Comunicação interna

Engajamento com propósito: decifrando a linguagem da comunicação com a geração Z

Diálogo com profissionais mais jovens precisa transbordar autenticidade e convergência de propósitos, com valores que os inspirem a vestir a camisa

de Priscila Perez em 11 de agosto de 2023
Comunicação com a geração Z Foto: Reprodução/rawpixel.com/Freepik

Uma geração nascida no ambiente digital, imediatista, questionadora e que tem acesso rápido à informação pode, à primeira vista, parecer intimidadora aos olhos dos recrutadores. Mas para as empresas que buscam diariamente dialogar e compreender seus colaboradores, a comunicação com a geração Z pode transformá-las em ambientes mais vibrantes e inovadores. Que fique claro: não existe uma fórmula mágica para isso. O desafio é engajar essa juventude com valores que a inspirem genuinamente. Nesse sentido, criar um terreno fértil para a convergência de propósitos torna-se crucial, uma vez que os jovens nascidos entre 1995 e 2010 valorizam a autenticidade das ações e refutam tentativas superficiais de engajamento.

Carolina Mazziero da Compra Agora
Carolina Mazziero da Compra Agora

A comunicação com a geração Z

Carolina Mazziero, head de RH LATAM da Compra Agora, startup que nasceu dentro da Unilever e hoje conecta mais de 50 empresas, entre lojistas, indústrias e distribuidores, enxerga oportunidade nessa interação da comunicação com a Geração Z. Criar narrativas autênticas e impactantes é um exercício que humaniza a comunicação interna e, se bem praticado, tem o poder de inspirar o jovem colaborador. “O primeiro passo é entender que cada colaborador é um indivíduo com suas necessidades e propósito. Conhecer o perfil de cada um é chave para uma vivência que agregue valor para ambos os lados”, reflete a executiva.

Quando a organização tem clareza do que a move, a comunicação interna atua como facilitadora dessas interações intergeracionais, reforçando os valores e propósitos a cada informação compartilhada. “É falar sobre como o trabalho deles transforma a vida das pessoas, o real impacto para o negócio e para a sociedade. Tornar o propósito tangível e relevante aumenta o senso de significado”, pontua Carolina. Onde a cultura não é só falada, mas vivida, as boas histórias propagadas nos vários canais de comunicação interna viram exemplos valiosos de como a empresa faz a diferença na vida das pessoas.

A comunicação com a geração Z exige propósito
Foto: Reprodução/Freepík

Discurso ou realidade?

Trabalhar com a geração Z exige mais profundidade na relação com o colaborador, e a comunicação interna tem papel fundamental nessa jornada. Ao fomentar a cultura, a comunicação precisa ocorrer no tempo certo, ter o conteúdo necessário e chegar a quem precisa. Do contrário, o propósito não fica explícito, e o interlocutor perde o interesse. Paula Silvino, gerente global de Planejamento, Experiências e Comunicação Interna da Vale, mineradora multinacional brasileira com mais de seis mil jovens entre seus 200 mil funcionários, destaca os esforços necessários para construir uma comunicação positiva com a geração Z. “Um dos desafios é adequar o formato, o canal e a linguagem das mensagens de forma que os valores da empresa e os projetos que estão alinhados com a visão de mundo desta geração se tornem cada vez mais conhecidos por esses jovens”, reflete a gerente.

Paula Silvino da Vale

A criação de espaços de diálogo mais informais, como as redes sociais internas, e a publicação de conteúdos que gerem conexões emocionais também ajuda a aprofundar o envolvimento dos jovens na cultura organizacional. Um dos caminhos para o engajamento é estimular que eles próprios produzam esse conteúdo. “Apostar em canais que dão protagonismo aos colaboradores é fundamental para nossa transformação e é algo que está conectado ao nosso comportamento em nossa vida pessoal”, aponta a gerente global da Vale.

Segundo ela, a rede social possibilita, por exemplo, que os colaboradores falem diretamente com o presidente, evidenciando a lateralidade nas relações – um atributo muito valorizado pela geração Z -, e atuem como influenciadores internos. A comunicação não é mais a única fonte de conteúdo, mas tem o papel fundamental de fazer a curadoria. “A comunicação se dá cada vez mais por meio das pessoas, nossos colaboradores são cocriadores. Eles ajudam a fazer as informações chegarem aos demais colegas e também podem ajudar a disseminar a pauta positiva da Vale fora da empresa”, reflete Paula.

