Responsável pelas estratégias inclusivas da empresa, Isabel Costa, Head de Diversidade e Inclusão da TCS Brasil, compartilha, nesta entrevista à Plataforma Melhor RH, como a atuação da companhia tem se expandido a partir de um modelo que conecta negócios, propósito social e inovação.
Com presença global e herança indiana voltada à filantropia, o grupo Tata destina 66% de seu lucro global a um fundo para investimentos em saúde e educação, o que, segundo Isabel, molda a forma como a companhia se posiciona no Brasil.
Hoje, a TCS tem 33% de representatividade feminina e atua com metas, capacitações, trilhas de formação e ações afirmativas. Londrina (PR) é uma das principais bases dessas ações, com parcerias em comunidades locais e universidades. A seguir, Isabel fala sobre os programas internos, as parcerias com organizações como a Black Divas e a relação entre liderança, inovação e transformação social.

Você está há quanto tempo na empresa e como encontrou o tema da diversidade quando chegou?
Isabel Costa: Eu estou na empresa há três anos e, quando eu cheguei, já encontrei uma diversidade muito grande dentro da empresa, especialmente pelo tipo de negócio, por conta de ser uma consultoria em tecnologia de um grupo indiano que tem uma presença global bastante expressiva, e isso nos coloca em uma posição também de responsabilidade social pelo desenvolvimento local. Somos uma empresa global, mas com um olhar focado no desenvolvimento local. A fundação da empresa, do grupo Tata, antes mesmo da Índia se tornar independente, já existia, e ela foi um grande impulsionador do desenvolvimento econômico e social na Índia. Essa referência é muito forte até os dias de hoje. Está muito presente no DNA a filantropia: 66% do lucro do grupo Tata vai para um trust, um fundo filantrópico para investimento em ações de educação e saúde. Então, a empresa tem um potencial enorme, gigante, pela capilaridade e por todos os segmentos em que está presente. O grupo TCS, como braço tecnológico, com serviços de inovação e tecnologia em diversas frentes de negócios, acaba tendo um potencial muito grande para a inovação. E hoje, trazendo um pouco para o nosso cenário local, a gente tem uma questão muito forte do desenvolvimento de pessoas. O nosso foco, o nosso principal ativo, são as pessoas, são os talentos. E cada vez mais o mercado de tecnologia cresce em termos de oportunidades e, por contraponto, temos uma questão da qualificação. Então, o foco no desenvolvimento é um pilar fundamental — a educação como um pilar fundamental dentro da empresa. Isso tanto do ponto de vista dos colaboradores que já estão na empresa, como também no processo de desenvolver comunidades com foco em educação. Essas vertentes se encontram muito numa trilha de formação.
Como vocês têm atuado na inclusão de mulheres no setor de tecnologia, ainda majoritariamente masculino?
Isabel Costa: Hoje o mercado de tecnologia, para a inclusão de mulheres, ainda é pequeno. A gente sabe que é um setor majoritariamente masculino e que ainda tem muitas barreiras, que colocam as empresas — em especial as de tecnologia — no papel de fomentar esse processo de transformação. Então, a TCS, ao longo do tempo, tem se tornado uma empresa empregadora que traz muitos perfis de diversidade. Isso transforma a nossa cultura. E a cultura, baseada nos princípios, nas políticas da empresa, tem esse foco fundamentado na diversidade, na equidade e na inclusão. Essa política se traduz em iniciativas. Hoje, a gente trabalha com algumas estratégias dentro da diversidade e inclusão, e uma das frentes de metas, inclusive, é a de aumento da representatividade feminina na empresa. A TCS hoje tem 33% de representatividade feminina.
Essas mulheres formadas nos programas de capacitação são contratadas pela empresa?
Isabel Costa: Sim, é uma trilha, de fato. A gente faz um trabalho com parceiros de formação de mulheres, ou mesmo focados na inclusão produtiva de mulheres, como vagas afirmativas para atrair essas mulheres. Em alguns momentos, quando elas entram — e isso vale não só para as mulheres, mas especialmente para o público que entra na empresa — a gente tem um programa de treinamento, de estágio que se transforma em trainees, exatamente para qualificar esse público. Por uma jornada de três meses, elas passam por treinamentos que não são só técnicos, mas também de soft skills, para direcionar para as áreas de negócios. Esse fluxo de entrada, desenvolvimento e alocação em projetos, considerando esses conhecimentos, é contínuo. A colaboradora, quando já está na empresa, acessa uma plataforma de desenvolvimento. Temos várias parcerias em plataformas de desenvolvimento. E temos o programa Woman Career Progression, que é global e trabalha o impulsionamento de mulheres por meio de mentoria. Esse programa traz as competências colocadas como prioritárias para desenvolvimento de carreira, habilidades de liderança e networking. Durante essa trajetória, a participante acessa conteúdos e mentoria. Agora estamos trazendo esse programa para o Brasil, com algumas adequações, no sentido de garantir uma rede local. Hoje temos um grupo de afinidade de mulheres, cujo principal objetivo é ser um espaço de troca, escuta, e de revisão das estratégias ou ações implementadas a partir da política e dos processos — para a gente conseguir engajar um número maior. A representatividade é um pilar fundamental dentro da nossa política de diversidade.
