Gestão

Exigências de mercado

de em 2 de setembro de 2014
Thomas Eckschmidt / Crédito: Adriano Vizoni
Thomas Eckschmidt, da PariPassu: Estamos mais conectados do que nunca / Crédito: Adriano Vizoni

A disponibilidade de informação e sua acessibilidade têm contribuído muito para vivermos em uma era de grande complexidade. Nos dias de hoje, qualquer pessoa tem acesso a mais informação do que a pessoa mais rica do mundo há 10 anos, um dos reflexos de como a tecnologia é capaz de transformar nossas vidas de uma forma irreversível. Essa é avaliação de Thomas Eckschmidt, sócio-fundador da PariPassu. Palestrante de abertura do CONGREGARH deste ano, o executivo lembra que há duas décadas metade da população nunca tinha feito uma ligação telefônica e hoje temos mais linhas ativas do que habitantes. “Estamos mais conectados do que nunca. Esses três aspectos – acesso à informação, tecnologia e conectividade – aumentaram a complexidade de nossas vidas a um nível jamais vivenciado pela humanidade”, diz.

No mundo corporativo, o cenário não é diferente: a demanda cresce e o tempo não mudou. “E nunca vai mudar”, acrescenta Eckschmidt. “As 24 horas do dia serão sempre as mesmas e com isso precisamos aprender a ser mais eficientes. A eficiência vem com técnicas de concentração, foco e disciplina. Esse é o caminho para lidar com a complexidade que nos rodeia.”

Ele conta que o cenário atual de complexidade está mudando como as pessoas vivem, se relacionam, trabalham, consomem, e impacta absolutamente tudo o que fazemos. “Uma coisa que cresce com a complexidade é a demanda por valores e propósito. As novas gerações, os nascidos entre 1980 e 1995, que são quase 1,7 bilhão de habitantes, têm exigido um novo modus operandi da sociedade. Essa é uma geração que quer consumir diferente e trabalhar por propósito e valores”, diz.

Os impactos desses anseios nas empresas obrigam os líderes a repensar muitos aspectos da gestão. Por exemplo, os modelos tradicionais de contratação precisam mudar para atrair jovens talentos que não querem mais ser somente remunerados por o que fazer, ou ganhar mais porque sabem como fazer. “Essa nova geração está preocupada com o porquê de estar fazendo o que faz”, destaca Eckschmidt. “E como o RH é a porta de entrada de novos talentos para as organizações, ele tem a responsabilidade de ajudar as lideranças das organizações a criarem uma cultura organizacional que otimize os resultados de qualquer negócio”, observa. Para ele, os líderes têm a responsabilidade de criar propósitos para seus negócios que vão além do lucro para que exista uma motivação mais profunda na organização.

#Q#

“A complexidade está diretamente ligada à gestão de pessoas, pois é ali que ela se manifesta. Quanto mais autonomia nas relações interpessoais, maior será o grau de interação, participação e colaboração, transformando a complexidade em aprendizagem”, comenta Jorge Neto, diretor da Mercur e um dos participantes do talk show que será realizado no primeiro dia do CONGREGARH cujo tema é Simplicidade na gestão empresarial. Na opinião de Neto, o papel das lideranças, em geral, é o de facilitador, promovendo espaços colaborativos, de cocriação e de inovação em qualquer área ou atividade.

Oportunidades mil
“Acredito que parte da complexidade que vivemos atualmente deve-se ao volume de oportunidades a que estamos expostos diariamente. A necessidade de nos diferenciarmos uns dos outros para vencermos as competições diárias nos impõe um grau de criatividade imenso que nos acompanha tanto na oferta quanto na demanda de inovações”, diz. Essa complexidade, na avaliação do diretor da Mercur, está relacionada com o vazio que sentimos ao nos depararmos com as oportunidades “rasas”, ou de pouco significado do nosso cotidiano. “No meu entendimento, essa complexidade tem suas origens na falta de entendimento de que somos parte de um todo, ao mesmo tempo que o todo está em cada parte.”

Por outro lado, acrescenta, existe a complexidade gerada pela ética nos relacionamentos, quando se passa a considerar a valorização da vida a partir do ponto de vista dos outros. “Nesse caso, a complexidade se dá porque é preciso considerar elementos diferentes daqueles a que se está acostumado, o que acaba agregando o que chamamos de abundância de aprendizados.”

Ele conta que na Mercur o tema complexidade tem sido abordado a partir da horizontalização da estrutura hierárquica. “Entendemos que um dos pré-requisitos para a colaboração é o empoderamento das pessoas de forma geral, estimulando relações emancipadoras. Ainda não tenho o real entendimento de o que significa uma vida mais simples, porém percebo que quando a complexidade está relacionada a temas que valorizam a vida é possível alcançar a felicidade, que é o que todos buscamos! Quanto aos resultados alcançados na empresa, só consigo medir, por enquanto, pelo brilho nos olhos das pessoas”, diz.

Ordem ou caos?
Para alguns, a burocracia é a causa de muitos problemas. Para outros, algo necessário para manter a ordem

Por muitos vista como fonte de complexidade, a burocracia é algo que deve estar associado ao nível de maturidade das organizações e sociedades, como explica Thomas Eckschmidt. “Existem organizações baseadas em valores como as empresas Zappos e Southwest Airlines que são muito pouco burocráticas e dão grande liberdade para seus colaboradores tomarem decisões, sempre baseadas nos valores da empresa.” Para ele, isso só é possivel quando o nível de maturidade do grupo aceita esse tipo de ordem. “A burocracia atende à necessidade de crescimento de organizações com poucos valores ou valores muito diversos, em que a interpretação individual pode levar a resultados demasiadamente diferentes.”

 

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