Comunicação interna

Gamificação é a nova jogada da comunicação interna

Através da gamificação, a comunicação interna está elevando o engajamento e a colaboração nas empresas a um novo nível

de Priscila Perez em 15 de agosto de 2024
Comunicação interna e gamificação Foto: imagem gerada por IA - DALL·E

Quando um atleta entra em quadra, é o seu engajamento com o esporte que o motiva a superar desafios. Os Jogos Olímpicos de Paris são a prova de como a dedicação ao que fazemos pode extrair o melhor de nós. Espelhando o espírito olímpico para as organizações, também é possível engajar os colaboradores de forma semelhante através da gamificação, uma estratégia que pode turbinar a comunicação interna se as regras do jogo forem claras. Mas, diferente das Olimpíadas, onde ganhar ou perder importa, o objetivo aqui é promover a colaboração, a motivação e o crescimento contínuo de todos os jogadores. O “fair play” é regra.

comunicação interna e gamificação
Alexandre Hampf, da Clima Comunicação

Bastante atual, a gamificação é uma tendência crescente que adiciona à comunicação interna elementos muito substanciosos à rotina corporativa, como competição, colaboração, inovação, valorização, integração e feedback. São princípios comuns aos jogos, mas, quando aplicados ao dia a dia do colaborador, podem transformar radicalmente a cultura organizacional. Alexandre Hampf, CEO da Clima Comunicação, aponta que essa tendência é especialmente relevante em um mundo cada vez mais digital e focado em dados.

Tecnologia a serviço da comunicação

A tecnologia atual permite não apenas a criação de conteúdos interativos, mas também o acompanhamento do progresso dos participantes e a gestão das recompensas em tempo real. Segundo Alexandre, esse fluxo contínuo de informações possibilita que a comunicação interna crie e gerencie programas de gamificação de maneira bem mais eficaz, utilizando dados para ajustar e melhorar as estratégias de engajamento conforme necessário. Ou seja, com o apoio da tecnologia, é possível aperfeiçoar o jogo de acordo com o perfil do público, tornando as atividades mais divertidas e envolventes. E os resultados são notáveis: “faz bem à cultura, aumenta a produtividade e fortalece o senso de comunidade entre os funcionários”.

Mas aqui vale um alerta importante: não dá para ficar apenas no básico quando se trata de engajamento. Para engajar de verdade, é preciso levar a gamificação a outro nível, tornando tudo mais imersivo e empolgante. Recursos avançados como realidade virtual, inteligência artificial e realidade aumentada adicionam à gamificação novas formas de envolver os funcionários nas atividades internas. A palavra-chave é imersão, e a IA pode ser uma grande aliada nessa missão, como bem destaca Ariane López, head de Comunicação da Siemens Brasil. “Ela pode ser um ponto de apoio no desenvolvimento de desafios e conteúdos que se adaptem às necessidades, preferências e características dos colaboradores”, pontua.

Além disso tudo, a tecnologia torna a “sistemática” muito mais fluída e simples, garantindo o acesso de todos os “players” da organização ao jogo. Para Mariana Pires Dias, diretora de Cultura e Pessoas do Banco do Brasil, não dá para pensar em gamificação sem falar de tecnologia. “Ela fornece as plataformas e ferramentas necessárias para implementar sistemas de pontos, níveis, recompensas e feedback instantâneo, tornando o processo mais eficiente e escalável”, analisa. E numa organização do porte do BB, isso é indispensável.

A gamificação na comunicação interna

Segundo Alexandre, da Clima Comunicação, a gamificação pode ser aplicada à comunicação interna de várias maneiras. No treinamento e desenvolvimento, módulos gamificados permitem que os funcionários aprendam novas habilidades de forma interativa e divertida, usando simulações, quizzes e desafios. Durante o processo de integração e onboarding, elementos de gamificação ajudam os novos funcionários a se familiarizarem com a cultura da empresa e seus novos colegas.

Já para engajar os funcionários em atividades internas, como programas de bem-estar e eventos, podem ser usados desafios, pontuações e recompensas. A colaboração entre equipes, por sua vez, é incentivada por plataformas gamificadas que promovem o compartilhamento de ideias. Além disso, sistemas de gamificação recompensam o desempenho excepcional dos colaboradores com pontos, distintivos virtuais, rankings ou prêmios tangíveis. “É através dessas aplicações que a gamificação transforma atividades cotidianas em experiências envolventes e significativas para os colaboradores”, afirma.

