Saúde

Bom para os dois lados

de Caroline Marino em 17 de março de 2009
Antonio, da Metlife: vantajosa relação custo-benefício para a companhia, principalmente em momentos de crise

Pesquisa recente da Towers Watson sobre benefícios de assistência à saúde destacou o aumento da concessão dos planos odontológicos nos pacotes das organizações (84% em 2008 contra 81% em 2007). E a tendência do setor é continuar crescendo com taxas entre 15% e 20%, como mostram especialistas do setor. Isso porque há uma latente demanda de usuários por planos odontológicos, já que apenas 5,5% da população brasileira está vinculada a um convênio desse tipo. Para se ter uma ideia do potencial do segmento, a contratação de planos exclusivamente odontológicos dobrou nos últimos cinco anos: no final de 2003, havia 4,4 milhões de beneficiários; e em setembro de 2008, o número saltou para quase 10,5 milhões de pessoas, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Na visão da gerente-geral técnico-assistencial dos produtos da ANS, Martha Oliveira, esse aumento deve-se a uma série de fatores. Ela destaca em especial a demanda de usuários com necessidades odontológicas e as dificuldades de acesso aos serviços públicos, bem como a potencialidade de nichos de mercado a serem explorados em todas as regiões brasileiras, principalmente no Norte e Nordeste do país. Para ela, assim como aconteceu com os planos médicos, a odontologia tem se firmado entre os principais benefícios oferecidos aos trabalhadores por causa das vantagens que pode gerar aos negócios. “Do ponto de vista da gestão dos recursos humanos, destaca-se a redução do absenteísmo e o aumento da produtividade, além da melhora na qualidade de vida e nas condições gerais de saúde, com aumento da autoestima”, completa Martha.

Já o diretor de planos odontológicos da MetLife, Octavio Antonio Filho, destaca outro ponto. Ele acredita que a concessão de benefícios para os funcionários é uma vantajosa relação custo-benefício para a companhia, principalmente em momentos de crise, quando não é possível oferecer reajustes salariais significativos. Segundo ele, a concessão desse benefício não representa grande impacto nas despesas da empresa, pois tem um custo baixo (por volta de 12 reais por funcionário). “O plano odontológico coletivo custa 1/4 de um plano odontológico individual e constitui um produto ao qual o funcionário, muitas vezes, não teria acesso se não fosse pela empresa”, completa.

Para ele, os colaboradores têm se preocupado muito com aspectos de sua saúde bucal, até então deixados em segundo plano por conta da dificuldade de acesso ao sistema, principalmente em função da ideia de que o tratamento odontológico seria caro para seus padrões. “Aliado a isso está o fato de que os funcionários, hoje, têm mais acesso a informações sobre a necessidade de cuidar da saúde bucal como forma de prevenção de outras doenças, além da mudança de padrões estéticos da sociedade que têm influenciado nas prioridades das pessoas”, completa o diretor da Metlife, que ressalta que os planos odontológicos trazem uma relação de negociação inegável para a companhia.

Para o colaborador, continua Antonio, traz maior apelo para ações de melhoria de sua qualidade de vida e para as razões estéticas. “Já para o empregador, além da redução de custos com absenteísmo, o produto traz a possibilidade de fornecer uma completa atuação e preocupação com a saúde de seu grupo de colaboradores”, completa. Segundo ele, a empresa também pode receber e correlacionar informações globais sobre a saúde bucal de sua equipe e, assim, agir de maneira preventiva e determinar ações que podem gerar economias em seu plano médico.

Quem compartilha do mesmo pensamento é o diretor- presidente da PrimaVida, Kleber Bernardes da Silva. “Investir na saúde bucal dos colaboradores está diretamente ligado ao aumento de produtividade, pois melhora a qualidade de vida do funcionário e aumenta a autoestima”, completa. Mas para o investimento não se tornar uma dor de cabeça para a empresa, Silva ressalta que é fundamental desenvolver um plano ajustado às necessidades dos funcionários.

“Isso significa que a companhia, com o auxílio da área de recursos humanos, deve fazer uma avaliação para saber que necessidades são essas. Por exemplo, numa determinada corporação, pode-se oferecer um plano com uma cobertura que não inclua certos procedimentos odontológicos, estabelecendo uma taxa de coparticipação para os funcionários que tiverem interesse em realizar procedimentos adicionais”, explica o diretor-presidente. Segundo ele, é possível atender às principais demandas sem fazer com que todos tenham de arcar com os custos de procedimentos solicitados por uma minoria de funcionários. “Portanto, é imprescindível que a empresa avalie com certa regularidade como o benefício está sendo usado para determinar possíveis ajustes”, diz.

Por outro lado, o diretor-presidente da Uniodonto, Maud Nogueiras Fragoas, ressalta o fato de que muitas empresas ainda não concedem o benefício odontológico, pois o veem como uma despesa a mais – o que não é verdade. “Hoje, o benefício tem um custo baixo e, por isso, é uma saída inteligente”, afirma. Para ele, quando uma empresa compra um plano odontológico, não está preocupada apenas com redução de absenteísmo, mas, sim, com a qualidade de vida e em oferecer a vantagem de mais um benefício. Segundo ele, outro ponto importante é incentivar os colaboradores a utilizarem o plano da melhor forma e sempre (veja mais abaixo). “Engana-se quem pensa que o convênio não deseja que o colaborador utilize diversas vezes o benefício; ao contrário, é esse funcionário que desejamos que faça parte de nossa carteira de clientes, já que na odontologia a prevenção, além de ser indolor, é mais acessível”, completa.

