A pandemia continua sendo um dos principais desafios para as equipes de comunicação interna neste ano, com as mudanças no modelo de trabalho da maioria das empresas incentivando esses profissionais a criarem novas soluções para melhor garantir a comunicação com os colaboradores.
“Essa incerteza do que esperar para os próximos meses acaba dificultando o planejamento das ações de comunicação. Como quem trabalha com esta disciplina sabe, um planejamento bem elaborado é essencial para o sucesso das iniciativas” relata Ana Ulir, especialista em Comunicação Corporativa na Siemens. “Mais do que nunca, precisamos informar e engajar as pessoas, mas tendo como cenário algo totalmente volúvel”, complementa.
A consolidação de uma comunicação cada vez mais digitalizada também é vista por Ulir como um dos grandes obstáculos a serem superados. “Ao falar sobre isso, novamente nos deparamos com um desafio, pois em uma era em que as pessoas são bombardeadas por informações e dados de todos os lados, persevera apenas quem trilhar uma estratégia permeada por relevância e criatividade”, analisa.
Unir as estratégias de comunicação para equipes que estão em um formato híbrido de trabalho também é uma dificuldade encontrada por Michel Blanco, head de Reputação e Comunicação Corporativa da Natura &Co América Latina.
Para ele, a prioridade é promover experiências que façam essa união funcionar e que “habilitem o colaborador à condição de influenciador desse ecossistema”. Para isso, foi feita uma reformulação dos canais internos, “estando a conexão entre os colaboradores no centro das decisões para atender esse novo formato de trabalho e as novas necessidades do modelo de negócios da América Latina”.
“A comunicação para os colaboradores assumiu um papel mais pronunciado como veículo da estratégia de negócios, em favor da integração e da cultura organizacional por meio da conexão e do diálogo com o colaborador e em convergência com a comunicação externa para a construção da reputação corporativa”, reforça Blanco.
A nova dinâmica de trabalho híbrido também é uma das barreiras enfrentadas por Karen Watanabe, head de Comunicação Corporativa da AkzoNobel para América do Sul.
“Será fundamental orientar os colaboradores sobre como aproveitar cada dia da melhor forma, seja presencialmente, em uma das nossas unidades, ou no home office. Isso será essencial para mantermos o engajamento e a colaboração entre os times, ao mesmo tempo em que mantemos nossas operações em funcionamento, atendendo nossos clientes e entregando nossos objetivos”, aponta ela.
Bruna Bezerra Lima, gerente de Comunicação Interna e Gestão de Marca da Votorantim Cimentos, também vê no regime híbrido um dos principais desafios a serem superados para que esse novo formato não venha atrelado a uma perda de conexão, de pertencimento e de engajamento.
“A área de Comunicação, assim como a de RH, tem o papel fundamental de ajudar os líderes da empresa a serem agentes de mudança, dando informações e ferramentas que auxiliem esse público a incluir seus times, mesmo quando eles não estão fisicamente presentes no escritório”, destaca Lima.
Outra preocupação da gerente é fazer com que a comunicação atue em diferentes formatos, sem excluir ninguém. “Se tivermos uma reunião, um treinamento ou um evento presencial em que boa parte do público está fisicamente no local, mas a outra parte de forma remota, o que podemos fazer e como devemos atuar para que todos tenham a mesma experiência?”, exemplifica.
“Sem dúvida, com a mudança do modelo de trabalho – que muitas empresas vêm enfrentando – nós, profissionais de comunicação, teremos muito o que aprender e construir. É um novo jeito de trabalhar e também de comunicar”, complementa.
Esses desafios também são reforçados por Nêmora Reche, head de Comunicação Corporativa da Syngenta Proteção de Cultivos na América Latina, que acredita que existem dois pontos principais nos quais os profissionais da área terão que estar atentos nos próximos meses: “Como você utiliza novas estratégias para garantir que seu público esteja bem informado e ao mesmo tempo torna essas ferramentas relevantes e interessantes o suficiente para que o profissional opte por consumir aquele conteúdo e não outros que estão disponíveis para ele naquele momento”, aponta.
Algumas empresas, entretanto, ainda precisam se comunicar com stakeholders que não estão diretamente conectados, como é o caso da empresa Atvos, em que apenas 25% dos nove mil colaboradores possuem acesso à rede corporativa e ao e-mail da companhia.