As ações em Londrina estão conectadas com programas de capacitação e inclusão como os realizados com a organização Black Divas?
Isabel Costa: Temos parcerias com organizações da sociedade civil. A gente mapeia essas organizações, em especial em Londrina. A Black Divas, por exemplo, tem um recorte racial de empoderamento de mulheres negras, com foco em empreendedorismo e mercado de trabalho. A nossa aproximação é exatamente para gerar oportunidade de desenvolvimento e inclusão produtiva. Por outro lado, temos parcerias com universidades — Universidade Federal, Instituto Tecnológico, SENAI — e também com a própria rede de educação pública. Trabalhamos muito na linha de levar conhecimentos da tecnologia ou impulsionar conhecimento em tecnologia, para gerar interesse em carreiras na área. Dentro da responsabilidade social, temos programas de desenvolvimento em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). A formação passa por um modelo de transformação digital. Queremos impulsionar o mercado, a economia digital a partir da educação. São projetos ligados a problemas sociais. As participantes trabalham com metodologias de projeto, recebem capacitação tanto em conteúdos de tecnologia quanto em design thinking, e desenvolvem soluções para problemas reais. Esse programa está dentro do GoIT, que é um programa global, e tem gerado um forte compromisso social, especialmente para estimular que meninas possam se interessar por STEM. Londrina tem um ecossistema de inovação bastante interessante. A região ao redor é mais agrícola, e estendemos as parcerias para essas cidades também. Isso leva conhecimento para além do ambiente interno da empresa. Essas ações são realizadas por voluntários. A gente tem um modelo de desenvolvimento de capital humano para a comunidade.
Muitas empresas têm recuado em suas políticas de diversidade. Como a TCS está lidando com esse cenário?
Isabel Costa: A gente tem acompanhado esse movimento com preocupação, sim — um retrocesso em avanços que os grupos conseguiram. A TCS já se posicionou: não há nenhum tipo de mudança. Muito pelo contrário. Vamos investir mais. Vamos atuar ainda mais com stakeholders para ampliar ações e parcerias. É fundamento da empresa. O grupo Tata nasce de uma visão de crescimento e prosperidade com relação sustentável entre negócio e comunidade. Seria até contraditório ir em outro caminho. Isso se reflete no nosso crescimento, nas metas, nos compromissos públicos que assumimos. A diversidade é estratégica para inovação, para o relacionamento com clientes e com a sociedade. Não tem como cortar esse diálogo. Internamente, temos uma diversidade grande. Nossos grupos de afinidade trabalham com essa visão de representatividade, para proporcionar ambientes mais inclusivos. Temos desafios, sim. Mas com planejamento e compromisso — especialmente da alta liderança — conseguimos estabelecer trajetórias de impacto.
Como a diversidade impacta diretamente a inovação na empresa?
Isabel Costa: A nossa visão é impulsionada por propósito. Um dos propósitos é ajudar empresas a prosperar e criar impacto positivo. Os modelos de negócio têm se baseado na construção de ecossistemas de inovação. Essas alianças são fundamentais para inclusão produtiva e transformação digital nas comunidades. Inovação em RH caminha junto com o crescimento do negócio. A TCS tem um compromisso de longo prazo com os clientes, e nossa capacidade de entregar resultados passa pela inovação — que, para nós, não é um fim em si. É um meio para resolver problemas. A área de RH caminha junto com o negócio, com os stakeholders, com esse propósito.
Para empresas que estão apenas começando, como aprofundar suas políticas de diversidade?
Isabel Costa: Acho que tem que começar com a escuta. Escuta ativa é muito importante. Entender o ambiente, fazer uma leitura de cenário. Partindo do princípio de que ainda não estamos em um ambiente ideal, é preciso traçar um caminho. A governança é essencial. Mesmo em empresas menores, é possível criar discussão e reflexão com base em dados. Grupos de afinidade nascem com o objetivo de criar representatividade. É preciso entender as dores, incômodos, e pensar em soluções. É um tema transversal. Tem que envolver áreas de suporte, garantir planejamento consistente. É um processo contínuo, que exige comprometimento e maturidade de gestão. Se eu tenho uma meta — como a nossa de 40% de mulheres — eu preciso envolver Talent Acquisition, treinamento, todas as áreas, para garantir esse objetivo. E não só na contratação: temos que olhar para as relações dentro do ambiente de trabalho. Essa preocupação tem que ser contínua. Trazer especialistas, abrir espaço para diálogo, tudo isso fortalece o compromisso. A gente vê retrocessos, mas também muitos avanços. Eu prefiro olhar com otimismo: já avançamos muito, mas ainda há muito por fazer.