A Sólides destaca que há uma correlação direta entre a participação feminina no mercado de trabalho e o desenvolvimento econômico dos países. “Nos países mais prósperos, a participação das mulheres no mercado é maior, e isso reflete diretamente nas empresas. Quando falamos de PMEs, de cada dez contratações, quase sete vêm desse segmento. Não há como as pequenas e médias empresas prosperarem sem a presença feminina”, analisa Mônica.

Papel formativo

A capacitação é uma estratégia adotada por diversas empresas do setor para reduzir a disparidade. A Capgemini, por exemplo, implementou uma série de programas voltados ao desenvolvimento de mulheres em tecnologia, combinando treinamentos técnicos e iniciativas de empoderamento. “A capacitação é uma ferramenta fundamental para promover oportunidades, fortalecer o ambiente corporativo com diversidade de ideias e perspectivas e, claro, promover a equidade de gêneros. Por meio de iniciativas como programas de mentoria, treinamentos especializados em tecnologias como JAVA, Cloud e AWS, além de programas de aceleração de carreira, criamos um ambiente mais inclusivo”, aponta Cyndi Schwartz, Gerente de RH e Responsabilidade Social Corporativa da Capgemini.

“Isso reflete o compromisso da Capgemini com a transformação digital e social, formando mulheres desde sua base, como o programa Start, ou já em carreira, como o Cyber Angels Brasil, por exemplo, auxiliando-as a se destacarem no setor de tecnologia”, enfatiza.

A empresa lançou o Cyber Anges Brasil recentemente, em parceria com a WOMCY (Latam Women in Cybersecurity), com o objetivo de atrair, capacitar e promover mulheres na cibersegurança. O programa tem o potencial de transformar o setor de Privacidade e Cibersegurança no país ao oferecer novas carreiras para mulheres e fomentar um ambiente digital mais seguro e inclusivo.

Além disso, a Capgemini Brasil está alinhada à meta global do Grupo, que definiu objetivos de representatividade feminina de 40% de mulheres nas equipes e 30% de mulheres em cargos de liderança executiva até 2025. Atualmente, a empresa já conta com 37,7% de mulheres na força de trabalho local e investe em práticas inovadoras, como a contratação e promoção de mulheres grávidas, oportunidades para mulheres negras e com deficiência durante a gravidez, e a inclusão de profissionais 50+ em equipes diversificadas.

Intencionalidade

As iniciativas mostram que, quando há intencionalidade em reduzir a desigualdade de gênero na tecnologia, os resultados aparecem. Empresas que apostam em ambientes mais diversos e inclusivos colhem benefícios não apenas sociais, mas também financeiros. Um relatório da consultoria McKinsey & Company aponta que organizações com maior diversidade de gênero têm até 25% mais chances de obter resultados financeiros acima da média de seus concorrentes.

A jornada para equilibrar o mercado de tecnologia em termos de gênero ainda é longa, mas iniciativas como as da Sólides e Capgemini mostram que é possível transformar esse cenário. Com um mercado cada vez mais competitivo e com crescente demanda por talentos, incluir mulheres na tecnologia não é apenas uma questão de equidade, mas uma estratégia para o crescimento sustentável das empresas e da economia como um todo.

Afinal, o que o mercado de tecnologia busca e onde estão as oportunidades para elas?

O cenário para profissionais qualificados no Brasil apresenta uma taxa de desemprego significativamente baixa. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego geral no último trimestre de 2024 foi de 6,2%, enquanto para profissionais com formação superior, o índice foi de apenas 3%. No setor de tecnologia, a demanda continua alta, e as empresas buscam cada vez mais especialistas capacitados para atender a um mercado em constante transformação.

Segundo headhunters da Robert Half, as áreas com maior demanda de contratação para o primeiro semestre incluem Segurança da Informação, Infraestrutura, Serviço e Suporte de TI, Análise de Dados e Redes. Entre as habilidades técnicas mais requisitadas, destacam-se Inteligência Artificial, Automação, Machine Learning, Linguagem de Programação, Computação em Nuvem e Tecnologia Imersiva. No entanto, encontrar profissionais com essas competências ainda é um desafio, especialmente quando se trata de especialistas em Blockchain, DevOps, DevSecOps e Inteligência Artificial aplicada.

Além das habilidades técnicas, as empresas também valorizam competências comportamentais, como liderança, inteligência emocional, pensamento criativo, pensamento crítico e resolução de problemas. Paradoxalmente, essas também estão entre as mais difíceis de encontrar no mercado. A escassez de talentos em áreas essenciais leva a uma grande competição entre empresas por especialistas qualificados, principalmente em Segurança da Informação, que se tornou prioridade para muitas organizações. A qualificação, contudo, devido à raridade desses profissionais, muitas vezes é

“Nos últimos cinco anos, o mercado tem dado mais atenção à proteção de dados, tanto internos quanto externos, o que elevou a segurança da informação a um patamar superior à Inteligência Artificial em termos de demanda. De nada adianta lançar uma solução baseada em IA se não houver uma base sólida de cibersegurança. No entanto, a concorrência por profissionais especializados na área ainda é acirrada”, analisa Elisa Jardim, gerente da divisão de Tecnologia na Robert Half, sobre um cenário promissor para as mulheres que queiram ingressar no segmento.

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