Experiências que engajam

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Mariana Pires, do BB

Mas, afinal, o que é gamificar? Para Mariana Pires Dias, diretora de Cultura e Pessoas do BB, “gamificar” significa proporcionar experiências estimulantes que despertem sentimentos como engajamento, senso de conquista e interesse. “E tudo isso acaba por fortalecer os valores e a cultura institucional da empresa”, pontua. Ou seja, tem mais a ver com o comportamento humano do que com o jogo propriamente dito.

Portanto, assim como em tudo que envolve pessoas, não existe uma fórmula mágica para a gamificação. Mariana define esse processo como uma jornada de aprendizado contínuo, tendo em vista que o framework é muito rico e extenso. A dica é focar no objetivo a ser alcançado e escolher as técnicas que melhor se adequam ao público interno para tornar as atividades diárias mais leves e interessantes. No BB, por exemplo, a comunicação interna aplica os princípios da gamificação em diversos contextos, como nos cursos da UniBB (Universidade Corporativa do Banco do Brasil), no programa de integração de funcionários (Game Tô On BB), em programas de reconhecimento e em ações de bem-estar do Programa Saúde Mental.

Além disso, a gamificação também facilita o reconhecimento e a integração dos colaboradores de forma transversal, promovendo um ambiente colaborativo e de confiança onde a diversidade, de ideias e pessoas, é valorizada. “Assim, cada funcionário pode reconhecer e ser reconhecido por qualquer colega, independentemente da função que ocupa”, explica a porta-voz do BB.

Competição saudável

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Ariane López, da Siemens

Naturalmente, as atividades se tornam mais envolventes quando se adiciona um toque de competição à rotina corporativa. É o que aponta Ariane López, head de Comunicação da Siemens Brasil. “Notamos que há uma promoção do ambiente colaborativo quando há desafios em equipe, teste ou troca de conhecimentos; enfim, uma competição saudável que fortalece o trabalho em equipe e estimula a comunicação entre os participantes”, observa.

O que a gamificação faz é colocar em jogo alguns incentivos que mantêm os colaboradores motivados, como sistemas de reconhecimento e recompensas. Enquanto se engajam nessa jornada, eles também são estimulados a desenvolver habilidades em busca do melhor resultado. Com as metas mais claras, as conquistas também passam a ser celebradas com maior entusiasmo, reforçando o comprometimento com os valores e objetivos da empresa. “A gamificação pode ser um impulsionador da produtividade porque trabalha com elementos de competição, recompensas e feedback imediato e isso pode atuar como um estímulo para ir em busca de melhores resultados”, complementa Ariane.

Jogando o jogo

Embora a experiência possa ser mais lúdica do que prática, os efeitos da gamificação na comunicação interna são bastante concretos. Segundo Ariane, a estratégia consiste em proporcionar experiências mais personalizadas e interativas aos colaboradores, incentivando-os a participar das narrativas internas. Na Siemens, por exemplo, eles usaram máquinas de bichinhos de pelúcia em uma campanha sobre segurança no trabalho para atrair o público. Porém, antes de tentar a sorte, os colaboradores precisavam acertar perguntas sobre comportamentos e atitudes que poderiam gerar riscos no trabalho. “Quem acertasse ganhava uma ficha e podia tentar a sorte para ganhar um bichinho. Foi um sucesso total.”

Segundo Ariane, situações como essa, voltadas à conscientização sobre temas específicos, ou que exigem a tomada de decisões em equipe são ótimos exemplos de como a gamificação pode fortalecer não só o alinhamento interno, mas a própria cultura organizacional. São experiências ricas que demonstram às pessoas como é possível incorporar os valores da empresa à rotina e adotar as melhores práticas de trabalho. “Com a gamificação, os colaboradores têm acesso a informações e conteúdos relacionados à história da empresa e seus valores fundamentais”, complementa a porta-voz da Siemens Brasil. Além disso, o feedback dos colaboradores em relação às pautas internas também se torna muito mais leve, facilitando o “ajuste fino” das estratégias de comunicação interna.

No entanto, mesmo que a competição seja divertida e recompensadora, tudo isso perde valor se o tema não for bem desenvolvido. Para atrair o público, é importante que a brincadeira seja clara e envolvente, com brindes e recompensas que complementem a experiência. Outro ponto levantado pela Comunicação da Siemens Brasil é a flexibilidade que as plataformas digitais proporcionam. Na correria do dia a dia, nem sempre há tempo na agenda para encontros presenciais. Por outro lado, as atividades gamificadas digitais podem se encaixar facilmente no tempo de cada colaborador. “Isso proporciona maior flexibilidade e conveniência para os colaboradores, aumentando a adesão e o engajamento”, complementa.