Linguagem digital

A linguagem dos memes e emojis
Foto: Reprodução/Freepik

A familiaridade com a tecnologia é outro atributo que joga a favor da juventude. São profissionais que nasceram em um mundo já muito digital e, por isso, fazem dela uma poderosa aliada no dia a dia. Devido a essa imersão desde cedo, eles absorvem com facilidade as tendências que movimentam as plataformas digitais e se comunicam fluentemente por meio delas. Sendo assim, não dá para se comunicar com a geração Z sem incorporar a linguagem dos memes e emojis.

Por ser uma empresa de tecnologia, a startup Compra Agora valoriza a “perspectiva fresca” e as “ideias inovadoras” trazidas por seus colaboradores mais jovens, que representam 50% do quadro de funcionários. Com tanta gente no auge de seus vinte e poucos anos, o time de comunicação interna adotou uma linguagem mais autêntica e conectada à realidade deles, sem deixar de reforçar a cultura. Como bem diz Carolina Mazziero, head de RH LATAM da empresa, os famosos memes proporcionam mais informalidade e leveza à comunicação, mas é preciso usá-los com responsabilidade. “Memes são uma nova forma de se expressar, de se comunicar e de se conectar com o outro. Além de um conteúdo mais relevante e atrativo, geram uma integração maior no engajamento do público nos canais internos”, resume. Um exemplo disso é a transformação de falas internas, ligadas a momentos relevantes, em memes.

Ao incorporá-los à comunicação com o colaborador, a companhia abriu espaço para novos tipos de interações e experimentações. “Esse novo formato nos fez sair de uma zona de conforto para uma zona de teste e aprendizado, do que funciona e o que não funciona à medida que o público começa responder.”

O que importa para a geração Z?

Os jovens profissionais da geração Z também estão muito antenados às principais pautas globais e, por consequência, esperam que as empresas se posicionem sobre elas. Diversidade, sustentabilidade, equidade e inclusão são temas cada vez mais presentes na comunicação com colaboradores e agora com o estímulo de serem essenciais para atrair esses novos talentos. A Vale é um exemplo de como a comunicação interna pode contribuir para fortalecer, aos olhos dos colaboradores, o compromisso que a empresa tem com a sociedade.

A gerente global de Planejamento, Experiências e Comunicação Interna da companhia conta que esses temas fazem parte da cultura e do próprio propósito da empresa. “Nós tentamos sempre mostrar ao público interno tudo o que a Vale está fazendo nas comunidades, pelo meio ambiente e também promovemos diálogos sobre diversidade”, revela. Eventos como a Celebração Vale do Orgulho LGBTQI+ e um concurso de fotografias inspirado no Dia Mundial do Meio Ambiente exemplificam muito bem como temas relevantes podem mobilizar e engajar os funcionários, principalmente os mais jovens. “Os colaboradores compartilham organicamente em suas redes, pois são conteúdos que inspiram, provocam reflexões importantes e têm muito a ver com a vida deles”, crava a executiva.

Ricardo Pina da Vale
Ricardo Pina da Vale

Requisitos mínimos da comunicação

Para construir conexões mais significativas, é preciso entender quem são seus colaboradores. Segundo Ricardo Pina, gerente de Aquisição de Talentos da Vale, por serem jovens mais questionadores, cobram que a empresa coloque em prática o que comunica e valorizam oportunidades de desenvolvimento interno. Não por acaso trabalhar com a juventude demanda adaptações na gestão de talentos de qualquer empresa.

Na definição de Patrícia Suzuki, diretora de Gente & Gestão da Catho, plataforma de recrutamento online, esses nativos digitais representam uma população altamente engajada, que contribui com ideias inovadoras, bastante propositiva na automação de processos e sedenta por conhecimento. São atributos positivos, mas que por si só podem não ser suficientes para organizações pouco flexíveis em seu ambiente corporativo. “A flexibilidade no modelo de trabalho é um ponto que impacta a geração Z, que pode ser visto como um fator crítico de atração e retenção deste público para algumas empresas”, adverte.

Na Vale, por exemplo, quando esses jovens atuam em projetos de descarbonização ou ligados a temáticas de Diversidade, Equidade e Inclusão, o sentimento é de que estão impactando positivamente a sociedade. Ricardo Pina também cita como fundamental ter programas e trilhas de desenvolvimento contínuo, além de lideranças engajadas e alinhadas com a cultura de feedback. “Assim os líderes estão sempre preparados para suportar e sustentar o desenvolvimento dessas pessoas”, complementa o gerente de Aquisição de Talentos da Vale.

Patricia Suzuki da Catho
Patricia Suzuki da Catho

O papel da liderança faz toda a diferença na comunicação com a geração Z. Para a diretora da Catho, Patricia Suzuki, líderes engajados e comprometidos com o sucesso das pessoas têm a capacidade de estabelecer diálogos mais acolhedores. Isso envolve proximidade com o colaborador e uma compreensão exata da cultura organizacional. “O gestor no nível mais próximo é quem representa a organização, compreendendo a melhor forma de gestão destes talentos para promover a mobilização e engajamento dos profissionais. A cultura é fator preponderante para que os profissionais percebam-se contribuindo com a organização e se desenvolvendo com ela”, pontua.

