Edição do mês

Mundo do trabalho no metaverso

Como aplicações nesse tipo de plataforma vêm otimizando processos de recrutamento, seleção e o trabalho remoto

de Jussara Goyano em 20 de outubro de 2022
Metaverso Freepik.com

Realidade aumentada e inteligência artificial, ferramentas já utilizadas para treinamentos gamificados e people analytics, por exemplo, são, juntas, os trunfos do metaverso, denominação para ambientes virtuais imersivos, que funcionam em rede e são totalmente interativos. O recrutamento e a seleção de talentos já se utilizam de seus recursos, não tão desconhecidos do RH, como se pôde perceber, com vantagens que vão do alcance ampliado aos candidatos à precisão dos dados e resultados obtidos no processo. As rotinas virtuais de trabalho também se beneficiam: a gestão de pessoas fica centralizada em um escritório on-line, organizada mesmo a distância, com a cara do time e da empresa, e com espaço para descompressão e lazer.

Gil Giardelli, especialista em inovação e economia digital, Membro da World Federation Future Studies e apresentador do programa O imponderável, aos sábados, na TV Record, é um entusiasta do metaverso. Ele destaca o seu impacto para o setor corporativo como um todo, citando desde as possibilidades amplificadas de networking até as novas dinâmicas possíveis para os eventos das empresas, passando, em algum momento, pelo RH, sob a facilidade de gerar um sem-número de informações que podem ser aproveitadas pelas companhias: sobre a experiência realizada em si no ambiente virtual, sobre seus participantes, sobre melhorias a serem realizadas no uso da própria ferramenta. 

Para Gil Giardelli, da World Federation Future Studies, o Brasil ainda está atrasado nessa tecnologia (Divulgação/WFFS)


Para ele, contudo, o Brasil está muito atrasado na utilização dessa tecnologia. “É só um pedaço, em se tratando de um negócio gigantesco que é a web 3.0”. O especialista se refere a um modelo de web com distribuição descentralizada e sem censura de conteúdo, com muito mais inteligência artificial, que estaria ganhando força mundo afora. O metaverso talvez fosse uma preparação para essa novidade, que impactará ainda mais as organizações.

Entre aqueles que já se valem da ferramenta no país, o foco, porém, é nos avanços. Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios, uma das principais empresas brasileiras de recrutamento e seleção, conta que a empresa iniciou em outubro de 2021 seus estudos sobre o tema. “Já em março de 2022 iniciamos os primeiros processos de seleção no ambiente virtual”, conta o executivo. “Tanto os candidatos como as empresas nos deram feedbacks muito positivos das vivências que tiveram”.

Dentre os clientes que compraram a ideia, “Alcoa e Scania escolheram algumas vagas de estágio de diferentes áreas para essa primeira experiência”, relata Mavichian. “Criamos um guia para preparar os candidatos, treinamos os recrutadores e também fornecemos os óculos de realidade virtual para a experiência ser completa”.

Tiago Mavichian, da Cia. de Estágios: a empresa iniciou em outubro de 2021 seus estudos sobre o tema
(Divulgação/Cia. de Estágios)


Em termos práticos, o que as empresas analisam no metaverso, é similar ao que analisam em etapas presenciais: as habilidades comportamentais dos candidatos. Acrescente-se aí, no entanto, um sem-número de possibilidades que podem facilitar essa análise: “Já imaginou fazer um processo seletivo dentro de uma planta industrial da sua empresa? Logo depois mover os candidatos para o escritório corporativo? Tudo isso acontece de forma ultrarrealista e só é possível no metaverso”, analisa Mavichian.

Avaliações acuradas, processos lúdicos

“Os participantes se divertem criando seus avatares personalizados com características físicas, que mostram seu estilo profissional e de temperamento. É possível customizar corpo, formato do rosto, cor da pele, olhos, nariz, boca, sobrancelha, comprimento e cor do cabelo, roupas e acessórios (como brincos e piercing)”, explica o executivo, sobre o que diz muito sobre o candidato, sua identidade, nível de extroversão e outras características reveladoras.

“É muito interessante observar os candidatos no metaverso. Mesmo através de avatares, conseguimos perceber quando estão nervosos pelo tom de voz e também pelas expressões do rosto no avatar”, revela Mavichian. O ambiente ajuda a quebrar aquele clima de pressão comum do corporativo, pois “a sensação é de estar literalmente em outro lugar ou em um jogo, onde as pessoas rapidamente se abrem para explorar e aprender”.

A ideia de realizar os processos no metaverso garante uma experiência única através de uma imersão colaborativa em que um candidato interage com outros candidatos em tempo real, entende o executivo. Isso além de integrar melhor os mais novos, da Geração Z, com o uso do universo digital em que ela já nasceu inserida. “A experiência de realizar processos seletivos no metaverso é diferente de tudo que fazíamos antes. Apesar de ser diferente, os candidatos conseguem, após um rápido treinamento, adaptar-se rapidamente”, finaliza Mavichian.

Escritório e descontração

A organização de toda uma corporação no metaverso leva tempo e investimentos, diz Renato Trindade, da Huntly
(Divulgação/Hutly)

Já Renato Trindade, CEO e fundador da Huntly, marketplace de recrutadores, destaca as vantagens do uso do metaverso como ambiente virtual de trabalho. Para o executivo, o caminho, após a pandemia, está apontando para a centralização das operações no virtual. O desafio seria integrar todo esse ecossistema digital em um único lugar “e a organização de toda uma corporação no metaverso leva tempo e investimentos”, pondera o CEO. Contudo, “da primeira entrevista, até a jornada final do colaborador na empresa, tudo poderá e deverá ser feito de uma forma simples, rápida e próxima e, o único caminho viável no mundo atual será no ambiente virtual”.


“Os mesmos ambientes presenciais podem ser recriados no metaverso. Desde escritórios inteiros, com divisões por times, salas de reuniões, espaço de convivência e até sala de descompressão”, explica Trindade. Ele se baseia na Huntly, que tem uma atuação híbrida com as equipes, que estão espalhadas pelo Brasil. “Mesmo com escritório físico, todo time está logado no metaverso diariamente, [e, por meio dele,] toda nossa rotina funciona com a proximidade do presencial”, conta o executivo. 

“O caminho, após a pandemia, está apontando para a centralização das operações no virtual”


Além do escritório físico, a empresa possui um escritório no metaverso, com salas de reuniões, quadros interativos, áreas de isolamento para concentração, espaço de convivência, Pet, e uma pista de Kart, onde são realizadas corridas após a reunião de fechamento da semana, que acontece em volta da fogueira na cobertura do escritório virtual.

No encontro presencial, a prova dos 9

Maior engajamento com empresa, propósito, valores, desafios e resultados — esse é o saldo que Trindade contabiliza da atuação em metaverso. “A convivência diária, mesmo a quilômetros de distância, envolve o time, facilita a comunicação rápida e assertiva, todos conseguem fazer e se sentir parte da empresa, entender a importância de cada um na criação da cultura e dos resultados”, avalia o executivo. “Otimizamos as trocas em todos os níveis da empresa, com acesso fácil a qualquer integrante do time, oportunidade de participar e conhecer atividades dos outros times de uma forma rápida e prática”.

A ferramenta além de substituta do escritório físico nas jornadas remotas, acabou sendo também um meio facilitador do contato presencial. “Recentemente, todo nosso time se encontrou presencialmente. A sinergia já estava criada, as trocas, o papo, as risadas, objetivos comuns, estavam juntos há mais de seis meses e o que realmente faltava era um abraço”.

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