“Existe um esforço diário muito grande de comunicação para alcançar essas outras pessoas que estão nas áreas operacionais, gerando valor para a empresa e sendo essenciais para o desenvolvimento e continuidade do negócio”, destaca Fábio Rímoli, gerente de Marketing e Comunicação Empresarial da Atvos.
“Dessa forma, temos a preocupação constante de diversificar os canais, mas mantendo o propósito central de transmitir uma mensagem unificada e eficaz, seja para quem está em frente ao computador ou com o celular, seja para os que estão nas operações de campo”, diz.
Temas relevantes
Os principais pilares das equipes de comunicação interna, de acordo com os gestores, dependem da sintonia com a agenda estratégica da companhia. Nesse sentido, os temas citados como mais relevantes para a comunicação neste ano serão: ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa); diversidade e inclusão; compliance; inovação; e saúde organizacional.
“Esses temas são de extrema importância e nós temos o papel de formar uma liderança comunicadora e auxiliar essas pessoas na relação com suas equipes, de forma que as mensagens sejam passadas da melhor maneira possível”, relata Fernando Campoi, gerente sênior de Imprensa Corporativa, Comunicação Digital e Comunicação Interna da Volkswagen.
Mantendo o engajamento
“Como fazer com que a cultura da organização seja percebida e praticada sem que a pessoa esteja fisicamente no escritório? Como criar narrativas e iniciativas que conversem tanto com quem está remoto quanto com quem está na empresa?”, questiona a gerente de Comunicação da Votorantim Cimentos.
“Esses são grandes desafios que estão no nosso radar aqui na empresa. Por isso, temos que ouvir as pessoas, mensurar resultados, testar diferentes possibilidades, pensando sempre na inclusão de todos, para assim atuar de fato no que é necessário e relevante para o empregado e para a organização”, afirma.
Nesse ambiente digitalizado, Campoi acredita que aplicativos mobile e redes sociais corporativas podem ser o caminho da comunicação interna para manter os colaboradores engajados.
“Além de ser um tendência em todos os setores e não somente na comunicação interna, os aplicativos como plataforma de comunicação e serviços de RH serão uma das principais ferramentas para alcançar o público interno, principalmente aqueles que não têm acesso ao e-mail”, destaca.
“Muitas empresas ainda têm restrições quanto ao uso do Whatsapp na comunicação corporativa, mas vejo que cada vez mais ele será uma ferramenta importante, principalmente para as lideranças comunicadoras no processo de fazer com que essas mensagens cheguem até o chão de fábrica”, complementa o gerente de Comunicação da Volkswagen.
Já Blanco vê nas equipes de Comunicação Interna o papel fundamental de prover soluções e de apoiar as novas experiências de trabalho que foram aceleradas pela pandemia.
“A nossa estratégia prioriza o bem-estar nos diferentes formatos de trabalho, variedade e flexibilidade de benefícios, cultura e engajamento, ressignificação dos espaços físico, produtividade e desempenho, além de desenvolvimento de habilidades de gestão de times remotos para a liderança”, relata.
De acordo com Watanabe, o retorno aos escritórios também é um dos desafios da comunicação corporativa para este ano, onde será necessário reapresentar o trabalho presencial às pessoas, acostumadas ao trabalho home office, e relembrar a elas os benefícios de ir até o escritório.
“Já identificamos uma série de situações com colaboradores inicialmente em dúvidas sobre os pontos positivos, mas totalmente convencidos no final do dia do retorno ao trabalho presencial. Em praticamente todos esses casos as pessoas retornaram mais vezes ao escritório, bastante animadas com o modelo híbrido”, conclui Watanabe.
Para Nêmora Reche, é necessário facilitar o diálogo para que os líderes estejam todos na mesma página sobre os valores da empresa e que a agenda seja realmente a da empresa e não a de pessoas específicas. Dessa forma, os colaboradores entenderão melhor o que está por trás daquela causa e se engajarão melhor em cada tema, incorporando as práticas em seu cotidiano.
“É preciso um trabalho de proximidade com os líderes, entender o que eles estão passando e que tipo de apoio precisam, provendo soluções para que eles possam cumprir o seu papel da melhor forma possível”, conclui a head de Comunicação da Syngenta.
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