Gestão

O paradoxo do desempenho

de Marcos Nascimento* em 19 de novembro de 2010

Quando ouvimos o termo “alta performance” ou “alto desempenho”, conectamos isso ao esporte. E os chamados atletas de alto desempenho sempre trazem consigo uma companheira: a dor! Minha dúvida sempre esteve ligada em quanto isso pode ser análogo ao mundo corporativo ou se realmente podemos ter alta performance (individual e organizacional) sem necessariamente ser acompanhada pelas “dores corporativas”.

Não tenho a resposta, mas presenciei situações que me trouxeram algumas inquietudes. A primeira, e talvez a maior delas, é por que não podemos ter, no mundo organizacional, o equilíbrio entre saúde e performance? Para isso, me atrevo a conceituar os dois termos. Primeiro, performance organizacional é o que uma empresa dá de resultados financeiros a seus stakeholders. Já saúde organizacional é o conjunto de qualidades, atributos e ações de hoje que darão sustentação ao resultado ao longo do tempo.

Chamo a atenção para o tema saúde organizacional. Nele, há duas dimensões confluentes e pode vir a ser um espaço de atuação crítico para os gestores. Uma empresa não é um ser, mas a conjunção de vários seres. Portanto, ela não possui, em si mesma, a condição de ter qualidades, atributos, ações, habilidade para alinhar e renovar-se. Na realidade, os únicos capazes de ter e colocar isso em prática somos nós, que a habitamos.

Uma possibilidade intrigante, pois é aparentemente simples, é considerar que o segredo para a alta performance e a boa saúde de uma organização possa estar na capacidade de alinhar essas individualidades na direção correta. O novo, então, passa a ser a forma pela qual fazemos esse alinhamento: trazendo exemplos, significado, qualificação e recompensas para as pessoas no ambiente corporativo.

Fazer isso não é uma ciência exata, está mais para uma mescla de técnica e arte, na qual alguns componentes precisam ser considerados: o direcionamento claro; a liderança; o ambiente; a coordenação; a inovação; entre outros, são condicionantes para que a conjunção performance + saúde ocorra.

É obvio que essas dimensões não estarão presentes na mesma frequência e proficiência. O contexto em que cada empresa está inserida contribui muito para que algumas dessas dimensões tenham mais peso que outras. Ou seja, mais uma vez nos deparamos com a questão do equilíbrio entre o poder, o querer e o dever fazer.

O grande paradoxo está na busca da alta performance sem a preocupação com a saúde, o que no mundo esportivo pode levar ao fim de uma carreira de forma precoce. No mundo organizacional, damos a isso o nome de “resultado a qualquer preço”.  Mas a verdade é uma só: todo resultado tem seu preço. A pergunta não é se podemos, como indivíduos e organizações, pagar o preço da alta performance. A pergunta é: temos as dimensões que precisam estar em prática para o nível de performance que buscamos? Esse paradoxo só deixará de existir se buscarmos, antes, desenvolver as dimensões necessárias para uma boa saúde organizacional, com e pelas pessoas. Aí sim, talvez, você esteja pronto para ter uma alta mas, principalmente. saudável performance.

*Marcos Nascimento   é consultor organizacional da McKinsey e educador

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