Diversidade

Dupla licença-maternidade é concedida pela primeira vez no Brasil a casal homoafetivo

No mês do Orgulho LGBTQIA+, atitude de empresa ganhou destaque, enquanto Nicolas, filho das colaboradoras Camilla e Bárbara, cresce com sua família cada vez mais unida

A ThoughtWorks, consultoria global em tecnologia presente em 17 países, inovou em sua unidade brasileira, concedendo uma dupla licença-maternidade a casal homoafetivo, algo inédito no país. As colaboradoras Camilla Crispim e Bárbara Sanches puderam se iniciar e aprimorar juntas na maternagem do Nicolas, fruto dessa união, pelos 6 meses previstos para o afastamento das mães na legislação tradicional.

“Eram duas situações acontecendo simultaneamente”, lembra Grazi Mendes, Head de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) da ThoughtWorks, quando as profissionais solicitaram a licença: “Tínhamos de olhar pra essa novidade e ao mesmo tempo pensar em como essa situação poderia nos ajudar a refletir sobre uma política de licença-parentalidade que fosse muito mais inclusiva e fizesse muito mais sentido aos diferentes formatos de família”. Grazi lembra que o contexto era de discutir a ampliação das licenças como um todo, que era um compromisso da companhia, e surgiu o caso de Camilla e Bárbara para contribuir com as discussões.

A partir desse momento, o trabalho foi conjunto, entre Grazi e as colaboradoras, envolvendo os aspectos legais, o time de líderes e especialistas em dupla maternidade, para criar o modelo de licença. No que diz respeito à legislação brasileira sobre o afastamento parental com o nascimento dos filhos de união homoafetiva, não há nada definido. O tema é, hoje, apenas parte de um rol de jurisprudências desfavoráveis às mães e aos pais homoafetivos, que ganham tratamentos desiguais. Restaria às empresas criar práticas e cultura a respeito, fomentando mudanças.


Bárbara e Camilla, em mêsversário de Nicolas: maternar é muito mais do que amamentação

“Pra mim foi um aprendizado muito grande. Eu não sou mãe e ter a oportunidade de construir isso com elas ampliou meu conceito sobre maternidade”, relata Grazi, sobre a oportunidade de aprender que enxerga e espera, também, no surgimento de outras situações semelhantes. Bárbara e Camilla, por sua vez, ganharam tempo e oportunidade de se conectarem como família, ambas longe do trabalho.

Cultura acolhedora

Camilla conta que nunca teve problemas na empresa por assumir sua sexualidade. Desde pronunciar-se homossexual a falar sobre sua união com Bárbara a colegas e a expressar, depois, o desejo da dupla maternidade, houve sempre acolhimento. “Todo mundo celebrou muito esse momento”, conta a profissional. E nesse clima de celebração e abertura, ela procurou o RH e disse: “Tem uma coisa que eu não quero… não quero licença-paternidade, porque não sou pai, sou mãe”, lembra, sobre seu temor de que Bárbara fosse a única contemplada com os 6 meses de licença, por carregar a gestação de Nicolas, como costumeiramente acontece a casais homoafetivos.

Camilla lembra que teve conhecimento de outros casos, em que uma definição sobre o assunto demorava a acontecer aos casais, ou em que era necessário entrar na justiça. No seu caso, porém, além do histórico de acolhimento que já havia, ao ouvir da empresa a pergunta sobre quando esperava ter sua resposta sobre o que seria feito sobre a licença, ela constatou empatia. Viu que, ali, seria tudo diferente. “Nicolas ia nascer em dezembro, então disse que até setembro estava OK”, lembra.

Grazi, líder de diversidade e inclusão da ThoughtWorks: aprendizado levou a políticas ainda mais inclusivas na empresa

Mas a realidade como um todo, é de uma cultura que ainda compreende a parentalidade sob divisões e funções-estanque e determinismos biológicos.
Fora da empresa, “quando a gente contava sobre o processo, que nós duas tiraríamos licença-maternidade, surgiam perguntas como: mas você vai amamentar também?”, relata Camilla. Isso além da compreensão de que a gestação é, também, o que imputa à mulher o direito à licença estendida, em relação a(o) cônjuge que não gesta o bebê. “Vamos separar as coisas e trazer para o lado da família: maternar é muito maior do que isso e para a gente é muito importante”, destaca.

“Estamos falando de metaverso, ir à Marte, mundo digital…”, comenta Grazi, ao passo que lembra que a família, uma coisa tão antiga, e mesmo a homoparentalidade, que não é algo novo, não são compreendidas em sua existência e necessidades, nem abraçadas pelas instituições com o mesmo fervor com que normalmente elas aderem a essas inovações.

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