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Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

A gamificação na prática

Na Siemens, a gamificação é amplamente utilizada para fortalecer o aprendizado e a conscientização dos colaboradores sobre temas relevantes. Um exemplo disso é a plataforma online MyLearningWorld, que oferece treinamentos gamificados. O jogo “Everyday” mostra como as tecnologias da empresa melhoram a vida das pessoas, ajudando os participantes a criar um mundo mais sustentável com 12 conquistas e 3 níveis para desbloquear. Segundo Ariane López, essa abordagem torna os objetivos da empresa mais tangíveis e interativos, facilitando a integração com seus funcionários. Além disso, a Siemens promove o EduComÉtica, lançado em 2013 pelo time de Compliance, projeto que visa disseminar a cultura da ética e integridade, com foco nas gerações futuras. A iniciativa inclui palestras para atrair jovens ao tema e um jogo de perguntas e respostas destinado ao ensino fundamental.

Já no Banco do Brasil, outro exemplo de aplicação bem-sucedida da gamificação é o Game Tô On BB, uma plataforma educacional voltada para a integração dos funcionários. Cada elemento do jogo foi projetado para desenvolver as competências esperadas na fase inicial da carreira. Com recompensas e reforço de conteúdo, Mariana Pires conta que foi possível promover a progressão contínua dos jogadores, despertando o interesse pelas diversas áreas nas quais o BB atua. “A gamificação cria um ambiente intuitivo e desafiador, permitindo medições contínuas do aprendizado, onde o usuário aprende de forma leve e lúdica, sem necessariamente perceber”, complementa.

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Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

Da teoria à prática

Embora a gamificação seja um recurso valioso para a comunicação interna, sua implementação pode enfrentar alguns desafios. Segundo Alexandre Hampf, CEO da Clima Comunicação, dois fatores principais podem complicar esse processo: a falta de alinhamento com os objetivos da empresa e o desinteresse dos colaboradores. Erros comuns incluem não adaptar as estratégias aos diferentes perfis de colaboradores, ignorar a necessidade de feedback constante e criar sistemas de recompensas que não motivam. Por isso, ele considera fundamental garantir que as atividades sejam relevantes e significativas, bem como alinhadas aos objetivos organizacionais e culturais da empresa.

Na verdade, como bem explica Mariana Pires, do BB, a gamificação não se resume apenas a pontos, emblemas e rankings. Existem muitas técnicas no framework de gamificação, cada uma estimulando diferentes emoções. Por isso, é importante ter uma equipe de gamificação experiente e bem treinada, que saiba dosar o uso dessas técnicas. Nesse sentido, também é fundamental conhecer o público interno e suas motivações individuais, adequando a gamificação aos seus diferentes perfis. “No BB, os funcionários avaliam periodicamente os programas, sugerindo melhorias que são analisadas para aprimorar a experiência e a satisfação dos participantes”, conta Mariana, citando que dessa forma as dinâmicas são sempre revisadas.

Eficácia da gamificação

Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

No final do dia, as lideranças também desempenham um papel crucial na sustentação da gamificação na comunicação interna. São os líderes que incentivam a participação ativa dos colaboradores, demonstrando entusiasmo e engajamento pessoal, o que influencia positivamente a equipe. Eles também adaptam a gamificação às necessidades da equipe, personalizando desafios e recompensas para maximizar a motivação. “Eles devem fornecer feedback contínuo e construtivo, utilizando as ferramentas de gamificação para monitorar o progresso e reconhecer as conquistas dos colaboradores, explica Alexandre, da Clima.

Se, ao final desse processo, os colaboradores estiverem engajados e os indicadores-chave de desempenho (KPIs) forem positivos, tudo indica que a gamificação está funcionando. Para ter uma visão completa da eficácia dessa estratégia, o CEO da Clima Comunicação recomenda medir a taxa de participação, analisando quantos colaboradores estão engajados nas atividades gamificadas, e a frequência e intensidade dessa participação. Pesquisas de satisfação também ajudam a entender a percepção deles sobre essas iniciativas. Avaliar o desempenho e a produtividade também é crucial para identificar melhorias após a gamificação.

Vale ainda monitorar a colaboração, a taxa de conclusão de tarefas e coletar feedback qualitativo, como relatos e histórias de sucesso dos colaboradores. “Ao combinar essas métricas, é possível obter uma visão abrangente da eficácia da gamificação nas iniciativas de comunicação interna, permitindo ajustes e melhorias contínuas”, finaliza o CEO.


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