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A gestão de Elon Musk ainda funciona?

A forma de o executivo atuar, impondo comando e controle, medo e muitas horas trabalhadas já foi considerada uma fórmula de sucesso

de Renata Rivetti em 1 de dezembro de 2022
Elon Musk Jofreepik

Nesses últimos dias, temos visto algumas polêmicas envolvendo Elon Musk após a compra da rede social Twitter. O empresário demitiu mais de 1 milhão de funcionários e agora diz que quer repassar a administração da rede social, um absurdo, não é mesmo?

No entanto, a forma de Elon Musk atuar com comando e controle, medo e imposição de muitas horas trabalhadas, trabalho “hardcore”, certamente já foi considerada uma fórmula do sucesso de grandes líderes. Se para as gerações passadas banalizávamos o stress, ansiedade e a sobrecarga, neste cenário pós pandemia e mundo BANI, passamos a questionar esse modelo e a refletir mais sobre nossa saúde mental, bem-estar e felicidade. Se antes os profissionais aceitavam trabalhar nas empresas do sonho a qualquer custo, hoje isso já não é mais certo.

Quando comecei minha carreira, saindo de uma grande faculdade como a FGV-EAESP, lembro de achar normal excesso de trabalho, líderes tóxicos, ameaças e assédios, preconceitos. Era como se o trabalho fosse isso mesmo, um fardo que deveríamos aceitar para um dia conquistar a vida feliz e de sucesso, com dinheiro, status e poder. Havia profissionais buscando estágio sem remuneração somente para ter contato com um líder reconhecimento, com fama e poder. Para a Gen Z, segundo pesquisa do Google Consumer 2019, o sucesso vem para 33% deles através do negócio próprio e em segundo lugar, 19% através de um trabalho com causas sociais/ecológicas. Certamente para essa geração, trabalhar na base do comando, controle e assédio para um líder tóxico, somente por status e poder não é definição de sucesso.

Claro que ainda haverá profissionais idolatrando esse comportamento, mas no geral, o que vimos acontecendo no Twitter é uma resposta clara de que o mundo mudou: muitas pessoas pedindo demissão, mesmo neste cenário de grandes Techs demitindo. O medo já não impera mais e as pessoas estão priorizando sua saúde física, mental do que somente seu trabalho. O custo de um trabalho hardcore costuma ser alto índices de ansiedade, possibilidade de depressão e até burnout. Neste momento em que refletimos sobre a brevidade da vida, o custo para muitos é muito alto.

Apesar de Musk ser um empresário de sucesso para nossa sociedade, já há muitos líderes que têm uma nova consciência e entendem que há sim um caminho mais sustentável para obtermos resultados. Se a fórmula proposta por Musk parece ter ganhos imediatos grandes, a verdade é que não há inovação e criatividade em um ambiente sem segurança psicológica. E a longo prazo ninguém mais quer ficar em uma empresa sem se sentir seguro, valorizado, reconhecido e sem confiança e flexibilidade. A fórmula do sucesso de um líder, neste novo cenário, vem de construir um ambiente no qual as pessoas se sintam incluídas, pertencentes, relações empáticas e de confiança. 

Algumas dicas para o líder construir um ambiente de segurança psicológica e times de alto desempenho:

  • Escuta ativa: as novas gerações querem ser ouvidas. Querem fazer parte da discussão, da estratégia, da construção do futuro da empresa. E isso traz diversidade às discussões e planejamentos, o que no final gera ideias, criatividade e inovação. O líder do futuro precisa construir um ambiente de segurança psicológica e criar espaço para ouvir as pessoas. Parece algo simples, mas é essencial e nem sempre realizado.
  • Celebrar mais as conquistas: os líderes podem celebrar mais as pequenas conquistas e realizações e não somente no final do ano. O time se engaja mais ao ter um direcionamento claro, com metas e objetivos que os desafiem e os motivem. 
  • Desenvolvimento / treinamentos: as pessoas precisam sentir que estão se desenvolvendo, aprendendo e evoluindo. Isso traz o senso de realização.
  • Reconhecimento e valorização: reconhecermos e valorizarmos as pessoas com mais frequência e permanência. As pessoas são muito cobradas pelos resultados, porém na hora do reconhecimento acaba não acontecendo no dia a dia. Há várias intervenções neste sentido comprovadas pela Psicologia Positiva que podem ser aplicadas nas empresas.
  • Empatia: neste mundo em que vivemos com tantos desafios pessoais que encontramos o trabalho pode ser um local seguro em que me sinto acolhido. Podemos ser mais empáticos uns com os outros. Isso aumenta nosso engajamento e traz um senso de pertencimento, inclusão e motivação.
  • Flexibilidade e autonomia: muitos profissionais passaram a priorizar novos valores e um deles é aumentar a qualidade de vida e conciliar melhor vida profissional e pessoal. O líder pode construir relações de confiança e medir resultados e entregas do que somente horas trabalhadas.

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Renata Rivetti

TEDx Speaker, Chief Happiness Office e Diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa especializada em felicidade corporativa e liderança positiva, que certificou mais de 200 profissionais. Renata é formada em Administração pela FGV-EAESP, com Pós em Psicologia Positiva na PUC-RS. Além disso, compõe o corpo docente do “MBA Felicidade Organizacional” - Happiness Business School e ISEC - Instituto Superior de Educação e Ciências em Lisboa - ministrando as aulas de “Psicologia Positiva e Ciência da Felicidade”.