Gestão

Ciência e arte

de Marcos Nascimento* em 21 de junho de 2010

Um de meus clientes teve uma demanda que chamamos de “alinhamento do top team”. Muitos caem na armadilha de julgar que isso – alinhar o top team – se resolve com um workshop. Ao contrário: isso requer muito esforço no diagnóstico (entrevistas, focus groups, análise de dados e processos) que pode levar semanas até que se tenha robustez analítica para chegar a algumas causas do possível desalinhamento dos líderes. Só depois disso é que começa o trabalho, com um workshop – o primeiro passo para que um “grupo de boa vontade” comece a se transformar em uma equipe.

Ao explicar toda essa dinâmica a um colega, ouvi dele que “isso requereria muita arte para ter efetividade”. Respondi que isso requeria muita ciência, das exatas às filosóficas! Começamos um embate interessante até que dei a definição de “cientista” que estava por detrás de minha argumentação: é o artista com método. Fim da discussão, mudamos de assunto e fomos falar mal do Dunga.

Quando me deparo com o desafio que o RH tem enfrentado na última década, vejo que o perfil desse profissional que tem conseguido sucesso é justamente o do cientista. Não aquele cartesiano, em que tudo é exato e se explica pela matemática. Mas o que mencionei: o artista estruturado, com método, com capacidade de replicar o que cria; ou seja, uma simbiose fantástica entre emoção e razão. É aquele que consegue ser pragmático ao tocar temas aparentemente intangíveis e até poéticos como cultura e valores, demonstrando, com consistência, o impacto que a tratativa do componente humano traz para o resultado da empresa.

Uma das questões mais intrigantes para o RH atual – e que é, ao mesmo tempo filosófica e terrivelmente visível – é a globalização e o seu papel como gestor nessa nova era. Para entender e agregar valor nesse novo tempo, ele deve tomar como verdade o conceito de cientista acima. Ele não pode perder a percepção dos sentimentos – individuais e coletivos – que orbitam o mundo organizacional, e também não pode deixar de demonstrar que, ao cuidar disso, está ajudando no resultado da organização. Isso requer os três Cs da boa gestão: competência, coragem e conveniência – como diz um velho e bom amigo chamado Pedro Mandelli.

Na questão da competência, estão arte e ciência conjugadas de forma perfeita. Sendo mais pragmático, neste mundo globalizado, falamos em filosofia, sociologia, psicologia, idiomas, matemática financeira, estratégia, ter capacidade para coordenar suas viagens e as necessidades do cônjuge e filhos, cuidar do corpo, da alma e do espírito (sem fanatismo).

Na coragem, há muito de atitude, a forma pela qual enfrentamos as situações. Saber dizer sim, aceitar dizer não e, principalmente, “não sei”. No que tange a conveniência está maturidade, sagacidade e astúcia, pois algumas vezes mesmo que tenhamos a competência e a coragem, não é conveniente que façamos. Saber analisar isso é chave para o RH, pois nosso mundo corporativo não tem mais fronteiras. E isso é ter uma visão global de mundo, seja você um gestor de RH no interior do Tocantins ou um VP mundial de RH em Genebra.

  *Marcos Nascimento é consultor organizacional da McKinsey e educador

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