Nesse aspecto, Martha, da ANS, conta que a agência tem estimulado as operadoras de planos privados de saúde a repensarem o processo de trabalho e a organização dos serviços com foco na produção da saúde. Segundo ela, essa perspectiva significa o comprometimento dos agentes envolvidos com o objetivo de alcançar uma transformação nas práticas atuais.

Nesse cenário, continua a gerente-geral da ANS, as empresas contratantes desse benefício desempenham um importante papel ao decidirem pela celebração do plano odontológico. Elas deverão verificar se a operadora oferece programas para a promoção da saúde e prevenção das doenças bucais de seus trabalhadores; se a atenção odontológica está adequada às necessidades de saúde dos trabalhadores; se a rede tem capacidade para absorção da demanda; quais os prazos de carência estipulados pela operadora e, acima de tudo, deverão orientar seus trabalhadores para que atuem como usuários com consciência sanitária, com capacidade de desempenhar seus deveres e exigir seus direitos.

Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), Carlos Roberto Squillaci, a expectativa é que o setor repita o feito de 2006, quando ultrapassou a marca de um milhão e meio de pessoas atendidas exclusivamente pela modalidade, em apenas um ano. Porém, alerta Squillaci, apesar do entusiasmo, a crise financeira mundial demanda cautela. “Caso não ocorram outros movimentos bruscos na economia e partindo da premissa de que as operadoras possam continuar a ofertar seus produtos sem estarem atadas a uma regulamentação que engesse e onere os produtos, espera-se que possamos manter, ao menos, a mesma taxa de crescimento de 2008”, adianta.

O diretor de finanças e administração da Inpao Dental, Claudio Aboud, concorda com Squillaci. “Acredito que essa procura acentuada seja resultado da conscientização do trabalhador e das empresas sobre a importância da saúde bucal”, afirma o diretor que conta que, para 2009, apesar das incertezas que rondam o mercado, a expectativa da empresa é animadora. “Calculamos que a nossa base de clientes deve aumentar em 24%, conquistando 7,5% de market share”, finaliza Aboud.

 

Benefício a mais

Veja a seguir seis vantagens (para a empresa e para os colaboradores) em ter o plano odontológico no pacote de benefícios:

1. Aumenta a satisfação dos colaboradores;
2. Previne problemas e doenças e reduz o absenteísmo, já que muitos funcionários faltam por causa de dor de dente;
3. Proporciona mais acesso aos tratamentos antes inacessíveis;
4. Melhora a percepção da saúde global dos funcionários;
5. Ajuda a reter talentos;
6. Melhora a qualidade de vida e a saúde do colaborador e gera um impacto positivo na produtividade.

 

Para usar (bem) o benefício

Algumas dicas para o bom uso do plano odontológico:

– Mantenha uma agenda de visitas e de controle de seus colaboradores;

– Crie um cronograma de utilização adequado as suas necessidades;

– Solicite à operadora relatórios periódicos de utilização e planeje estratégias curativas e preventivas;

– Analise as informações fornecidas pelas operadoras sobre a utilização do plano. Isso ajuda a prever eventuais ações que podem gerar melhor utilização de recursos da empresa (agir antes de o fato acontecer).

 

Prevenir para não perder

Cuidar da saúde bucal dos colaboradores ajuda a reduzir afastamentos e a evitar possíveis doenças

A preocupação com a saúde bucal dos colaboradores não é à toa. Uma simples cárie pode ocasionar outras enfermidades, como artrite, nefrite, gastrite e até problemas no coração, gerados pelo fato de a infecção dentária levar bactérias pela corrente sanguínea, como explica o cirurgião-dentista e presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Norberto Lubiana.

De acordo com ele, a boca está integrada com todo o organismo e o mesmo sangue que circula no corpo passa pelos vasos sanguíneos em torno dos dentes e das suas estruturas de suporte: “Se temos bactérias que causam doenças das gengivas e progridem destruindo as estruturas de suporte dos dentes, elas podem cair na corrente sanguínea e se alojar em outras partes do corpo, como no coração, causando, por exemplo, a endocardite infecciosa”.

Segundo a consultora em Estomatologia da ABO e doutora pela Universidade Federal da Paraíba, Maria Carméli Sampaio, as principais enfermidades bucais ainda são cárie e doença periodontal. Porém, atualmente, doenças que raramente se manifestavam na cavidade bucal podem levar à morte, a mutilações ou a outras sequelas. “A cavidade bucal é sede de várias doenças, inclusive de manifestações de doenças sistêmicas, mas muitos desses males podem ser evitados com a ida regular ao dentista”, ressalta.

Além disso, algumas doenças podem ser detectadas pela boca. Maria explica que nas doenças dermatológicas há algumas manifestações na região, como o líquen plano, que antes de aparecer na pele está presente na boca. “Em pacientes portadores de diabetes, por exemplo, podem ocorrer doenças periodontais (gengiva e osso) e o paciente pode vir a perder os dentes. Nas pessoas com Aids, a candidíase (popular sapinho), aparece primeiro na boca e pode levar a infecções como esofagite, chegar ao sistema respiratório e provocar danos graves.” Mas não para por aí. A lista de problemas que podem surgir pela falta de cuidados com a saúde bucal é longa. Entre eles está o câncer bucal, que quando não diagnosticado precocemente pode levar o paciente ao óbito. Os fatores de risco desse tipo de câncer são fumo, idade superior a 40 anos, consumo de álcool, má higiene bucal e uso de próteses dentárias mal-ajustadas.

Lubiana recomenda que, além de higienização correta e da ida regular ao dentista, é importante manter uma alimentação saudável, sem o consumo excessivo de açúcar, pois as bactérias que aderem às superfícies dos dentes transformam o açúcar, gerando a produção de ácidos que dissolvem as estruturas dos dentes, gerando as cavidades.

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