Gestão

A profecia

de Eugenio Mussak em 10 de fevereiro de 2014
Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor

O diretor abriu a reunião de final de ano com o semblante fechado, e começou dizendo a seus executivos: “Conforme nossas previsões, estamos terminando este ano no vermelho”. Como ninguém gosta de ouvir tal notícia, seguiram-se as explicações de praxe, como a crise internacional, a retração do mercado etc. Para atenuar a gravidade do momento, nada como identificar as causas, de preferência as que estão da porta para fora. 

Ao mesmo tempo, na concorrência, o diretor dirigia-se à sua equipe dizendo: “Conforme as previsões que fizemos, estamos terminando este ano difícil com resultados excepcionais”. Então, mostrou um gráfico com o crescimento e, como bom líder, creditou o sucesso a todo o grupo, que comemorou com entusiasmo. Em seguida passou a discorrer sobre as medidas que haviam sido adotadas, como o incentivo à inovação, os investimentos em capacitação e as medidas de redução de custos.

Aparentemente, essas duas cenas são totalmente opostas, mas elas têm um fato em comum: ambos os diretores começaram a reunião anunciando a confirmação de uma previsão. O estranho é que as duas previsões eram opostas, e, mesmo assim, ambas se concretizaram. Há explicação para tal acontecimento?
Sim, há estudos sobre esse fenômeno. O professor de comportamento organizacional em Harvard, Robert Merton, é o autor da expressão self-fulfilling prophecy – ou profecia autorrealizável –, que explica a influência que uma visão do futuro tem sobre os acontecimentos que esse mesmo futuro trará. Em outras palavras, quando imaginamos – e desejamos, ou tememos – um acontecimento futuro, nos organizamos, muitas vezes de forma inconsciente, para que ele se torne realidade.

Previsões podem e devem ser feitas. Executivos preparados conseguem imaginar o futuro, tomando por base os acontecimentos passados, que mostram as tendências. A essa prática costuma-se dar o nome em inglês de forecast – previsões baseadas em dados. Os mais experientes também valem-se de suas impressões pessoais, percepções sutis dos acontecimentos, coisas que não podem ser demonstradas nem provadas. A essas intuições dos mais vividos chamamos de foresight – previsões baseadas em sentimentos.
#L# Mas algum sábio já disse que a melhor maneira de prever o futuro é construí-lo, e, para isso, muito senso de realidade, muito pensamento estratégico e muita atitude mental, capaz de gerar movimento e de contaminar pessoas. Quem faz isso com cuidado promove um encontro entre o aprendizado e o planejamento, o que dá uma dupla de área imbatível, quando bem alinhada. Nossas empresas e nossas carreiras agradecem quando agimos assim.

Só não podemos esquecer de tomar muito cuidado com nossas profecias pessoais, pois elas têm o estranho hábito de se concretizar. Assim, no final, sempre será possível dizer que tínhamos razão…
 

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