Engaja-me se for capaz

Para Rodrigo Dib, superintendente institucional do CIEE, organização sem fins lucrativos dedicada à inclusão de jovens no mundo do trabalho, existe um aspecto positivo nesse cenário desafiador: quando engajada, a geração Z “veste a camisa” de forma genuína. Contudo, caso o jovem colaborador não se sinta conectado aos valores da empresa, certamente ele buscará essa sinergia em outro endereço. “Eles aceitam ou declinam uma oferta com base na conexão com o lugar, de quem são e o que defendem”, resume.

Rodrigo Dib do CIEE
Rodrigo Dib do CIEE

Dib ressalta que o engajamento raramente acontece se ele não perceber que a atividade realizada também possui relevância pessoal. “Só o dinheiro não é suficiente para gerar uma conexão real. Diferentemente do que falam, é sim uma geração que busca salário e pensa em primeiro lugar no recurso, entretanto, não é isso que a faz ficar em uma empresa”, complementa o superintendente institucional do CIEE. E nesse contexto, vale o adendo: uma comunicação com a geração Z “ruidosa” enfraquece a cultura, tornando a empresa menos atrativa e estimulante aos olhos desses jovens colaboradores.

Uma questão de cultura e escolha

No mercado de trabalho, a idade sempre influenciou nas contratações: ou se era velho demais para desempenhar determinada função, ou jovem demais e sem experiência. Mas hoje não é só a empresa que escolhe o colaborador. Na busca por oportunidades estimulantes, os jovens da geração Z dão prioridade a empresas que se conectem ao seus valores pessoais e respeitem seu modo de ser. É o que aponta Danilca Galdini, sócia da Cia de Talentos e diretora da área de Insights. “As pessoas também decidem onde querem trabalhar, qual a cultura mais aderente ao que ela busca, acessam notícias que saem na mídia sobre a empresa, vão atrás de informações sobre a marca empregadora etc. E não fazendo sentido para o que acreditam, buscam novas oportunidades”, crava a sócia da Cia de Talentos, plataforma que reúne vagas de estágio, trainee e dicas de carreira.

Danilca Galdin da Cia de Talentos
Danilca Galdini da Cia de Talentos. Foto: Marcos Mesquita

Não à toa, essa é uma relação que demanda um processo contínuo de amadurecimento. Conforme ressalta Danilca, as adaptações precisam vir de ambas as partes: a empresa deve compreender o que as pessoas valorizam, enquanto os jovens colaboradores precisam assimilar a cultura de cada organização. Sem essa colaboração não há crescimento ou aperfeiçoamento – ainda mais quando pensamos em comunicação. “É preciso valorizar a pluralidade de ideias, ter empatia para se colocar no lugar da outra pessoa, para entender o ponto de vista dela, se dispor a ouvir e aprender independentemente de quantos anos de experiência a outra pessoa tem”.

Inteligência emocional e personalidade dos jovens

Se nas redes sociais a geração Z é altamente comunicativa, isso nem sempre é verdade nas relações presenciais. O superintendente institucional do CIEE, Rodrigo Dib, sinaliza que é preciso investir em inteligência emocional para ajudar esses jovens profissionais a lidar melhor com as interações pessoais e entre gerações. Segundo ele, por apresentarem um perfil mais imediatista, normalmente não têm paciência com os colegas mais velhos, sobretudo quando precisam de ajuda com algum novo recurso de informática. “O conflito existe porque dentro da empresa existem perfis e gerações com pensamentos e características diferentes. Estes jovens, às vezes, representam sérios problemas no mundo do trabalho, quando são exigidas habilidades para se trabalhar em equipe”, reflete o superintendente. O mundo do trabalho, a seu ver, ainda não está plenamente preparado para lidar com esta “salada de gerações”.

Comunicação com a Geração Z
Foto: Reprodução/Freepik

No entanto, mesmo diante desses desafios, a comunicação com os colaboradores pode desembaraçar alguns nós e tornar essa interação mais fluida. Afinal, se a mensagem é clara e acessível para todos, a probabilidade de mal-entendidos diminui significativamente. Além disso, personalizar a comunicação, como aponta Carolina Mazziero, do Compra Agora, também pode aumentar a relevância e o impacto da informação. “Acredito que a forma de se comunicar tem de refletir a essência e a cultura da organização, ser o espelho de como as coisas são feitas no dia a dia, abraçando os diferentes perfis existentes”, conclui.

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