Em um mundo cada vez mais interconectado e, paradoxalmente, desigual, a discussão sobre o papel das empresas vai muito além da busca por lucro. Por décadas, a máxima de Milton Friedman, de que “a única responsabilidade social de uma empresa é aumentar seus lucros”, dominou o pensamento empresarial. Hoje, essa visão é desafiada por uma realidade complexa, marcada por crises climáticas, sociais e econômicas que exigem um novo protagonismo do setor privado. A pergunta que ecoa nos conselhos administrativos, nos fóruns globais e nas mídias é: as empresas podem (e devem) ser agentes de transformação social, ou isso não passa de uma utopia bem-intencionada?
A verdade é que a indiferença deixou de ser uma opção viável. Dados da pesquisa Responsabilidade Social Corporativa na América Latina em 2024, da Sherlock Communications, com mais de 3 mil pessoas, revelaram que 90% dos brasileiros consideram a responsabilidade social e ambiental essencial na percepção sobre marcas, e 77% afirmam consumir apenas de empresas socialmente responsáveis. O estudo aponta ainda que 45% dos entrevistados valorizam, acima de tudo, saber que a empresa remunera seus colaboradores de forma justa, promovendo qualidade de vida. O mercado já dá sinais claros: responsabilidade social não é custo, é diferencial competitivo.
Além do balanço: o impacto que se mede
Transformação social não se resume a doações pontuais ou campanhas publicitárias. Ela precisa estar enraizada no modelo de negócio: em cadeias de suprimento éticas, em forças de trabalho diversas e inclusivas, em produtos e serviços que resolvam problemas reais, e na transparência das operações. Quando práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) são adotadas de forma genuína, a empresa não apenas mitiga riscos, mas gera valor compartilhado.
Longe de competir com o papel do Estado ou das organizações não governamentais, o setor privado pode impulsionar e ampliar seus esforços. A capacidade de escala, a expertise em gestão e o poder de inovação das empresas são alavancas fundamentais para acelerar transformações sociais. Uma empresa que investe em educação para comunidades vulneráveis, que desenvolve soluções sustentáveis ou que promove a inclusão de grupos minorizados, não está apenas fazendo “o certo”, está assumindo seu papel como agente real de mudança.
O elo entre propósito e performance
Diversos estudos comprovam essa conexão. Uma pesquisa realizada no ano passado pelas consultorias GlobeScan e Ashoka, com 8.613 funcionários de grandes empresas em 31 países, incluindo o Brasil, revelou que 88% dos entrevistados no mundo todo, e 91% dos brasileiros, se sentem mais comprometidos e motivados quando suas empresas apresentam avanços em responsabilidade social e ambiental.
Esses dados reforçam que o ESG é uma estratégia abrangente e decisiva para o sucesso do negócio, e que não se restringe às áreas de Recursos Humanos. O propósito social deixa de ser secundário e assume um papel central na competitividade das empresas: atrai talentos que buscam propósito, engaja consumidores que priorizam marcas com valores alinhados aos seus e mobiliza investidores focados em impacto de longo prazo, para além do lucro imediato.
O futuro da empresa é social
A ideia de que a empresa deve ser um vetor de transformação social não é uma utopia, mas uma responsabilidade real e inadiável. É um dever moral e, cada vez mais, um requisito para a sustentabilidade e o sucesso nos negócios. As organizações que ignorarem essa premissa correm o risco de se tornarem obsoletas, perdendo relevância para consumidores, talentos e investidores.
Quando lucro e impacto positivo andam lado a lado, o resultado não é apenas poderoso, é transformador. Surgem empresas que prosperam financeiramente ao mesmo tempo em que moldam um futuro mais justo, inclusivo e sustentável. Cuidar da sociedade deixou de ser apenas uma escolha ética: tornou-se um imperativo estratégico. É essa mentalidade que definirá quais negócios permanecerão relevantes e competitivos no mundo que estamos construindo.