Diversidade

Exigências técnicas são barreira na contratação de pessoas com deficiência

Empresas alimentam exclusão quando não interrompem ciclo da escassez de oportunidades enfrentada por PCDs, acreditam especialistas

de Redação em 21 de setembro de 2023
Nate Jindakum/ Canva Pro

Representando 8,9% da população nacional (em torno de 18 milhões de brasileiros), o contingente de pessoas com deficiência (PCDs) no país está longe da inclusão no mercado de trabalho. Sua taxa de empregabilidade está em cerca de 26%, contra 60% entre profissionais em geral, e os salários chegam a ser 30% menores. Os dados são do último censo do IBGE, mostrando uma lacuna a ser preenchida nos processos seletivos: aumentar a representatividade desse público minorizado. Outra etapa, ainda, é tornar as empresas acessíveis em todos os níveis – arquitetônico, tecnológico, comunicacional – e construir uma cultura sólida de respeito às diferenças.

Renata Torres, da Div.A Diversidade Agora!: capacitismo institucional presente

“As empresas acabam exigindo experiências em determinadas funções, conhecimento de áreas específicas e o que mais puderem exigir para as vagas, na grande maioria das vezes, menores, voltadas a pessoas com deficiência, colocando barreiras e reduzindo a participação dessas pessoas colaboradoras”, explica Renata Torres, co-fundadora da consultoria Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão.

“É o chamado capacitismo institucional, quando a empresa contrata a pessoa com deficiência e ela não tem um tratamento de equidade para com os demais”, esclarece a especialista.

Leticia Krauskopf, da Randstad Brasil: hard skills não devem ser barreira

Leticia Krauskopf, Gerente de Operações da consultoria Randstad Brasil, concorda, e destaca que é preciso considerar a falta de acessibilidade enfrentada pelo profissional com deficiência em sua formação técnica nos processos de recrutamento, oferecendo complementariedade em seu desenvolvimento e não barreiras para sua contratação.

“Muitas vezes os profissionais com deficiência possuem todas competências necessárias, que chamamos de soft skills, mas algumas exigências – as hard skills, acabam excluindo parte deles nos processos seletivos, principalmente os que tiveram menos oportunidades”, explica a executiva.

“Por isso, a adoção das vagas afirmativas se faz necessária diante dessa disparidade do alto índice de pessoas com deficiência fora do mercado, pois ajudam as empresas a identificar e contratar esses profissionais”, entende Letícia.

Postura ativa

Silvia Beduschi, da Randstad Brasil: capacitação complementar
pode e deve ser oferecida

Com deficiência auditiva, a recrutadora da Randstad Brasil, Silvia Beduschi, revela o que encontra em seu dia a dia de seleção de pessoas com esse marcador social: “Vejo que o maior desafio é encontrar empresas dispostas que entendam que, para garantir um ambiente mais equitativo e diverso, é necessário realizar formação e desenvolvimento dessas pessoas com deficiência, oferecendo capacitação, mentorias, criação de grupos de afinidade, preparando seus colaboradores, ambientes físicos e digitais para recebê-los.”, completa, sobre a necessidade de suprir a falta de oportunidade muitas vezes encontrada no mercado por esse público, em vez de intensificá-la.

Kaká Rodrigues, também fundadora da Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão, defende uma postura ativa das organizações nesse sentido. “Não basta a empresa cumprir a lei e contratar o que é determinado por cota, mas é preciso incluir essas pessoas colaboradoras. Não só garantir a acessibilidade, mas trazer programas de capacitação profissional específicos para pessoas com deficiência, buscar profissionais especialistas para a conscientização das equipes, combatendo o capacitismo”, relata a especialista.

Garantias brasileiras
A celebração dos avanços e o debate sobre melhorias para a qualidade de vida de pessoas com deficiência ganharam data específica, em que todos envolvidos na causa se movimentam e a agenda do tema ganha notoriedade. O Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, em 21 de setembro, celebrado desde 1982, foi oficializado em 2005 pela Lei Nº 11.133. O mês de setembro, cunhado Setembro Verde, é o mês reservado à promoção da inclusão e estende a discussão sobre a quebra de barreiras para a plena cidadania de PCDs

Completando 32 anos, a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91) determina a participação de 2% a 5% de pessoas colaboradoras com deficiência em empresas com mais de 100 funcionários. Já a lei 13.146/2015 instituiu diretrizes fundamentais assegurar condições de igualdade de direitos e liberdades para pessoas com deficiência, o Estatuto da pessoa com deficiência e, com isso, promover a inclusão social e a cidadania desse público.

Kaká Rodrigues, da Div.A Diversidade Agora!: acessibilidade e cumprimento de cotas
não bastam

Rodrigues fala sobre ir além das cotas inclusivas garantidas por lei e assumir os benefícios de uma contratação diversa para todos os envolvidos: “As organizações que buscam pessoas com deficiência aumentam a diversidade dentro da empresa, garantindo uma cultura corporativa mais inclusiva, além de valorizar a igualdade e o respeito.”

“São diferentes perspectivas, habilidades e experiências que serão trocadas junto às demais pessoas dos times, criando oportunidades novas e, ao mesmo tempo, contribuindo para a sociedade, o que estimula o crescimento e o sucesso da própria empresa”, conclui a executiva.

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